domingo, 31 de janeiro de 2010

Recipientes



Não sei o leitor, mas os dias (na minha visão) passam cada vez mais rápidos e quentes. Não sei esperar mais o término desse maldito verão que a cada ano parece estar mais quente. Deve ser o prenúncio do tão esperado apocalipse, não?

Cada dia que acordamos e nos deparamos com as situações mais diversas porém comuns, não, não. Não sei. Ah! Leitor, todos estamos já num estado letárgico, anestesiados ou iludidos, não sei. Cada notícia de jornal, cada comentário ou acontecimento destrutivo, já nem damos mais bola alguma. Pudera eu, pensar mais ou me envolver mais, mas tudo que consigo fazer é escutar e me tornar cada dia mais indiferente, cadê o dito coração? Será que essa maldição só revela-se nas madrugadas alardeadas por gritos de sofrimento ou eu só posso agora sonhar com a época que um dia eu pude dispor de algo que se assemelha à descrição. Não sei mais, quem sabe nunca soube, na realidade todos agem da mesma maneira, mas ainda insisto em manter a honestidade e a maneira direta de ser, e você, leitor?

Gritar, chorar, correr, rir, sofrer, respirar, aproveitar...

Ar, er, ir, só podemos mesmo rir, dessa rima infantil.

Leitor, qual sua busca, não, você não precisa ter uma, mas, não tenha e se jogue do alto do terceiro andar do primeiro shopping (referência local, não dê bola). Sinta-se à vontade para sentir-se à vontade (?)

Minha busca não traz só a vontade, mas também busca o dom de trazer, busque comigo a realidade, acho melhor eu me beliscar e acordar do sonho, ou da matrix, vai saber, a ficção imita a realidade, ou era o contrário?

Perguntar ou ignorar, tentar compreender, a verdade é que nada fez mais sentido e eu já voltei de Boston, lá também não pode ser um bom lugar, aliás, a insatisfação é parte da natureza humana e pode ter certeza que ela não se torna branda da maneira mais fácil.

Que tal um brinde à ignorância? Volto já com meus vinhos e taças.





quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Para os que não gostam de ler

Rubem Alves me inspirou. O caótico, o psicodélico e tudo aquilo que se estrutura a partir de pseudos-existires me causam repulsa hoje. Ler é um exercício de alienação. Não quero ser desencorajada de pensar meus próprios pensamentos, mas sei que a administração dos pensamentos alheios e análise destes é a chave. Estive a pensar sobre essa tal constituição de identidade e descobri que ela se dá até quando a luta travada no seu interior reflete covardia, fragilidade, insegurança e necessidade de aprovação. Chama-se EU. Ou VOCÊ.
O caso de muitos eruditos: leram até ficarem estúpidos.

"É um equívoco imaginar que a quantidade de livros lidos desenvolve a capacidade de pensar. Comida ingerida em grande quantidade provoca perturbações digestivas ou obesidade. Eruditos, com frequência, são obesos do espírito"*

Por óbvio que pra citar, precisa-se ler. Mas lê-se pouco para citar. E pensa-se. É essa a minha defesa hoje. Da chuva que cai, ao café e o seriado de texto compreensível e inteligente. O mundo passou a considerar o obscuro como sinônimo de evolução mental e o desarmônico como produto de capacidade acima da média. Quero dizer que hoje tenho percebido o avesso, apesar de ser muito fã de proliferação e aparatos confusos. No entanto, se nem o próprio autor sabe do que fala, que raios de pensamento ele tem? A metáfora da abstração oriunda de um complexo jogo de paradoxos moldados pela imensurável interferência dos paralelos que se encontram e não se encontram (??!!) Merda, Batman! Pode expressar-se dessa maneira inúmeras vezes, mas isso tem de ser apenas a sua arte pensante de colocar em questão as possíveis relações das suas figuras de linguagem. E isso é lindo. Porém pense.

Ser mal interpretado é um fardo. Ter trejeitos confusos operando para a dificuldade de interpretação também. Não use maquiagem para ser livre para chorar e coçar seus olhos. Sorria e acene, contudo não julgue válidas quaisquer menções a seres 'extraordinários' que merecem ser lidos. Não que não devam ser conhecidos; apenas releve o fato de que você também deve ser notado como existente. Quem me conhece? Com certeza não são os caras que leio. A arte de não ler também pode ser importante, presumo.

Aqueles estúpidos mencionados acima são imagens que figuram em mim a lembrança de estar extremamente em desconforto ao se tentar estabelecer uma trivial convenção social. Todos necessitam se relacionar. Espero que isso fique bem claro para os que gostam de ler. O peso das não-relações aumentam a fuga ao mundo daqueles que pensam por nós. É provável que isso sim seja a maior insanidade desse ar pós-moderno weird.


E hoje eu ouço Hanson, Norah Jones e Lifehouse. Justamente porque os meus ouvidos agradecem e sorriem. Só por isso. O simples (além de eloquente e bonito) me faz pensar. E pensar, oras... faz-me constituir o meu lugar; lugar-comum? Talvez, mas é meu. E sou eu.

Desculpas e agradecimentos,


Kamila.



*Sobre Leitura e Burrice - Rubem Alves.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Gritos Mudos







Leitor, você entende? Eu não.









São freqüentes/descrentes os modos de agitar sentimentos, você pode balançar e balançar, pular e girar e às vezes, eles não se mexem. Talvez fosse um tanto pedante/interessante começar a acariciar os recipientes, o que o leitor pensa disso?

Não, não julgue agora, só acrescente/tente um pouco mais de desconfiança. Não compreendo/surpreendo todos os momentos que agimos por impulso nem sei como guardei/expulsei todos os sentimentos contraditórios dentro de um mesmo cantil.
Há, sempre há, leitor, dentro das nossas mentes abençoadas/perturbadas mais que nada, ou, mais que tudo, não surpreende/compreende.

Desculpas não servem nem protegem/divergem dos gritos mudos que dou no travesseiro tampouco dos surdos transeuntes aos quais minhas súplicas são cuspidas. Volto ao meu genuflexório. Peço por uma camisa-de-força. Forca.

Sim, julgue/mude o jeito de pensar de cada um, também o meu/seu. Porque eu realmente continuo sem entender, minha boca não se abre nem tenho língua que funcione realmente, caiu-se pelo desuso/abuso ou pelo medo/segredo que guarda dentro do íntimo exposto ao absurdo.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Retrospectiva furada,

Talvez os dias passem mais devagar no início de cada coisa, leitor. E a maior nesses últimos tempos foi a mudança de ano, aprender a escrever 2010 no final das datas, só? Algumas pessoas dizem que não, eu digo que sim, não discutiremos. Espero ansiosamente pelo momento do ano em que eu poderei não ser mais o ser que não é, ou seja, ser o que não se é, ou não ser o que não se é. Não entendo. Os dias passam intermináveis e eu esperando algo que não virá; difícil, demorou mais de 20 anos para que eu descobrisse ter um coração. Já ouvi teorias sobre ele também, músculo cardíaco, sente, mas é alegórico.

Odeio dizer, leitor, mas quanta bobagem é digna de crédito atualmente, mesmo as mais romantizadas ainda passam pela avaliação popular, não, não odeio dizer. O leitor já descansado e com um novo leque de convicções haverá de convir que temos um problema, pequeno, grande, não faz diferença, há o ano todo pela frente, é o que dizem, mas se não for suficiente, eu deixo para o ano que vem, afinal, terei o ano que vem todo também, assim espero. Pois o leitor sabe das promessas de ano novo, fez naquela hora da virada enquanto seu traje lhe conferia a aparência do babyporquinhoatrapalhado e a cueca amarela (ou calcinha, whatever) já estava molhada das 7 ondinhas. Pois chegou o momento de talvez pensar em cumpri-las, não, não, vou começar do final, a mais fácil primeiro, o resto eu prometerei pro ano que vem, comi romã, espero dinheiro.

Ô coração! Que falta tu não me fazes, tá difícil, já entendi que a vida é assim mesmo e que não cumpro mais nem dizer que o quiche da vovó está bom. Mas castigar-me com os pensamentos, opa! Mas não, coração não pensa, é toda essa merda na cabeça, alguma enterrada com força por outras pessoas, alguma que você mesmo deixou cair lá, leitor. Ora, ora. Esperei mais de uma noite pelo sentimento, só tive meu tempo perdido, odeio dizer, não, já falei que não odeio, por que não me decido? Ora, ora. Leitor.

E todo aquele que me leu e não me entendeu há de saber que o texto diz, mas não diz, ele informa, mas não informa, ele mostra, mas esconde. Ô dualidade, eu digo, como eu interpreto isso tudo? Como posso eu, só eu, entender isso tudo rapidamente e sem sentir dor, cadê meu coração para dizer? Preciso antes encontrar a boca dele. Espera! Eu vou abrir a banana pelo zíper, mas essa é outra história, resumindo: dialética.