terça-feira, 27 de outubro de 2009

Legião aerostática - um oxímoro eólico




É deveras estranho pensar como a internet cresceu; e com ela a interação virtual, o ambiente de relações PC-PC e a redução do contato humano. Hoje, em uma das raras vezes em que liguei a televisão, me deparei com uma reportagem. A polícia está a ponto de desbancar mais uma dessas redes de pedofilia, em questão estava as lan-houses e a facilidade com que essas pessoas tinham acesso para divulgar o material e procurar vítimas através de perfis falsos criados em sites de relacionamento. Saindo do mérito da crueldade e condenação dessa prática horrenda, gostaria de abordar uma questão delicada e que cada dia mais impregna a mente e as relações dos usuários da web.

Você é o seu avatar?

Meço todas as possibilidades de descobertas acerca do que se é. Soma-se meio metro de não-saberes e uma música: "acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto". Minhas opções de cliques podem me definir, caros. Ou não? A constituição fragmentada dos meus olhos devem me definir, por certo. Sou o que vejo e aquilo que o que vejo faz brotar em mim? Sou as perguntas que faço. Reconhece-se a existência de incompreensões formais, porque o mais evidente parece ser o fato de que não se é, nem nunca se será estrutural. O conteúdo de um texto é substituível. Não que nós sejamos títeres, no entanto, é possível que façamos parte de um sistema predestinado. E dialético, claro: o livre-arbítrio também dará o ar de sua graça.


A impossibilidade da definição estrutural do indivíduo culminará num impasse lógico, como um ser fragmentado pode constituir um eu-virtual sólido? A premissa será sempre de um indivíduo frente a uma máquina, indivíduo de cacos. A possibilidade da realização dos anseios lógicos da mente; “O que gostaria de ser”, “O que poderia ser/ter sido”, etc. Como responder ao “Quem sou eu:” sem realmente saber? Recorre-se às outras perguntas, tentamos nos mostrar ou nos esconder através de signos, musicais, audiovisuais, literários, grupos e imagens. Mas tudo isso nos representará realmente? Como ser um ser fragmentado dentro de algo que impõe uma sólida estrutura?

Bom, o fato é que não canto mais porque o instante existe. Meu instante é triste (e minha rima pobre). Não trago mais balões.
Na tentativa de ser melhor, e de menos poeta observador ser, troquei as falas, os atos, os gestos. Dancei no ritmo do descompasso, daqueles sem verve e sem introspecção. Fiz dele meu lenitivo.

Eu tive um encontro com o corvo, juro que tive, mas fui eu quem lhe disse: Nunca mais. Espero que esta seja a minha última agonia, porque a mesa é farta, porém podres são os manjares. Lembro que disse que desejava sorrir também, eu só não sei, realmente, se esta alegria me fará versejar. Se a vergonha tivesse um rosto, ela se pareceria comigo hoje.

E exclamei: “Era outubro, decerto, e era esta mesma, há um ano, a noite fria em que vim, a chorar, aqui perto, fardo horrível trazendo, aqui perto”.

Quem precisa de subterfúgios? Todos aqueles nos quais uma veia pulsa.
Quem precisa de balões? Todos aqueles nos quais...
Não.

Sim.
E a antitética questão perdurará. São somente mais argumentos pontiagudos ameaçando. Sou a criancinha com o balão vermelho, desejando o amarelo e enxergando azul. Somente mais uma palavra de não-afeto poderá afetar. E quem sabe, dirá muito mais de mim mesmo. Quem sabe o leitor poderá me dizer quais balões já “encheu”? Quais destes estouraram, quais foram levados pelo vento... leitor?

Vamos ao encontro da realidade, os balões compunham um todo colorido; então por que todos escolheram a mesma cor? Tentamos estar sempre com a mesma cor que o amiguinho do lado? Balões não são só balões.... balões nem poderiam ser balões; não estes balões. Pois estes estão cheios, cheios de...











"Gostaríamos de agradecer a todos os queridos leitores que contribuíram para a que marca de 2000 visitas fosse alcançada. O blog começou com 3~5 visitas por semana, e foi aumentando aos poucos, com o carinho de todos por que aqui passam, comentando ou não, com pressa, relaxados, felizes, tristes.. Fica então, o nosso registro; Fosse 1 leitor, fossem mil, todos seriam importantes e seriam tratados com o mesmo carinho que a nós dedicam. Grandes abraços."

Kamila C. Almeida
Rubens Rozsa Neto
(Sim, fomos os dois que escrevemos, escolhemos os vídeos e imagens)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Pílula Anti-misantrópica


Se há uma grande mentira é dizer que o ser humano é bicho sociável, que não vive sozinho, precisa de outros seres humanos para viver. Só se a necessidade principal for sentir-se o centro do universo.


Leitor, você tem características antropofóbicas? Quero dizer, tem alguma aversão a seres humanos ou a humanidade em geral? Acho complicado responder a esta pergunta, simplesmente porque temos aversão de tudo e todos até que nos conquistem, provem seu valor, não? Não. Muito afetados leitores dirão que ninguém é culpado até que se prove o contrário. Besteira. Todos sabem que, no fundo, é óbvio que desconfiaremos sempre do mordomo com o castiçal na biblioteca. Não digo que somos paranóicos, leitor, nós somos, todos somos, sem exceção. Desde a desconfiança da criatura que pergunta no meio da rua “Que horas são agora?” até a atendente novata da loja, que errou dois reais do seu troco (“tá me passando a perna, safada").

É, leitor, somos doidinhos, ou não? Só são doidos aqueles que estão internados nas clínicas psiquiátricas (no português “bem dizido” manicômios ou hospícios)? . Leitor, leitor, Ah! Leitor; pudera eu dizer as loucuras que cometemos todos os dias, algumas até perigosas para os outros, mas continuamos aqui, na nossa casa, com nossas coisas, achando que o mundo gira para que possamos apreciar o sol e a lua. O que você faz para “fugir”? “Relaxar”? “Curtir”? , Leitor. Pois bem dirás que grande parte das coisas que você faz, são feitas sozinhas. Até a saída para baladas, curtições, etc, são feitas sozinhas; você sai para SE divertir, não? Pois bem, leitor, discutirás ainda que somos todos bichos sociáveis, vamos cheirar rosas e admirar hortênsias, pensar em como podemos ajudar uns aos outros... Ah, contaremos outra história, diga.

De fato, estou exagerando, o leitor há de convir que sim, ou não? Leitor, Ah! Leitor... Nossos dias têm sido puxados, reconheço. Gostamos sempre de poder desfrutar dos prazeres individuais, e o mais simples, prazeroso, admirado pela humanidade, é o ato egoísta de dormir. Vamos dormir em conjunto? Um ajuda o outro a dormir, vamos dividir essa tarefa?

Tarefas, gostaríamos de dividi-las? Duvido, atualmente as pessoas têm empurrado as tarefas para que sejam feitas por outras pessoas, todos querem aproveitar a sua inteligência de ter alguém fazendo por si. Até mesmo nos relacionamentos! Incrível? Não. Os bichos homens estão delegando tarefas exclusivas, como dormir, para as outras pessoas, em seus relacionamentos. Namorados que deixam o amor somente por conta da sua menina; como há de se amar alguém assim? Terminam. Casamentos acabam, famílias se desmantelam... “c’est La vie”? Ninguém pode dormir a dois, ou ser um meio namorado, mas ultimamente, estão tentando provar o contrário.




Half-Boyfriend by Jay Brannan (ele só começa a cantar em 2:05, então pulem)







R.R. Neto

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Querido você,

Faça parte hoje do que não existe entre a Bela e a Fera.

Escapei de um maniqueísmo que provavelmente se manteria se não fosse essa estranha sensação de desconforto. Pulei de um lado para o outro desfazendo alguns nós que me impediam de me equilibrar naquela corda. Quem tem medo de queda? Todos nós. Os nós?

Meus olhos têm cores de quem espera Godot, querido você. Isso me é útil, sabia? Espero que realmente saiba agora e não se esqueça nunca disso. Mormente meus shows de equilíbrio ganham ares de trapézio e isso não é insano. Eu não tenho mais catorze anos. Este é um fator que realmente me incomoda, querido, porque eu tinha muito menos oscilações nas minhas exibições artísticas.

No entanto, é bem notável que os novos anos transfiguram aquilo que é amavelmente intrínseco e produtivo. Sou um dos fracos? Com certeza. E por isso tenho o dom hercúleo de me manter assim: olhos de Becket.

Tudo bem se sua música é apenas forma, eu respeito. Mas também não veja isso aqui como pura expressão de subjetividade, eu também faço uso de aparatos omissivos. E não venha me dizer que o seu sistema está à margem de todo o circo; não vejo problema em admitir que se é palhaço, que mal tem se render ao que está posto como um sensato e predestinado apocalipse? Por favor, renda-se.

Sobre os meus shows, eles vêm ganhando trilhas sonoras novas a cada dia e aposto que esse aspecto musical os faz subsistir. A elite dirigente do meu âmago social diz que eu devo sorrir também.


“Uma parte mínima de lembrança do meu bom-senso de meu passado me mantém
roçando ainda o lado de cá. Ajude-me porque alguma coisa se
aproxima e ri de mim. Depressa, salva-me.” (Água Viva; Clarice).

Atenciosamente,

Artista circense.
(Feliz e sorridente. E a Bela e a Fera? Não sei).



Kamila.