terça-feira, 29 de dezembro de 2009

sem título















Sempre que a madrugada chega, com seu tom ameaçador, porém débil, com suas cores frias, porém calorosas, com seu silêncio musical, eu fico esperando uma visita. E os segundos passam em minutos semanais, com tiquetaques surdos e suspiros profundos, gotas de água num pulmão debilitado. Minha espera estende-se com o movimento da lua, esperando a visita desagradável da única amizade que resta aguardar. O calor nas suas cores frias ruboriza minha face e o silêncio canta seus desesperos no meu ouvido enquanto suspiro profundamente cada segundo. É manhã, o silêncio cessa; a vida lá fora parece acordar sorrindo para o tom dourado do trigo que reluz sob o sol, pura bobagem, onde, nessa selva de pedra maldita, há campos de trigo? Devaneio matinal, bebo mais do amigo que me ajudou a esperar a madrugada, ele me mancha com certo tom arroxeado enquanto arde minha garganta, esperei. Passam mais alguns minutos e começo a acreditar que minha visita não chegará tão cedo, aonde foi que ela parou dessa vez? Acaba invadindo minha mente o pensamento de que eu terei de esperar mais e mais. Levanto, cambaleio, tonteio, seguro, paro, respiro e continuo. Preciso que alguém busque meu juízo no quarto, ele pode estar morrendo, falta-lhe o alimento, tentei várias misturas, mas nunca descubro do que ele se alimenta. Caio, espero, olho-me naquela vasilha prateada, não, é um vaso, meu reflexo está distorcido, mas não sou eu, é minha sociabilidade, minha vontade de me relacionar com outras pessoas, é minha casca, minha face, meu avatar de luxúria que não se acaba tão fácil, levanto, cambaleio, sento no chão. Minha visita chegou, é meio-dia e eu não preparei nada para ela, mas creio que hoje o banquete será minha paciência com o mundo, ofereço-lhe dois terços do que cultivei e ela pega e mordisca, me dói um pouco o coração, mas de nada mais ele me serve, ofereço-lhe meu coração, metáfora do amor verdadeiro, o meu já pisado, maltratado, nem é digno da mordiscada que levou, por isso a vejo cuspir o pedaço, ele cai ao chão e enegrece, seguro o pedaço e uma lágrima rola dos meus olhos, esguelho para minha visita, ela me olha com carinho, parece que aquele momento não acabará nunca, acabou.

E agora, Leitor?



quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

qualquer coisa menos comum, por favor


Ás vezes eu fico tão estranho, leitor. Eu começo a pensar nas coisas que estão dentro da minha mente e enlouqueço com minha loucura, dou risada de mim mesmo e canto, canto alto e desafinado para me ninar. Ás vezes eu toco minha vida tão rápido que sinto o que perco pelo caminho, me coloco em perigo e grito, grito com desespero, veracidade, e isso me faz sentir vivo. As questões vêm e vão devagar, rápidas, calmas, nervosas, explodem e cospem na minha cara, e eu me pergunto se isso tudo é suficiente para amar, se assim eu posso respirar, é suficiente, leitor?

Meus dias são de tons variados, cada um é diferenciado e pode mudar com o curso dos acontecimentos, mesmo que eu tenha meus dias povoados pelo sentimento que me faz ter vontade de que alguém arranque meu coração e isso aconteceu, e isso acontece e isso acontecerá, e eu fui deixado aqui para sangrar, será o suficiente para morrer? Eu mentalmente suplico a cada rosto estranho que salve minha vida dessa monotonia ou que a salve desse desespero, que me dê um prato de feijão com arroz da vida e me ensine que o sal e a pimenta somos nós que colocamos. Prefiro mudar, não ser e ser eu, mas todos meus eus preferem ser qualquer coisa menos comum, leitor, por favor.

Conheço as regras, conheço para quebrá-las, a vida é feita delas e elas a fazem tão chata, a minha vida com regras é chata, o sentimento volta e eu preciso achar, viver, encontrar, meu extremo, eu quero saber que eu tenho estado, no extremo.

Procuro alguém, encontro e desencontro, meu coração talvez esteja tão machucado que precise de um aperto carinhoso, as feridas não saram rapidamente, então desconto no corpo, alguém me ponha juízo, me sacuda pra valer, me dê um tapa, um abraço, um beijo, amor, faça com que eu me sinta vivo, qualquer coisa, leitor. Arranque meu coração, ele não é suficiente para amar, me deixe sem meus pulmões e diga que eu posso respirar, sem tudo isso eu seria capaz de morrer? Alguém salve minha vida das coisas comuns, me salve da monotonia agradável e agonizante.
Abaixe a guarda, mostre seu peito e espere que o coração seja arrancado de você, não devolva o meu, não seja comum, não use seu senso comum. Olhe, abra os olhos, seja ousado, o perigo não está em viver comumente e sim em estar fechado para o sal e a pimenta, olhe e veja que acidentalmente esse mundo turbulento, de perigos suculentos é belo, e opulento, experimente, não desperdice, leitor.

Ás vezes eu fico tão estranho, eu sou estranho e você não me entende, leitor. Eu enlouqueço pensando, mas que seria eu sem pensar. Dou risada das minhas conjecturas para dormir, e isso é minha canção de ninar.

É suficiente? Queria poder ser salvo das coisas comuns e ter as respostas que eu quero, não que sejam as palavras que eu espero, mas que sejam respostas mesmo assim, a espera sempre é pior e cruel, me tire da monotonia do sofrimento de tempos, sofrer muito tempo nos faz masoquistas, e eu já estou gostando das finas agulhas que ferem meu coração a cada abrir de olhos molhados, onde está o turbilhão que me tirará da monotonia, leitor?








R.R.N






para L.G e suas respostas

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Sobre a escuridade das coisas.

Acho que não tenho capacidade narrativa; mas era noite, não fazia frio e havia estrelas. Existia também o limite tênue entre dois passos à frente e dois atrás. enfim, foram suficientes uns não sei quantos passos pra se estagnar em cima da linha equidistante dos dois extremos.
E ocorreu que, com aqueles passos, um outro mundo se moveu (ou se perdeu?). As possibilidades de se adentrar naquele mundo emoldurado, porém vivo, daquela parede, tornaram-se passíveis de cogitação. O que se poderia perder ao se jogar num mar e depois ser salvo a bordo de um navio aconchegante? Algumas coisas. Deixar-se-ia uma firme convicção, talvez a única certeza: a de habitar o Desmundo.
A viagem é inversa. Pegar o navio leva ao desconhecido. Não pegá-lo é o que o mantém no não-mundo. A noite foi capaz de conduzir-lhes a um desconhecido bom, muito bom. Mas ainda assim confuso.
Ouviu-se uma autoridade religiosa dizer: Deus tem um desafio para nós. Deve de ter. Mas o maior deles, provavelmente, é o de lidar com o lado de dentro, onde tudo concorre para o livre arbítrio. Isso sim parece ser o maior embate da natureza; de se compor existencialmente um dualismo característico dos anfíbios. A eterna
contradição humana.
Circunstâncias não significam nada? Quando houver o fim, nós seremos heróis constantemente. E aí, o que fará tanto sentido assim? Quando o ilogismo reinar, os co-autores de todas as belas músicas triunfarão. Eu quero o tempo de poesia e também o de certezas. Desculpe, não queria ser a primeira pessoa, mas isso sempre foge ao meu controle. Sou eu mesmo. Eu mesma. Você até pode matar o autor, isso é bom. Mas nunca, nunca invalide a existência dele.
São muitos badulaques e o jardim não existe. A relação entre os dois últimos signos concretos eu desconheço. No entanto, imagine uma caixa e imagine os badulaques. Você se ocupa demais com as inutilidades do seu recipiente e se esquece de que flores poderiam nascer de algumas tomadas de posições distintas dessas de cultivar um museu.
Mais uma criptografia para nós. Um passado, um presente e um futuro. O segundo consegue trazer à tona uma humanidade que nos outros dois é ofuscada. Dou a conhecer-me pelas perguntas que faço. As que eu fiz hoje se resumiram a um esgotamento muscular e a uma corrida para subir as escadas e fechar as janelas,afinal, já é tarde.


"O homem tirou sua espada e toda a gente com muito temor se calou. [...] Mas no escuro do meu coração a vista dele se marcara, que dela me não podia livrar." *

Eu não vou me calar, por mais que seja uma necessidade egoísta.



Bem-vindos à raça humana.



*Ana Miranda, no seu Desmundo.



Por Kamila.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O natal e o desaire.


Das faltas de condescendências do dia a dia já tratamos algumas vezes aqui, eu e você, leitor. Mas nos últimos tempos a necessidade de algumas pessoas (ou impotência) frente ao feriado natalino está ultrapassando as bem marcadas linhas do ridículo.


João odiava o natal desde que se conhecia pelo seu apelido, Jojo. Odiava esse apelido mais que outra coisa em sua vida, poucos o conheciam e mudava de emprego, esposa, vizinhança, gostos, onde quer que descobrissem. O apelido o perseguia, e tinha uma história natalina triste. João sempre ganhava meias e cuecas no natal, seja porque as suas estivessem sempre rasgando ou manchando, seja pelo gosto horrível dos poucos familiares que tinha. Num dos poucos natais que ganhou algo diferente (um blusão, listrado, amarelo com verde musgo) estavam presentes a família dos vizinhos com seu pequeno rebento da idade de João, inimigos declarados na rua e no colégio (gostava particularmente de atormentar nosso amigo). A avó de João dera o blusão, o fez vestir e acariciou seu cabelo dizendo: “ó Jojo (saiu naturalmente, não era costume da sua avó dar apelidos ou tratar alguém com carinho), tu ficaste muito porreta”. Nem Deus previra tamanho causo num dia de natal, o inimigo de João espalhou o apelido para todos da rua e da escola e logo João virara Jojo da vó; a situação só piorou quando a mãe de João o fez usar o blusão no primeiro dia de aula do ano seguinte. Desde então, João não conseguia mais ver o natal como uma festa de confraternização ou com qualquer outro significado relevante. Odiava o natal como odiava seu presente de natal inusitado, o apelido Jojo.


Tal estória serve como explicação de muitas aversões ao natal de variadas pessoas. Mas não serve para aquelas pessoas que dizem que o natal é brega, fede, ou é uma festa chata, sem motivo aparente. Certa vez, nesse ano conturbado, para nós, leitor, eu me flagrei defendendo o natal, pois por ele tenho muito gosto, soubesse eu quantas pedras acertariam minha nuca ao dizer isso. Hoje defendo o desaire do natal, a breguice clássica que todos conhecemos, os presentes da avó, as discussões da família, até o tio bêbado com barba de papai Noel. O natal é uma vez ao ano e todos devemos aproveitar, não levanto bandeira, vale até a festa do escritório, se não for daquelas com inúmeros atritos, pessoas desmaiando e a filha do chefe tirando a roupa na mesa. Que tal montar a árvore? Tenho especial admiração por isso, leitor, a árvore mostra muito do espírito de todos ou de uma pessoa da casa. Que tal pendurar guirlandas? Montar pisca-piscas? Que tal dar feliz natal no final das conversas pela rua ou pelo telefone, pelo mensageiro, que tal? Vamos, leitor, vamos esperar o natal e defender o nosso direito de desairar uma vez no ano, ao menos uma vez.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Macabéa.

Todos têm um centro unificador do mundo. Com medo de que o silêncio signifique uma ruptura, diz-se “Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?”.
Se sua estrutura tem um centro e se esse centro, a partir de uma desconstrução, pode ser abalado a ponto de estabelecer um dualismo, cuidado!, você também perguntaria sobre parafusos e pregos.
Fui desconstruída hoje, ou melhor, fui descoberta. E pior, por culpa minha. (E já que a “Palhasseata” tá acontecendo por aí, vou assim mesmo em primeira pessoa). Em rigor, o centro é uma entidade metafísica (Hello, Derrida!), no entanto hoje se presenciou o metafísico dos abalos sísmicos. Amoleci aos intentos do temor póstumo de se dizer algo. Fui mostrar que eu tinha o meu logocentrismo e que isso garantia a minha importância de sujeito definível. Aquela estória de que o que trago sobre os ombros é meu e é só meu. Que orgulho, hem?
Que nada! O ato/fato é que, justamente com a imposição da definição do meu eu indefinido, fui desmontada. Simplesmente por ouvir o exato conceito do construto de mim mesma em que me apoio para me entender. Só que não entenderam.
Houve tempos em que eu tentava considerar uma dimensão antitética inclusiva de mim, contudo as interpretações acerca do que se expunha a esse respeito fugiam ao meu controle e isso perfazia premissas possíveis em um silogismo sem a minha outorga.
Mas voltemos ao hoje. Estou consciente de que preciso alcançar e ser útil. E quero estar consciente do que quero exatamente. Tenho – juro que tenho – uma mensagem para os possíveis interessados nesses devaneios: a confiança no que se é, o prazer no que se gosta e a explicitação dos seus anseios, garantirão o desmanche de sua híbrida-seguridade. Seja você, mesmo que isso lhe cause dor, mormente.

“Well it's nice to meet you, Sir.
I guess I'll go...”








Se a via crucis virou circo, estou aqui.




Kamila.

sábado, 21 de novembro de 2009

S'apatos



Coloquei o objeto e pude perceber o quão horrível era olhar tudo de forma mais clara, talvez eu pudesse ter um pouco menos de discernimento para entender o que aquelas formas grotescas e atitudes horrendas poderiam dizer sobre mim. Ao mesmo tempo em que luto contra meus pensamentos de tirá-lo, eu quero ver mais, entender mais, compreender mais. Será por isso que até agora eu não entendia o que queriam dizer as pessoas quando falavam em “feio” ou em “lamentável”. São barbáries humanas, certa vez ouvi.

Fatos e atos são sós desacatos que nos iludem a cada dia, mas talvez eu estivesse com vontade de ilusão, fome de mentira. Que tal borrar minha visão, turvá-la? Enegrecer pensamentos, ou esbranquiçar, quiçá! Maldita hora em que o usei, antes era tudo tão belo, pessoas e atos, atitudes e fatos, desacatos.

Ando, corro, penso, ajo, tento, vento? Estranho pensamento, substantivo e verbos, nem um pouco esperto. Continuo, procuro, aonde irei, para onde levarei, este vil instrumento que me fez melhor enxergar o que não devia ser visto (não devia?)

O leitor convirá que a loucura me atingiu, também poderá dizer que nem tudo foi como é, ou como será? Já não sei, confundi, tentei, agitei, pensei, fatos e atos, desacatos. Leitor, não, leitor.

Talvez pudesse ter mais um pouco de compaixão do seu cego cronista (cego?) que agora vê o que antes não podia, que tenta embaçar o que agora está límpido, por quê?

Voltei. Tudo será mais uma vez como antes.



Joguei fora meus óculos.







Rubens R. Neto

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Apenas sentimentos coloridos...




E a madrugada continua tingindo o céu de um azul-escuro arroxeado enquanto eu continuo teclando essas inertes teclas que ganham movimento à medida que a força do toque de meus dedos cai sobre elas. Talvez seja somente mais um suspiro de cor que tinge uma das inúmeras feridas que destroem lentamente meu coração, mas pode ser a continuidade de um sentimento colorido que nasce tímido; de veios azuis claros em meio a um corpo verde água, mas que ganha tom e força, ao verde bandeira, ao azul turquesa.
E componho:

“Saudade dos tempos em que meus pensamentos verdes eram vivos, mas que agora se tonalizam de um amarelo pálido, sem tons diferenciados e morrem em um marrom enegrecido.”

Por que o amor cria feridas? Se o próprio amor é o anestésico... Por que fere?

A cura é o coração que o coração deseja, que por paixão ele almeja, com rimas pobres e sem graça, mesmo que cada sonho termine em... São só cores de sentimentos que colorem o vazio noturno, sentimentos que seguem soturnos, pelos corações desatentos. Conhecimento tido por inútil, mas que o coração atinge dos que não são fúteis. Sentimento, sentimento.

E o leitor há de dizer que o amor pegou seu cronista, mas saberá no fundo que a desgraça é a rima, que corre, devagar, porém livre, entre as cores que aquecem a face com mera menção do sentimento. E aquele que ler desatento, essas linhas tortas, sinuosas, que enganarão alguns, mudará outros, terão que desviar o caminho, da cabeça e do coração, pelas passagens coloridas pelas quais não passam sem que lhes segurem a mão.

Meus sentimentos foram verdes, estão amarelos, quiçá alguém virá e os colherá, aproveitará o sabor que ainda perdura por mais um tempo e replantará a semente do fruto dentro do seu próprio coração.






R.R.Neto

(saudades da geração Sandy & Junior, sem funk e sem axé)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Legião aerostática - um oxímoro eólico




É deveras estranho pensar como a internet cresceu; e com ela a interação virtual, o ambiente de relações PC-PC e a redução do contato humano. Hoje, em uma das raras vezes em que liguei a televisão, me deparei com uma reportagem. A polícia está a ponto de desbancar mais uma dessas redes de pedofilia, em questão estava as lan-houses e a facilidade com que essas pessoas tinham acesso para divulgar o material e procurar vítimas através de perfis falsos criados em sites de relacionamento. Saindo do mérito da crueldade e condenação dessa prática horrenda, gostaria de abordar uma questão delicada e que cada dia mais impregna a mente e as relações dos usuários da web.

Você é o seu avatar?

Meço todas as possibilidades de descobertas acerca do que se é. Soma-se meio metro de não-saberes e uma música: "acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto". Minhas opções de cliques podem me definir, caros. Ou não? A constituição fragmentada dos meus olhos devem me definir, por certo. Sou o que vejo e aquilo que o que vejo faz brotar em mim? Sou as perguntas que faço. Reconhece-se a existência de incompreensões formais, porque o mais evidente parece ser o fato de que não se é, nem nunca se será estrutural. O conteúdo de um texto é substituível. Não que nós sejamos títeres, no entanto, é possível que façamos parte de um sistema predestinado. E dialético, claro: o livre-arbítrio também dará o ar de sua graça.


A impossibilidade da definição estrutural do indivíduo culminará num impasse lógico, como um ser fragmentado pode constituir um eu-virtual sólido? A premissa será sempre de um indivíduo frente a uma máquina, indivíduo de cacos. A possibilidade da realização dos anseios lógicos da mente; “O que gostaria de ser”, “O que poderia ser/ter sido”, etc. Como responder ao “Quem sou eu:” sem realmente saber? Recorre-se às outras perguntas, tentamos nos mostrar ou nos esconder através de signos, musicais, audiovisuais, literários, grupos e imagens. Mas tudo isso nos representará realmente? Como ser um ser fragmentado dentro de algo que impõe uma sólida estrutura?

Bom, o fato é que não canto mais porque o instante existe. Meu instante é triste (e minha rima pobre). Não trago mais balões.
Na tentativa de ser melhor, e de menos poeta observador ser, troquei as falas, os atos, os gestos. Dancei no ritmo do descompasso, daqueles sem verve e sem introspecção. Fiz dele meu lenitivo.

Eu tive um encontro com o corvo, juro que tive, mas fui eu quem lhe disse: Nunca mais. Espero que esta seja a minha última agonia, porque a mesa é farta, porém podres são os manjares. Lembro que disse que desejava sorrir também, eu só não sei, realmente, se esta alegria me fará versejar. Se a vergonha tivesse um rosto, ela se pareceria comigo hoje.

E exclamei: “Era outubro, decerto, e era esta mesma, há um ano, a noite fria em que vim, a chorar, aqui perto, fardo horrível trazendo, aqui perto”.

Quem precisa de subterfúgios? Todos aqueles nos quais uma veia pulsa.
Quem precisa de balões? Todos aqueles nos quais...
Não.

Sim.
E a antitética questão perdurará. São somente mais argumentos pontiagudos ameaçando. Sou a criancinha com o balão vermelho, desejando o amarelo e enxergando azul. Somente mais uma palavra de não-afeto poderá afetar. E quem sabe, dirá muito mais de mim mesmo. Quem sabe o leitor poderá me dizer quais balões já “encheu”? Quais destes estouraram, quais foram levados pelo vento... leitor?

Vamos ao encontro da realidade, os balões compunham um todo colorido; então por que todos escolheram a mesma cor? Tentamos estar sempre com a mesma cor que o amiguinho do lado? Balões não são só balões.... balões nem poderiam ser balões; não estes balões. Pois estes estão cheios, cheios de...











"Gostaríamos de agradecer a todos os queridos leitores que contribuíram para a que marca de 2000 visitas fosse alcançada. O blog começou com 3~5 visitas por semana, e foi aumentando aos poucos, com o carinho de todos por que aqui passam, comentando ou não, com pressa, relaxados, felizes, tristes.. Fica então, o nosso registro; Fosse 1 leitor, fossem mil, todos seriam importantes e seriam tratados com o mesmo carinho que a nós dedicam. Grandes abraços."

Kamila C. Almeida
Rubens Rozsa Neto
(Sim, fomos os dois que escrevemos, escolhemos os vídeos e imagens)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Pílula Anti-misantrópica


Se há uma grande mentira é dizer que o ser humano é bicho sociável, que não vive sozinho, precisa de outros seres humanos para viver. Só se a necessidade principal for sentir-se o centro do universo.


Leitor, você tem características antropofóbicas? Quero dizer, tem alguma aversão a seres humanos ou a humanidade em geral? Acho complicado responder a esta pergunta, simplesmente porque temos aversão de tudo e todos até que nos conquistem, provem seu valor, não? Não. Muito afetados leitores dirão que ninguém é culpado até que se prove o contrário. Besteira. Todos sabem que, no fundo, é óbvio que desconfiaremos sempre do mordomo com o castiçal na biblioteca. Não digo que somos paranóicos, leitor, nós somos, todos somos, sem exceção. Desde a desconfiança da criatura que pergunta no meio da rua “Que horas são agora?” até a atendente novata da loja, que errou dois reais do seu troco (“tá me passando a perna, safada").

É, leitor, somos doidinhos, ou não? Só são doidos aqueles que estão internados nas clínicas psiquiátricas (no português “bem dizido” manicômios ou hospícios)? . Leitor, leitor, Ah! Leitor; pudera eu dizer as loucuras que cometemos todos os dias, algumas até perigosas para os outros, mas continuamos aqui, na nossa casa, com nossas coisas, achando que o mundo gira para que possamos apreciar o sol e a lua. O que você faz para “fugir”? “Relaxar”? “Curtir”? , Leitor. Pois bem dirás que grande parte das coisas que você faz, são feitas sozinhas. Até a saída para baladas, curtições, etc, são feitas sozinhas; você sai para SE divertir, não? Pois bem, leitor, discutirás ainda que somos todos bichos sociáveis, vamos cheirar rosas e admirar hortênsias, pensar em como podemos ajudar uns aos outros... Ah, contaremos outra história, diga.

De fato, estou exagerando, o leitor há de convir que sim, ou não? Leitor, Ah! Leitor... Nossos dias têm sido puxados, reconheço. Gostamos sempre de poder desfrutar dos prazeres individuais, e o mais simples, prazeroso, admirado pela humanidade, é o ato egoísta de dormir. Vamos dormir em conjunto? Um ajuda o outro a dormir, vamos dividir essa tarefa?

Tarefas, gostaríamos de dividi-las? Duvido, atualmente as pessoas têm empurrado as tarefas para que sejam feitas por outras pessoas, todos querem aproveitar a sua inteligência de ter alguém fazendo por si. Até mesmo nos relacionamentos! Incrível? Não. Os bichos homens estão delegando tarefas exclusivas, como dormir, para as outras pessoas, em seus relacionamentos. Namorados que deixam o amor somente por conta da sua menina; como há de se amar alguém assim? Terminam. Casamentos acabam, famílias se desmantelam... “c’est La vie”? Ninguém pode dormir a dois, ou ser um meio namorado, mas ultimamente, estão tentando provar o contrário.




Half-Boyfriend by Jay Brannan (ele só começa a cantar em 2:05, então pulem)







R.R. Neto

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Querido você,

Faça parte hoje do que não existe entre a Bela e a Fera.

Escapei de um maniqueísmo que provavelmente se manteria se não fosse essa estranha sensação de desconforto. Pulei de um lado para o outro desfazendo alguns nós que me impediam de me equilibrar naquela corda. Quem tem medo de queda? Todos nós. Os nós?

Meus olhos têm cores de quem espera Godot, querido você. Isso me é útil, sabia? Espero que realmente saiba agora e não se esqueça nunca disso. Mormente meus shows de equilíbrio ganham ares de trapézio e isso não é insano. Eu não tenho mais catorze anos. Este é um fator que realmente me incomoda, querido, porque eu tinha muito menos oscilações nas minhas exibições artísticas.

No entanto, é bem notável que os novos anos transfiguram aquilo que é amavelmente intrínseco e produtivo. Sou um dos fracos? Com certeza. E por isso tenho o dom hercúleo de me manter assim: olhos de Becket.

Tudo bem se sua música é apenas forma, eu respeito. Mas também não veja isso aqui como pura expressão de subjetividade, eu também faço uso de aparatos omissivos. E não venha me dizer que o seu sistema está à margem de todo o circo; não vejo problema em admitir que se é palhaço, que mal tem se render ao que está posto como um sensato e predestinado apocalipse? Por favor, renda-se.

Sobre os meus shows, eles vêm ganhando trilhas sonoras novas a cada dia e aposto que esse aspecto musical os faz subsistir. A elite dirigente do meu âmago social diz que eu devo sorrir também.


“Uma parte mínima de lembrança do meu bom-senso de meu passado me mantém
roçando ainda o lado de cá. Ajude-me porque alguma coisa se
aproxima e ri de mim. Depressa, salva-me.” (Água Viva; Clarice).

Atenciosamente,

Artista circense.
(Feliz e sorridente. E a Bela e a Fera? Não sei).



Kamila.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O frio congelou nossos corações?




Calorosos leitores, a primavera chegou mais uma vez ameaçadora. Eu, que moro aqui nessas bandas do sul, mais uma vez assisto aos efeitos destrutivos da chuva. Não conseguimos ao menos ver as flores desabrochando, as árvores com suas novas folhas, sentir o calor do sol no fim da tarde. Só sinto o frio, esse vento frio, esse sentimento frio, essas verdades frias. Coração frio. Conhece esse sentimento, insensível leitor?

Esse sentimento frio, que consome, que destrói, ou melhor, desconstrói, é o amor... Mal compreendido, não correspondido, arrependido. Já tratei de amor algumas vezes, mas nunca dos problemas que traz. Já disse Camões, baseado na bíblia:

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer; (...)

Pois o leitor há de concordar comigo que isto é a mais pura verdade. Amor queima dentro do coração e o consome, o vai destruindo, ferindo, enquanto queima a felicidade se faz presente, quando não consegue ser alimentado, apaga, e deixa a brasa incandescente, ferindo, doendo, sentimento descontente. Atualmente os leitores e seus familiares, amigos, colegas, vizinhos, seu círculo social, há de ver que as pessoas estão deixando de amar, deixando de sentir; estão sempre buscando alguma forma de ficarem bem, e amaldiçoando o criador do termo ‘ser feliz’.
Aonde se escondeu a felicidade que finjo possuir todos os dias, não vê ela que sou um bom ator, mas que ao conhecê-la poderia me tornar muito menos artificial? A felicidade é presença de momento, pois a desgraçada (!) não é onipresente. Essa ubiqüidade é falta significativa em nossa vida, concorda? Melancólico leitor. Já disse a adaptação frásica da música Virginia, dos Mutantes:

Bem me lembro de Janeiro
Quando o sol me deu você
Meu presente de ano novo
Que agora o frio levou...

E continuará a levar todos os amores, desamores, verdades, mentiras, paixões, solidões, o frio não levará só coisas boas, mas também as ruins; por isso temos de pagar o preço. Hoje a melancolia tomou conta da nossa conversa, leitor. Mesmo com a necessidade de uma conversa divertida, ela apareceu, como o frio aparece de repente. Teremos outras ocasiões para isso, quando nossos corações em frangalhos forem reestruturados e recuperados, mas que manterão as cicatrizes da guerra que travamos com eles. É com pesar que me despeço hoje de você, leitor, minha companhia semanal, que conversa comigo, quando a felicidade se faz presente.



Ps: A partir de hoje, eu e Kamila assinaremos nossos posts no final; muitos obtusos, porém queridos, leitores, têm perguntado e confundido qual post é de quem, se por acaso você tiver dúvidas, no final de cada post há o nome e a hora de quem postou. Também há o fato do estilo, que é claro, mas assim tiramos nossos desentendimentos, boa semana a todos.

R.R. Neto

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Ao perdedor a dialética.

Por acaso, hoje eu pensei na singularidade poética de cada um; na possibilidade de se escrever certo e de ser lido conforme esse mesmo certo.
Mas, nesta literatura do não-pertencimento, as correspondências não são calmantes, como deveriam ser.
Alguns têm a sorte de escrever errado e serem lidos certos. Só que a isso se chama bilhete premiado. Esporadicamente pode até ser que o poema sem métrica intencional seja recebido pelo leitor contemporâneo encantado com a sua ausência de formalidades (É que ele provavelmente nunca ouviu falar em sílabas poéticas e isso pouco lhe interessa).
Pois bem, há uma filosofia literária que se finda em batatas ao vitorioso da batalha. Se eu quero batatas? Deveria querer, contudo, corrompe-me uma recusa ao fim da guerra com uma destruição.
Onde as ruas não têm nome, os livros de cada sorriso e olhar são lidos como raridades. E mesmo que estas publicações sejam anacrônicas, os arcaísmos (mazelas?) conseguem harmoniosamente subsistir e coexistir às demais variantes.
Aqui vejo o poder resistente da eterna contradição: o melhor já foi, mas o melhor está por vir. Os dias ruins? Nem tão ruins assim.
A narrativa eloísta neo-testamentária dirá: “Eu vim para os fracos”. Isso explica tudo: a fraqueza será a força – os últimos serão os primeiros. Insegurança. Dependência de uma tese para existir: não ser tão orgulhoso a ponto de não crer.


Ao vencedor a dialética.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Paradoxo da Nostalgia

Saudade é a designação comum às plantas da família das Dipsacáceas. Desapontado, Leitor? Foi só uma brincadeirinha para iniciar o texto de hoje.

Palavra única que designa esse sentimento também único, o qual se manifesta de diferenciadas formas e objetivos. Saudade é o sentir ausência, falta, desejo de retorno. Saudade é sentir o mundo incompleto, sujeito sem predicado, signo sem referente. Todo mundo sente saudades, a todo o momento.

Existia uma menina, pele branquinha, cabelos escuros, olhos grandes e marcantes, sorriso singular. Ela mudou-se sozinha, nova casa, nova cidade, novos amigos, novas verdades. Mas era tudo muito incompleto, muito estranho, muito agonizante. Ela sentia saudades.
Há diferenciados tipos de saudade, aquela saudade que não vai passar nunca, dos tempos infantis, quando você ia para a casa da sua avó e ganhava uma moeda para comprar bala, ouvia sempre o mesmo conselho: ‘não gaste tudo de uma vez’. Saudades que todos temos, dos nossos amiguinhos, todos crianças, ‘malinos’, achando que o mundo cabia na garganta, com apetite de aprendizagem, vontade de mudar o mundo. Há também a saudade que o coração sente, daquele amor não acontecido, do amor esquecido, do amor acabado; saudade essa que cresce, e as vezes se torna quase insuportável. Saudades dos melhores amigos, aqueles, bichinhos, nossos cachorrinhos, gatos, periquitos, papagaios, iguanas, cavalos e todo o tipo de animalzinho pelos quais desenvolvemos afeto. Saudade das brincadeiras adolescentes, com aquele indício de ‘maldade’, dos beijinhos escondidos, das verdades escritas nos diários. Saudades da família, quem mora mais perto, quem mora mais longe, alguém que nos faz falta, saudades da família são diferentes, são mais ativas, mas verdadeiras, nos entristecem algumas vezes. Dos nossos amigos de colégio, aqueles palhacinhos que nos incomodam, os pentelhos que nos irritam, aqueles que nos aconselham, ajudam, riem e choram conosco, aqueles que levamos depois.



E a menina se lembra todos os dias de tudo isso, de tudo aquilo que ela gosta e sente falta. Só que ela se esquece de algumas coisas, mas é normal, todos nos esquecemos de algumas coisas; Esquece que também no novo lugar há, e se ela quiser, sempre haverá, algo do qual sentir saudade, caso volte a sua cidade. Então ela sorri, chora sorrindo, e sente saudades novamente.



Quem não sente saudades? De tudo que já viveu de bom, dos tempos que não voltam, do que hoje não acontece mais. Quem não sente saudades de um amor, um familiar, um amigo bicho? Sempre há do que se lembrar. Já disse alguém ‘recordar é viver’ e viver é criar recordações, boas, más, há sempre o que aprender. A saudade é o sentimento único, expressado por essa palavra única e que torna as pessoas únicas no nosso coração.









PS: É uma música que me lembra muita coisa, me dá saudades.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Surpresas

Certa vez, numa discussão feia, uma pessoa afirmou (perguntou) para a outra: _Eu te conheço muito bem, sei do que você é capaz, como que você pode ter feito isso? Ao que a outra respondeu: _Só eu me conheço, só eu sei do que sou capaz e do que não sou, só eu que posso te dizer se fiz ou não.

Enfim, como sempre, esse tipo de ‘causo’ sempre tem um fundo no qual buscamos mostrar, explorar, exemplificar, algo nos textos, o de hoje é como conhecemos ou não as pessoas. Você conhece bem sua mãe, seu pai, seu irmão? E seu professor? Seu vizinho? Ou melhor, você conhece o seu melhor amigo bem o suficiente? Quanto você, leitor, conhece das pessoas?

Existem muitas pessoas que saem por esse mundo afora gritando que conhecem as pessoas, mesmo que as olhem já na primeira vez, todo mundo já conheceu alguém assim? Não? Estimado Leitor, deveras a realidade é diferente do que todos nós conhecemos, as pessoas nos surpreendem de diversas formas que não podemos nem imaginar, todos nós sabemos disso, é uma verdade universal.

Você um dia descobriu que seu amigo disse ou fez algo que você não aprovaria? Você se surpreendeu com uma atitude de seus pais? Você fez algo que não achasse possível de fazer? Surpreendemos-nos conosco também. Mas o mais interessante é que cada pessoa só pode conhecer melhor que as outras, a si mesmo. Não devemos testar ninguém, pois a reação pode ser imprevisível.

Conte, caro Leitor, você acha que conhece alguém o suficiente? Conhece casos de pessoas que se surpreenderam com alguém que achavam conhecer profundamente? Nossos dias passam e nos surpreendemos cada vez mais.

domingo, 30 de agosto de 2009

Nem na minha cozinha.




Divertido pensar que quando a sociabilidade está indo para o brejo, as pessoas ainda têm um lugar dentro da sua casa onde os pensamentos podem ser discutidos. Onde? Caro leitor, aonde? Eu digo: na cozinha. É ali que os pensamentos da família sobre determinados assuntos são expostos, onde são apresentados conhecimentos sobre o mundo e onde ocorrem as melhores discussões.

Na sua cozinha tem televisão? Muitos leitores me responderão que sim, mas a televisão na cozinha é sempre diferente, a filha fala da roupa e do cabelo da atriz com a mãe, o filho comenta com o pai as últimas escalações da Seleção, ou vice-versa; enfim, a cozinha é um dos poucos espaços que ainda trazem o contexto social para dentro da casa.

Algumas expressões surgem com esses acontecimentos ocorridos dentro de casa, como aquela tia chata que adora se meter em tudo na vida das pessoas quando escuta algo na sua casa e se mete dizendo: ‘Mas isso nem lá na minha cozinha!’.

Alguém aí já teve algum problema para contar a família e esperou a hora do almoço, o intervalo entre o almoço e aquela gelatina com creme de leite que acaba ficando na geladeira depois que você conta? Ou quando todos esperam uma grande notícia que você trará, e sentam-se à mesa e ficam te olhando sem servir o almoço ou jantar até que você conte? Vá, leitor, algo assim já ocorreu com você, não?

Repare nos dias de festas na sua casa, sua mãe na cozinha preparando a comida, com suas primas mais velhas, enquanto sua avó reclama do tempero que elas não fizeram direito, o conhecimento que passam umas pessoas para outras na cozinha (nesse caso as mulheres, geralmente). A cozinha se tornou um dos poucos meios restantes de interação social, as notícias, as brigas, tudo se passa agora na cozinha. Lembremos que essa interação abrange especificamente a interação familiar.

As melhores discussões na cozinha são aquelas discussões políticas do seu pai com seus tios e avôs. Seu pai, encostado na pia, criticando do partido de direita enquanto seu tio defende o partido sentado numa cadeira, e seu avô reclama dos dois enquanto pega algo para beber na geladeira.

A cozinha já foi um lugar de receber visitas. Para o leitor que tem uma avó mais idosa, e vai visitá-la, geralmente é recebido na cozinha, para um café com biscoitos, sempre é servido de algo, questão de educação para a pessoa que está recebendo a visita. Mas, ultimamente, as cozinhas estão se tornando lugares mais plásticos, com todos seus novos designs e estruturas minimalistas, as pessoas passam a comer em suas salas de jantares ou salas com suas televisões 52” LCD escutando o jornal e mandando um ao outro fazer silêncio, Gostaria de hoje reivindicar a volta da cozinha como ela sempre foi, um ambiente de interação e aconchego,



Mas conte-me leitor, você lembra-se de alguma história da sua cozinha?

quarta-feira, 22 de julho de 2009

‘Enigmando’

Muitas vezes eu me pego a pensando: “Como age a tal ‘paixão’?”. E não encontro uma resposta clara para isso. Caro leitor, como você definiria o conceito de amor? Claro, sim, bem, ‘well’, você acabará me perguntando sobre qual tipo de amor estou falando e eu acabarei respondendo que o amor é o mesmo, só o redirecionamos, não? Perdão, fui presunçoso.

Quero tratar especificamente das escolhas do amor, ou da paixão. Começo questionando: ‘por que as pessoas se apaixonam por estranhos’? É simples a pergunta, não? Mas, a resposta é simples? É simples dizer que nos apaixonamos por estranhos? Creio que não. Porém, ainda questiono.. Não seria mais fácil apaixonar-se pelo melhor amigo? Pela pessoa que conhecemos mais profundamente? Por que não casar-se com um melhor amigo? Eu ainda respondo estas questões assim como responderiam outras pessoas: ‘As pessoas se apaixonam pelo misterioso, elas entendem que devem estar com outra pessoa para descobri-la. ’

Santa burrice, diriam alguns, mas isso não é verdade? Creio que dessa forma nós acabamos nos decepcionando tanto em relacionamentos, pois chega uma hora que não há nada mais para se descobrir, então se perde a ‘magia’. Agora, por que isso não acontece com os melhores amigos que temos? Por que, afinal, depois de conhecer estas pessoas profundamente, não nos enjoamos delas, a magia não acaba? Aceito como resposta: “Nós não dormimos ao lado desta pessoa nem acordamos com o bafo matinal dela”. Sim, aceito como resposta, mas não serve como resposta, não, não serve. Desculpa que se esfarrapa; isto sim. Por que se apaixonam por desconhecidos e aceitam o bafo matinal deles? Ah há! Peguei você leitor, e agora, confuso leitor.

Embaraçado leitor, não desista agora do meu texto, ele hoje se confunde, não se entende, mas a paixão e o amor são assim também, não entendemos. Quero continuar meu questionamento e continuar minhas afirmações. O amor não seria mais fácil, ao aceitar os erros do outro / Me interrompa! Leitor! Diga para mim que o amor é aceitar também os erros e defeitos! / Mas amar aquele que já conhecemos, já aceitamos os erros e defeitos, não torna tudo tão mais simples? Já conhecemos as manias, os defeitos, os erros, as qualidades, que são tão boas.. E melhor! Pare para pensar, o que você procura nas pessoas? Nos desconhecidos? E vai acabar numa contradição, ou não, num curioso caso... Procuramos nos desconhecidos o que vemos nos nossos melhores amigos! Certeza leitor, minha absoluta presunção diz que muitas características que procuramos em outros, que achamos impossíveis de encontrar em uma só pessoa, já existem em alguns dos nossos melhores amigos.

Chega leitor, acho melhor cortar o assunto, você deve pensar que perdeu seu tempo lendo isto, mas acabarão por reparar melhor nos melhores amigos em como eles são quase a perfeição que você busca. E quando você encontra essa perfeição em outra pessoa, você se torna amiga dela e não o que você queria. Talvez isso se deva a um sentimento de incesto que acaba por barrar essa relação mais íntima com melhores amigos, talvez o medo de errar e perder a amizade daquela pessoa, mas, como diria alguém por aí, se não vale arriscar no amor, por que amar?


Perdi meu tempo.


(nova música no player)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A luneta mágica.

"Se o mundo é de enganos, se a vida é de ilusões, se na terra a felicidade do homem está nas ilusões dos sentidos, e nos enganos da alma,eu quero iludir-me e enganar-me para ser feliz".

Eu tenho uma leve e um pouco verificada suspeita de que Joaquim Manuel de Macedo foi precursor do que estudamos hoje como a genialidade literária brasileira. Eu gosto do prazer de ter a razão.

Existe uma suposição, de alguns séculos, repleta de abscesso. A inflamação implicitamente mencionada provém de uma ferida que parece nao querer cicatrizar.
Esse demonstra ser o grande problema de se querer possuir a verdade.

O avanço no tempo do universo foi bastante significativo. A História pôde ser constituída. Isso me faz sorrir (Sim, eu, ainda estou aqui). É o tal do Metal Contra as Nuvens mesmo, principalmente no tocante à última estrofe. Se os meus símbolos forem lidos, serei eu mesma quem escreve e não o meu heterônimo, que é a terceira pessoa.

De todas as possibilidades desenhadas, nenhuma sobrou para que pudesse ser apagada, é por isso que as letras se acumulam. Quem tem perguntas tende a manifestar-se, porque elas doem. Quem doem? As perguntas?

Se as perguntas são as feridas, as manifestações ajudam a cicatrizá-las? Pensei sobre isso agora, e creio que, infelizmente, o apostema será imortalizado com a arte. A imortalização de uma crença, de um porquê, torna passível de serem lembrados os dias nos quais houve crucificação. Entretanto, há um contraponto: Eu vejo libertação na cruz. E agora, sinceramente, depois de hesitar um pouco, não acho que essa metáfora foi mal posta. Ocorreu-me que relembrar, recriar, rever e reconstruir são infinitivos de um propósito de salvação.

Eu posso ser salva quando não tiver um pingo de razão.
A salvação é uma arte. A busca por ela, também.


quarta-feira, 1 de julho de 2009

Proliferação neo-barroca.

Talvez aquele que grita mais alto seja o que grita para si mesmo.


É engraçado se afogar na sucumbência. Um bilhete premiado e um vento que sopra e o tira da mão. Tudo bem, até aí tudo bem. O grande sobrenatural mesmo é quando, sem pensar, sem pensar?, um passo é dado em direção ao lixeiro. Não se pensou na conseqüência, afinal, não é comum ganhar na loteria.
Supernatural.
É por isso que hoje será criada uma nova teoria da causalidade. A sua, a minha causa. A nossa causalidade que nos faz “fazer”.
A brincadeira do “ser”e seus opostos. Um não-momento. Um não; vários. Detalhes pulsantes ocupam um imaginário impalpável. Alguns imaginários provavelmente são palpáveis, como daqueles humanos que bem se aparentam de bocas cerradas.
A construção de segurança implica uma construção de identidade. Eu temo. Temo dizer o que sou e posteriormente não ser mais. Temo a desconstrução; sobrevivo.
Não sei se quero ser poeta, ouvi dizer que poeta não é feliz, nem triste. Poeta não vive; poeta teoriza sobre a vida dos outros, observa, e teoriza mais uma vez. Isso também me assusta.
Quero a futilidade das coisas de vez em quando, só pra contemplar uma almôndega saltitante sorrir.
.
.
.
E eu continuo porque a chuva não cai só sobre mim.


Relient K, por favor, fale o resto por mim.

domingo, 7 de junho de 2009

Azáfama


Todos os dias em que saímos de casa, para trabalhar, para estudar, para passear, enfim, nos deparamos com milhares de pessoas diferentes que passam do nosso lado, cruzam nosso caminho, pedem as horas, olham “torto”, sorriem, pessoas que nunca mais veremos, ou se as vir, será como a primeira vez novamente. Muitas dessas pessoas estão apressadas, andando com ligeireza para chegar a um destino que está pré-determinado, algo que só mudaria se não nos condenássemos a essa ditadura das badaladas.

O leitor está andando pela rua, despreocupado, pois acordou cedo e tem tempo para ir com calma ao seu destino quando, em alguns milissegundos, é levado de encontro ao chão por uma pessoa com pressa, sôfrega, ou como alguns mais regionalistas diriam “indo tirar o pai da forca”. Seu cotidiano é interrompido por uma pessoa que está oprimida pela ditadura das badaladas, na qual sua vida se torna um inferno, você deve seguir cada milésimo de segundo no seu cronograma afim de não ser castigado.

Curioso, não é, leitor? Mas o que essas pessoas dependentes do relógio, essa droga controladora da vida, não sabem, é que mesmo que elas sigam todos os passos “milimétricamente” medidos, elas serão castigadas da mesma forma. Seu humor decai, seu rendimento em casa e no trabalho, na escola e no tratamento com as pessoas também decai, e você se julga “a última criatura da terra”.

Qual a razão da pressa? Por que raios temos que pronunciar a maldita frase “Desculpe, estou com pressa!” quando nos encontramos com um velho amigo ou parente na rua. Será que isso foi implantado nas nossas mentes quando éramos pequenos, rosados, fofinhos e inocentes nenês? Será então que quando nos sistematizam na sociedade para que sigamos uma conduta adequada e esperada pelos outros “viciados em tempo limite” no ato de registro dos nossos humildes nomes no denominado cartório?

Olhe por esse lado leitor, você tem o dito livre-arbítrio? Ou você é só mais um dos oprimidos pelo sistema? (Leia-se sistema como esse regime de horários; não pretendo e tenho minha posição acerca do tal “sistema” criticado por muitas bandas suburbanas hipócritas). Alguém já pensou em tirar algum dia do mês, DO ANO, que seja, para incorporar o “flâneur” de Baudelaire?

Fica a proposta, alienados leitores, sejamos “flâneurs” uma vez na vida, e veremos que nada deve regular a nossa vida, nem um miserável aparelhinho com um barulho irritante, que conta cada passo de nossa vida.


Só nos esquecemos do tempo quando o utilizamos
(Charles Baudelaire)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mais um enigma de voz narrativa.

Das palavras que buscam a imagem, das imagens que buscam palavras. Um prefácio. Teme-se que o problema esteja, realmente, no porquê do intocável na estante. “Tem alguma coisa errada” – ele pensou. Deve ter. Aquela estória das maçãs não convencem muito, e mal explicam. É angustiante.

Esta voz narrativa queria mesmo era desumanizar essa arte; ou humanizá-la, a ponto de ser extremamente prosaico, inadequado e vergonhoso. O maior dos medos, no entanto, seria a probabilidade disso mesmo.

O mesmo. A lacuna.

Os brinquedos com os quais ele não brincou.

Ele aprendeu a respirar sozinho, a pegar ônibus em cidade grande, a carregar bagagens, a andar muito, a correr, a escrever, a ler, a compor, a ouvir, a sentir. A arriscar e a ter os pés atrás. A sentir dor e a conviver com ela. Ele descobriu que o tempo se move e nunca vai se mover.

A expressão social do pensamento inaugurou, para ele, a vantagem da construção de discursos. Mas não aqueles discursos musicados e musicáveis. Refiro-me àqueles sem formas pré e pós-estabelecidas. Este.

Amar os sonhos que restarem frios? Não é bem o que se quer. Qualquer que seja a chuva dessas cidades, vá!, que molhe mesmo, molhe muito. E haverá sempre muita água pra regar todo o imóvel. Imóvel, a palavra adjetiva.

Nos tempos de paradoxo e não-soluções, mover-se na sombra é não ter mais o referencial de antigas certezas. O Sol fugia dele, mas de qualquer maneira, a existência da maior estrela nunca fora questionada.

Só que ele queria muito que o seu aviãozinho voasse. Que alguém pudesse entender sua visão de mundo, lá do alto, ou ao menos respeitá-la, permanecendo ali. Parecia simplório, pra alguém que se abstinha de fazer pedidos. Porque, para o criador do tal avião, apegar-se ao detentor de poder só para receber presentes era...., era feio. Mas, e se ele reconhecesse que era fraco, perdedor, e nada sem a loja de presentes?


Talvez assim pudesse tirar sua face da vitrine.


terça-feira, 28 de abril de 2009

Taciturno desassossego

Sinta a batida, sente isso, leitor? Não, você não está escutando a mesma música que eu, pode nem estar escutando nada. Sinta então o vento! Mas sua janela está fechada agora? Hoje está difícil, leitor, muito difícil. Desisto, como assim? Fácil assim? Vamos falar de pessoas! (grande coisa, não, leitor?).







Algumas vezes eu já falei daquelas pessoas que entram na nossa vida e insistem em não sair, insistem não, mentira, você sabe que na verdade é sua culpa elas continuarem lá. Mas elas merecem, sabe tu, que elas merecem. Pessoas necessitam de você? Não, sabemos que não, mas você necessita delas? Ah! Isso sim, sabíamos nós, que sim.

Conheço um par de pessoas assim, quando falo um par, quero dizer que são duas pessoas, duas mesmo, difícil serem mais. Pessoas que quando estão presentes, mesmo que não falem nada, deixam o ambiente agradável, e o leitor há de convir, parece que falei de uma decoração, pessoas com cara de paisagem.

Não não não! E não! Não falarei de pessoas com cara de paisagem nesse meu post de parágrafos curtos. Falo de pessoas agradáveis, queridas, bonitas, bem vestidas, glamourosas, dignas, com caráter e algo na cabeça. Pessoas que tem o que falar, o que conversar, e por mais que estejam entediadas, não entediam você.

Pessoas assim são difíceis de encontrar, certo? Então por que não se tornar uma delas? Leia livros, assista a filmes, vá ao teatro, admire pinturas, escute música... Dentro dessas atitudes, pode-se incluir o quesito (bom e ruim de acordo com o gosto de quem faz), veja o bom, veja o ruim, desenvolva a sua opinião e não termine repetindo o que escuta na televisão.

Alienação, palavra-chave da vergonha nem tão vergonhosa na qual as pessoas atualmente se encontram. Escutar, engolir, repetir, ler, não entender, inventar, escutar, engolir, repetir........... É necessário realmente um sentimento antropofágico, conceito já difundido tempos atrás, no século 20.

Seleção, prega a antropofagia. Selecionemos o que vamos usar, desenvolvamos uma opinião crítica, levantemos nossos malditos traseiros e reivindiquemos algo melhor para todos. Percamos o sentimento individualista de sempre.

Egoísmo, sentimento sublime do ser humano, o bicho-homem está bichado. Precisamos de mais pessoas que nos façam sentir melhor, talvez para pisá-las.

Altruísmo, do que mais precisamos nesse momento e somos hipócritas o suficiente para levantar a bandeira e não seguir exatamente o que pedimos ou dizemos.

Veremos hoje, amanhã, qual será o próximo passo, mas com certeza contaremos sempre com a presença das nossas amizades paisagem, ou não, aquelas que realmente valorizamos e as vezes não entendem a nossa afeição.

Agora somente eu, fica tu, ficam vocês, é tudo silêncio.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Necessidade de abstração?

Menos sintético hoje. Pensar em demasia pode conceder ao seu interior algo que ainda não existe.
A linguagem corporal parece bastante eloqüente quando diz o que não se quer ouvir. Abstrai-se. Num outro extremo, a chegada e o sorriso comovem ao ponto de jamais ousar pensar naquela abstração.
Dois passos atrás. O suficiente para não criar o improvável e o bastante para enxergá-lo ao longe. Vantagem desnecessária; só para depois ter de retornar mais dois passos e esconder-se nas belas moradas. E talvez sejam realmente belos os sorrisos, confortantes os olhares. Contudo, o ínterim entre o não ser e o ser é sobretudo a imagem de alguém gesticulando ao nada com uma boa música.
Temores destroem, vontades corroem. E eu, eu, ah , primeira pessoa, apareça! Eu tento me mostrar aos poucos, na medida em que as paisagens se tornam consoladoras e o sol não pareça tão duro de ser encarado. Eu vou, eu volto. Vou, volto. Vou? Volto? Ó, sensibilidade incoerente...
Remover as mazelas propulsoras de um determinado olhar é tão gracioso quanto a possível experiência transcendental, à qual ainda não se teve acesso. Uma elevação de alma e uma reelaboração desta, um “oi, tudo bem?” com continuidade, uma edificação de possibilidades.
Possibilidades pro que talvez possa nem existir; mas pensar, ah, o pensar não pode te revelar, primeira pessoa, você está segura dessa forma.
Caso a bússola vier a ser traidora, é válido lembrar que o improvável gosta mesmo de se esconder, embora não seja inalcançável.
Em não-síntese, as conseqüências precisam criar alguns laços, portanto. E sim, claro, elas são odiáveis em momentos de total coerência.
Uma demanda às manifestações da analogia, aos anos vinte, à trilha sonora, à criança de olhos brilhantes que contempla a cidade, de dentro de um ônibus. Por favor, que meu silêncio seja lido, interpretado e guardado.
Que não haja abstração da esperada relação locutor-interlocutor.
Obrigada.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Guarda-chuva paradoxal





Imagine-se sentado em um sofá esperando alguém para te acompanhar em um filme qualquer. Todos nós já passamos por isso, não? Leitor? Hoje escrevi esse meu post sentado em uma dessas poltronas, numa espera de segundos aparentemente inacabáveis.

Na minha ânsia de analisar os ‘bichos homens’ e também os tão evidentes ‘homens bichos’ descubro, ou melhor, percebo como existem categorias e sub-categorias de bichos homens. Categorizam-se. A maioria são jovens que procuram se encaixar em uma categoria, por ‘n’ motivos.

Olho a minha volta e posso classificá-los de acordo com o que eles dizem uns dos outros. Emos, roqueiros, rappers, metaleiros, mauricinhos e patricinhas, piriguetes, etc.. Há também aqueles que se encaixam numa categoria diferente, uma espécie de sub-categoria; os que usam camisetas de times de futebol, os que estão com família; mulheres fashionistas e recatadas, liberais e linhas-dura. Uma diversidade desmedida.

Há quem critique esse tipo de inclusão, porém eu não o faço, de certa forma, é interessante que existam grupos heterogêneos, ao invés de todos sermos iguais. Seria divertido se fôssemos? Diga-me, desmedido leitor, o que você acha que seria do mundo se fôssemos todos iguais?
Antecipo a melhor e mais provável resposta:

“Se fôssemos todos iguais fisicamente e na maneira de vestir, as pessoas aprenderiam a dar melhor valor para quem realmente merece; se importariam em conhecer as pessoas como elas realmente são, e não pelo que vestem ou como (ou com quem) parecem.”
Não seria interessante? Talvez sim. Mas o fato é que a grande maioria das pessoas, se assim ocorresse, não seria nem metade do que pensam ser. Não existiria o chamado ‘amor a primeira vista’ como muitas pessoas gostam de afirmar, a não ser que tal sentimento transcenda o limite do corpo, seja incontrolável.

Fiel Leitor, nesse momento você é igual a todos os outros, você tem o que mostrar? Você é uma pessoa por completo ou uma unha postiça pintada com esmaltes coloridos com pequenos strass colados nas pontas?

Muitos bichos homens sucumbiriam a essa pergunta, não conseguiriam dizer que poderiam ser algo além do que tentam mostrar ser. Talvez esteja na hora de conhecermos cada um que fica embaixo desse guarda-chuva paradoxal chamado ser humano. Desanuviemos a visão do mundo e encontremos o verdadeiro eu defeituoso debaixo da casca. Você, leitor, irá se surpreender.

Vou-me, pois minha companhia já chegou e a deixarei acolhida debaixo do meu guarda-chuva paradoxal, assim me conhecerá e saberá se sou ou não digno de sua companhia.




Vivemos ainda no tal mundo arlequinal!



domingo, 12 de abril de 2009

Desça!

Oi. Hoje se é um pouco daquilo tudo e tem-se o peso do que não se foi capaz de construir. Ao criar alguns ditames, exclui-se da posse de possibilidades.

Em verdade, não há como explicar por que não se pôde correr. Ou sim. Vislumbremos uma tentativa.
Amarram-se os próprios pés. É mais seguro, existem caminhos que não merecem ser percorridos, os pés sensíveis e delicados poderiam voltar em mau estado.

Raciocínio primeiro: Por que os pés eram delicados?
Raciocínio segundo: Por que mantê-los delicados?
Raciocínio terceiro: Existe mesmo um terceiro raciocínio?

Não haverá nenhuma construção lógica aqui, apesar de que, ultimamente, a organização das idéias foi capaz até de montar silogismos. Inúteis, claro. Se eles fossem aplicáveis, hoje não haveria texto algum elaborado por alguém que resolveu amarrar as mãos também. (Parece mais seguro, sabe?)

A hipótese de amenizar a escrita com a chegada do esperado parece consoladora e de grande alívio. No entanto, o que se questiona é realmente para quê. (?) Qual a utilidade prática de um acontecimento confortante em momento de “MoonLight eyes”?

Muito provavelmente, o real acontecimento confortante é este.
É.

A sobrevivência tão mencionada carece de limites. Sua expansão ganhou tamanha dimensão que as mãos tomarão vontade própria, desamarrar-se-ão, puxarão a cordinha e descerão lá na beira do mar, naquele bairro que não se sabe o nome.


“Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu”.




Tchau.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Perseverança

Há motivos para perseverar, vos digo que há. Muitas pessoas perderam a esperança na vida, perderam o seu sentido de perseverança. Como disse no meu último post, há pessoas que montam sua barraca no seu coração e lá permanecem. Estas pessoas são o principal motivo pelo qual devemos perseverar na escritura do nosso caderno vital.

Caros leitores; Vamos conjeturar. Conjeturemos que por algum motivo uma destas pessoas saia da sua barraca no seu coração e o explore, por todos os lados e descubra o ponto exato onde deve ficar. Essa pessoa se torna o âmago do seu coração, se torna a luz dos teus olhos, move tua vida de uma forma que você nem poderia imaginar. Mas tudo não é como sempre queremos que seja. Infelizmente a vida é cruel nesse aspecto e os ‘homens bichos’ são mais abundantes que os ‘bichos homens’.

Você acaba de receber uma ligação, apreensivo leitor. Uma pessoa importante te liga, uma pessoa que tem uma ligação com a pessoa que está no seu coração. Pede para que você por amor a pessoa que te move, deixe essa pessoa, pois não acredita que tal pessoa será feliz com você. O que você faria, leitor? Abandonaria a pessoa para que ela seja feliz? Ou com sua certeza de que o abandono só dará razão para quem te ligou, dá força para a pessoa que amas a fim de mostrar que tudo que tu sentes é verdadeiro?

Ah! Leitor! Eia! Leitor! Não tenho como prever, ainda, o que você irá responder nessa questão. Mas tenho que concomitante a isso, dizer que a vida é curta, a juventude passa e não devemos deixar as pessoas que amamos de lado, dizem que ninguém é insubstituível, mas, seu coração é substituível? Quando uma pessoa se torna seu coração, sua vida, sua alma, se torna tão intrínseca a você, é possível substituí-la?

Não façais nada do que te arrependereis depois, vós sois únicos. A vida é uma só e deveis aproveitar cada momento. Poderiam ser as palavras do tal Deus que todos falam, não? De certa forma é, mas não quero entrar no mérito da questão. Só quero dizer a todos os leitores, não deixem passar na sua vida alguém que você ama, mesmo que depois não dê certo, melhor do que se arrepender de não ter feito.

Por hoje é só, leitor. O que você faria? Persevere na sua vida por tudo o que você deseja.

domingo, 5 de abril de 2009

Intrepidez

Algumas pessoas chegam à nossa vida, montam sua barraca e permanecem dentro do nosso coração. Pode parecer piegas caro leitor, mas, é realmente o que acontece, não?
Mas não quero falar dessas pessoas hoje, e sim, das atitudes que tomam que nos influenciam em todos os aspectos. Atitudes intrépidas, recheadas de significados, muitas das vezes nos incutem um gás novo na alma, uma vontade absoluta de seguir em frente e trilhar ainda mais nossos oblíquos caminhos.
Pessoas, ah, pessoas. Bichos homens que inventaram uma sociedade cheia de regras e frescuras. Criaram inventos absurdos, puderam voar, ir ao espaço, comunicar-se remotamente. São esse bichos homens que também são responsáveis por essas barbáries que assistimos de vez em sempre pela televisão. Bichos homens complicados, absolutos, bichos...
Intrépido Leitor, você tem um ídolo? Não vale dizer mãe e pai que são ídolos da paciência por nos agüentarem durante a vida inteira, mesmo quando saímos de casa eles ainda se preocupam. Tem? E o que esse ídolo fez de bom? Salvou alguém? Ajudou o mundo? Ou é seu ídolo somente por uma bela voz? Atitude diferente? Beleza descomunal?
Há pessoas e pessoas, bichos homens e homens bichos. E muitas vezes escolhemos homens bichos como nossos ídolos. Estes são expressivamente baldados e não tem representação nenhuma de honra ou bravura. Devemos fazer uma grande escolha durante a escritura da nossa história. Ser bicho homem ou homem bicho.
Faça sua escolha humano leitor, e, traga um novo tom a sua vida, novas cores e novas amizades, novos bichos homens e novas felicidades.
Pela sua coragem, sua determinação, sua felicidade, força, honra, luta, parabéns!



PS: Estou com dificuldades de postar por conta de provas na faculdade, agradeço desde já a compreensão.

sábado, 21 de março de 2009

A poeira da escada.

Há poucas pessoas neste mundo que realmente não têm sonhos. Dentre as que sobram, as ‘sonhantes’, se dividem em vários segmentos. Um dos segmentos é aquele das pessoas que sonham somente com coisas alcançáveis, têm o ‘pé no chão’. E são infelizes.

Muito mais do que meras quimeras ou ilusões absurdas, os sonhos são mecanismos de fuga da cruel realidade para um ‘locus amoeno’, no qual podemos ser e viver o que quisermos. Algumas pessoas não conseguem entender o porquê desse lugar existir e não sobem pela escada de vidro que leva até ele, relutam no pé da escada enquanto vêem outras pessoas passando, subindo, aproveitando.

Leitor, qual seu maior sonho? Você pode alcançá-lo? Perguntas de difíceis respostas para alguns, de fáceis para outros. Os sonhos são de fato motivos pelos quais vivemos muitos de nós, sonhos materiais ou imateriais, possíveis e impossíveis. A beleza do sonho, o prazer de tê-los está realmente na luta que travamos para realizar os sonhos, a busca por um sonho é tão mais prazerosa do que o prazer de tê-lo facilmente. Buscar algo e ter o prazer de alcançar é deveras agradável.

Devaneado leitor, diga a mim qual o motivo pelo qual as pessoas infundir-se-iam ao pé da escada e somente olhariam para cima, para os outros que sobem e nunca subiriam para sonhar? Conheço uma pessoa, o leitor também conhece, ah! Como o leitor conhece... Essa pessoa tem sonhos também, mas sonha ao pé da escada, sonha em subir, pois já uma vez lá subiu. Todavia não alcançou seu sonho de imediato, e decepcionou-se. Desceu a escada e cá em baixo ficou.

Leitor, agora curioso leitor, pensativo leitor, que tenta de todo meio lembrar a pessoa que é assim, que conheces. Essa pessoa é você, eu, todos nós, e, a cada minuto que passa, mais alguém se infunde ao pé da escada junto a nós. Passou-se o tempo.

Olha aqui! Leitor! Subirei novamente a escada, mas, olhe novamente, deixo pegadas pela extensão dela, pegadas na poeira da escada, faz tempo que ninguém a usa. Suba comigo! Vamos sonhar novamente, com coisas impossíveis, coisas nem tão impossíveis, coisas muito possíveis; vamos sonhar com matérias e ‘imatérias’, amores e des-amores, alegrias e tristezas. Vamos sonhar com a vida, com a real vida.

E hoje leitor, que tal retirar a poeira da escada e alcançar o sonho que tínhamos de subi-la para lá encontrar um ao outro talvez num palácio de algodão-doce ou numa praça de balões coloridos, talvez pular numa piscina de gelatina. Ou, somente, lado a lado com quem mora no nosso coração.

Estou indo, e vou tirar a poeira da escada.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Por um novo truque de palavras.

Não que fosse mentira ou dissimulação, é que havia muros. Muitos deles tiveram exaustivas construções em tempos pausados e posteriormente retomados. Perpetuaram-se. Existe poesia numa cidade sitiada. As forças que a cercam foram processo de auto-criação, porque afinal de contas, bom seria mesmo se o sentir medo proporcionasse segurança.
Evidentemente, não há muito pra onde se mover. As opções são escassas e as limitações muitas. Um depende do outro, um espera pelo outro. Eles não sabem inventar acontecimentos. E quando sabem, porque fazê-los, visto que o outro, sempre o outro, pode não desejar compactuar com aquela poética criação absurda transcendental. A criação de um só. Ou de ambos. Mas isso é uma questão quase que de adivinhação, normalmente.
“Bem, mas não era apenas isso, e nem com essa simplicidade. Não era apenas isso: nesse ínterim o tempo ia passando, confuso, vasto, entrecortado, e o coração do tempo era o sobressalto e havia aquele ódio contra o mundo que ninguém lhes diria que era amor desesperado e era piedade [...]”.¹
A normalidade é uma necessidade provável na ausência da mensagem. No entanto, essa “ade” não se comunica bem com os grandes muros. O conflito incessante entre construção e destruição deveria ser lúdico, na medida em que algum projeto é arquitetado; nem sempre assim ocorre. Inseguranças notáveis, do jogo enquanto comportamento humano. De qualquer forma, You have my attention², sempre.
Obrigada, Clarice.


1. “A mensagem”, Clarice Lispector.
2. Copeland – You have my attention.

sábado, 14 de março de 2009

C’est la vie

Advertência: Livre-se de todos os seus pré-conceitos e fanatismos antes de começar a leitura da postagem, assim você conseguirá chegar ao âmago do assunto.

A linha da vida é escrita todos os dias por todos nós, cada pessoa continua sua linha desde o ponto inicial feito por sua mamãe, e, dia após dia risca segmentos de reta para que a vida continue. O que mais nos desperta curiosidade nessa linha é justamente os borrões que deixamos nas páginas, são ações que desencadeiam reações, nas quais é possível aprender muita coisa.


Já contei aqui uma história que aconteceu dentro do ônibus, aliás, vale ressaltar que os ônibus e as pessoas que utilizam esse meio de transporte podem todos os dias te dar exemplos variados de vida e/ou de atitudes. Caro leitor, volto agora a uma história que aconteceu dia destes, não é lá uma grande história, foi só um fato que me roubou tento.

Sentado num banco ali pelo meio do ônibus, mp3 no ouvido, cantarolando sem sons as tradicionais músicas pop que me acompanham por aí, e de olho em quem entrava e saía do ônibus alimentando meu péssimo costume de reparar nas pessoas. Pois entra um rapaz, em torno de 1,70 de altura, pele morena do sol, cabelos morenos, camiseta e jeans. E logo atrás entra outro rapaz, em torno de 1,80, pele branca, cabelos alvos, camisa de botões branca e calça cargo. O leitor mais atento agora dirá, mas como você se lembra de todos esses detalhes? Sinto cheiro de mentira! Ah! Incrédulo leitor, quando digo que tenho o péssimo costume de reparar nas pessoas, acredite, eu me lembro de todos os detalhes. Na minha frente havia um banco vazio (ou cadeira?) onde se sentou o rapaz moreno, em seguida o rapaz claro chegou e largou a bolsa para que o outro carregasse. Conheciam-se. Apesar da troca de palavras não ter sido praticada, falavam-se por breves olhares. A moça que sentada estava ao lado do rapaz moreno deu sinal de saída e levantou-se. O outro se sentou ao lado do que já estava sentado, pegou sua bolsa e respirou.

Volto ao ponto em que parei quando falava no início. Como já mencionei outra vez, as ações e reações das pessoas alteram nosso cotidiano, alteram nossa vida de alguma forma, e aqui onde parei é o início do borrão.
O rapaz de cabelos claros apoiou levemente a cabeça nos ombros do outro rapaz, e este deu lugar ao aconchego daquele. Em determinado momento houve um beijo tímido, no rosto, uma troca de carinho, algo diferente do que se costuma ver pelas ruas e esquinas. Era final de tarde, o cansaço dominava a todos dentro do ônibus, uma sensação mormacenta pairava no ar. As pessoas não perceberam o que lhe conto leitor, talvez, como já presenciei outras vezes, fizessem caras de poucos amigos, caras e bocas de horror, tudo advindo dos pré-conceitos arraigados na mente de cada um. Creio que a mensagem ainda não chegou ao fundo da sua mente, amigo leitor. Hoje, depois de todas essas voltas, quero falar de felicidade. Assunto já tão debatido, tão desgastado, algo que estamos cansados de ouvir, mas, que é presente em cada momento da nossa vida, pense bem, você é infeliz? Se for, a felicidade está presente na ausência de si mesma, confusão. Quero hoje questionar o direito e não a necessidade. Esta, sabemos que todas as pessoas têm, aquele, é o que todos devemos reivindicar. Eu tenho o direito de ser feliz? Ou o leitor pode julgar que não? Quem pode condenar as pessoas por elas serem o que são ou reivindicarem o direito de ser?

Leitor, a história que eu contei hoje serve para ilustrar como todas as pessoas podem ser felizes sem necessitarem de julgamento, de aprovação. Ou você é daquelas pessoas lupanares que andam pelas esquinas da vida agarrando-se com aqueles (as) perdidos (as)? Dentro do limite que a sociedade impõe, isto é, boa conduta, caráter, comportamento adequado, sem exageros sociais, apesar de ser hipocrisia dizer assim, pois muitos dos ditos líderes se encaixam nessas descrições; é perfeitamente possível ser e estar dentro do contexto social, infelizmente as pessoas é que impedem isso. Por que não deixar esses pensamentos deturpados para lá e cuidar da sua própria vida? Já é difícil manter o lápis no caminho certo, então não olhe para o lápis do outro ou você vai borrar o seu caderno, se o fizer, aprenda com o borrão para não repetir o erro novamente.

Não faça parte do ‘C’est La vie’ e continue dando com a cabeça na parede, você nunca vai conseguir derrubar a parede com ela. Só vai render dores e mais dores de cabeça para si mesmo.

Advertência tardia: Para os que não conseguirem livrar-se de tudo o que foi proposto, continue dando com a cabeça na parede, quem sabe um dia não consegue abri-la e arrancar tudo de lá. Para os que conseguiram se livrar do que foi proposto, deixe aqui, não vou devolver nada para vocês.

*Os posts aos quais me referi durante o texto são:
http://borradela.blogspot.com/2009/03/iogurte.html
http://borradela.blogspot.com/2009/03/era-uma-vez-um-emoticon-pensativo.html

quarta-feira, 11 de março de 2009

Kokoro

Era uma vez um emoticon pensativo. A moça que o usava tinha grande apreço por seu aspecto, sua mensagem visual e especialmente por sua cor amarela. Certa vez, numa das vezes em que o emoticon pensativo foi usado aconteceu de vir uma resposta inesperada! Um emoticon pensativo menina! Foi sublime o encontro dos emoticons, eles se completavam, ele com sua cabecinha amarela brilhante e ela com seu cabelo com amarradores. Vivem felizes até o presente momento.

Engraçado, muitas vezes pensamos em como será nosso futuro e sempre acabamos imaginando um futuro acompanhado, ou por acaso alguém imagina um futuro solitário? É divertido, apaixonado leitor, ver o quanto podemos nos enganar pensando que o coração tem controle, quando você menos espera, foi. Li num blog(1) que o amor é um pacote de jujubas, no qual podemos pôr a mão e pegar uma ao acaso, ou ficar sempre escolhendo e acabar com o mesmo gosto na boca, este nem sempre é muito saboroso.
Quais são as necessidades básicas do ser humano? Comer, respirar, fazer suas necessidades? Poderiam surgir inúmeras respostas pra esta questão, mas, eu gosto de responder que as relações sociais são a necessidade básica essencial. O ser humano é certamente complicado demais para tentar descomplicar a si próprio. O coração bate no ritmo certo para que o sangue circule e oxigene o corpo, mas também é ele o ‘indivíduo’ responsabilizado por vários dos aborrecimentos que afligem as pessoas. O que há de tão especial nesse tal de ‘coração’?

O coração é a poesia, não se define, não se explica, não tem limites, mas, tem ritmo, tem compasso, tem medidas. É mutável e imutável, é bom e é mau, é feliz e é infeliz. Alegria e tristeza povoam esse órgão que ora causa dor, ora é analgético. Irado leitor, quiçá saberás me dizer o quão doloroso pode ser negar ao coração sua voga, sua essência. Esse tipo de negação pode acontecer, ser comum, mas não deve em nenhuma caso ser levado adiante. Que tal livrar-se de amarras e abrir o coração? Em bom japonês se diria:


Kokoro wo sotto hiraite gyutto hiki yosetara
Todokuyo kitto tsutau yo motto sa aa (2)

.....................bem......................mau..............
.....................sentir.....................agir.......
.............coração...........................bondade.......
...............verdade...............................carinho....
............respeito........................sinceridade........
.........................vontade.........................
.....falar....................ouvir..........................
..entender...................compreender...................
..pensar....................pensar.........................
..silêncio................silêncio........................


......
(kokoro= coração)
(2) http://letras.terra.com.br/naruto/119259/ (Abra um pouquinho seu coração e traga seu parceiro(a) perto de ti, seus sentimentos farão seu parceiro(a) se sentir melhor). (sic)

sábado, 7 de março de 2009

Iogurte

Penso que rotina faz parte da vida de todos. As nossas ações, reações, divisões e pensamentos são deveras instrumentos importantes dentro da nossa rotina, e, algumas coisas alteram esta, as ações, reações, divisões e pensamentos de outras pessoas.
Como de costume entrei no ônibus, lotado, pessoas esmagando-se, empurra aqui, empurra ali, puxa a sineta, um espirro, um celular tocando, um nenê chorando, o cobrador tossindo, tudo que de normal acontece em um ônibus lotado. Alguém já sentou nas cadeiras reservadas? Todos que usamos ônibus conhecemos aquelas cadeiras antes de passar a catraca, reservada para idosos, deficientes, gestantes, obesos, etc. Pois eu sento nelas, quando existe alguma sobrando, mas tenho em mente sempre, ressalto que sempre, devo deixar um deficiente, um idoso, uma pessoa que necessite sentar, não só por estar reservado, mas por educação. Estava o ônibus cheio como citei, e todas as cadeiras estavam lotadas, fiquei pela frente mesmo, não havia maneira de passar a catraca. Pois sobe para o ônibus uma senhora idosa, em torno de 70 anos e um senhor, aparentemente saudável e que não se enquadrava na categoria ‘acima de 65 anos’. A senhora com um pouco de dificuldade, viu uma pessoa levantar-se (que estava ali só porque não tinha outra necessitando) e lhe oferecer ajuda para sentar, a pegou pela mão e a ajudou a sentar, a ajeitar as coisas no chão, nada mais que a obrigação que temos, mas também uma grande gentileza. E no outro lado, onde eu estava, havia uma mulher sentada, mulher esta que nem cogitou a hipótese de levantar-se para a tal senhora se sentar. O senhor que entrou naquele momento perguntou se essa senhora necessitava daquele banco, se tinha necessidades especiais. No início não entendi o motivo da pergunta, mas, a mulher respondeu ‘vou até o bairro tal’ num tom grosseiro, mal-educado, típico de gentinha de baixa laia. O senhor ao ouvir essa resposta, puxou de seu bolso uma carteirinha, daquelas que as pessoas com certo grau de deficiência física têm. Mostrou e falou ‘eu sou deficiente físico e esse lugar está reservado para mim’. Vibrei naquele momento, a total afirmação, a defesa do direito, achei estimulante a atitude daquele senhor. A tal mulher levantou-se e falou ‘pois toma esta merda’ e bufou como um quadrúpede. Subiu-me o sangue e só não entrei no mérito da discussão para que não ocorresse uma briga. Transpus a catraca e me ative ao ferro da escada, esperando o destino final. São voltas e voltas que acabei de dar e enfastiei o leitor, mas continue, estou certo de que entenderão essas minhas voltas, delicados leitores.
Pergunto: o que o leitor concluirá disso tudo? Que a educação é importante?
De fato, a educação é importantíssima e é um legado que devemos deixar para as gerações futuras, ensiná-los a respeitar a verdade, os direitos, os deveres, etc. São estas ações tão contrárias que vivenciamos nos mostrando o quão podre muitos seres humanos se tornaram e como eles educam seus filhos e netos. As pessoas estão tão focadas no hoje, no agora, no presente, que esquecem a necessidade do ‘pensar no futuro’. O futuro não só nos aguarda como também aguarda quem amamos e respeitamos; Como então, pode existir atitudes tão baixas, tão animalescas (que me desculpem os animais), tão vis, egoístas? Será que o ser humano não percebe? Percebe. É óbvio que o ser humano percebe, ao ponto de ser hipócrita em sair por aí pregando a paz, pregando a igualdade quando só está pensando no seu próprio rabinho e enfeitando a sua fuça com frivolidades e coisas ordinárias. Alguém agora pode até levantar a bandeira que diz: ‘Calma aí, você está exagerando’, mas o benevolente leitor há de convir que só o exagero chame a atenção desses reles. Por outro lado, há pessoas maravilhosas espalhadas pelo mundo, estas não necessitam de aprovação, somente precisam de alguém para ajudar, ou para apoiar, pessoas que lutam, guerreiam pelos direitos do próximo e estão dispostas a ir até o fim por isto. É amigo leitor, a vida não é fácil, mas alguém um dia disse que ela é?
Todos esses acontecimentos me fazem questionar a necessidade que o ser humano vê no ‘ser feliz’, esse tal sentimento que todos buscam e poucos dizem ter, o mais interessante que dia deste eu li uma coluna no jornal, na qual o cronista contava que se conhecesse o cara que inventou o ‘ter uma vida feliz’, ia dar umas belas bolachas nessa pessoa, pois que raios são esses de ‘ser feliz’? Pedia que nos acostumássemos com a tristeza e que fossemos felizes dessa forma (?!). Divertido, não? Pois então, fatal leitor, não é que a felicidade pode existir? Deixo no ar dessa vez que cada um tente encontrar a sua felicidade, lembrando sempre que na felicidade, para ser completa, não existe a necessidade de pisar, nem passar por cima de ninguém, sejamos todos felizes consigo. Então vamos tomar iogurte.

(pense em Iogurte como um flavorizante)


Os comentários estão liberados, para comentar é só clicar em comentários, escrever o seu comentário, clique em nome/url e publique o comentário. Se você tiver um perfil no blogger, use ele para se identificar.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Uma falsa metáfora, talvez.

É verdade, eu preciso, outra vez, achar um jeito de dizer uma coisa sem dizê-la.
Sempre existiu um espelho aqui na parede e, não sei por que motivo, havia numa daquelas projeções de mim a necessidade intrínseca de observação. A visão a partir de um determinado ponto pode fazer o que quiser com os seus alvitres. Creio ser isso o que sempre ocorreu à imagem percebida. Percebida, claro, porque ver é algo bem complexo, enxergar então,uma completude sem mensuração. Mais uma dicotomia à espera de sua análise.

Os argumentos sempre encontraram base no que se percebia, e eles solidificavam-se. As idas e vindas ao espelho se faziam agradáveis quando a percepção era compatível com o esboço. Permanências foram criadas. Comodismo e adequação nasceram. Falsas raízes surgiram. Foi quando a chuva parou. Eu não sei ao certo o que o fenômeno pluviométrico tem a ver com isso, mas o fato de regar o que cresce do órgão de fixação e absorção produz frutificações incríveis, mas não necessariamente positivas. Foi quando teve-se de encarar o duro sol.

A ignorância é muito confortável. Por que abrir mão dela? Talvez porque você seja masoquista. Deleitar-se com o próprio sofrimento? Eis o convite.
Perdão. Mas, "quais são as palavras que nunca são ditas" ?

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Be a Marley

Que me desculpem os leitores por tratar de um assunto tão discutido por aí, mas prometo que trarei algo ‘a mais’ do que simplesmente recomendações. Sou um cinéfilo maníaco, assisto todo tipo de filme, seja ele qual for a temática, o gênero, a duração, a procedência, etc. O gênero que muito me agrada é o terror, apesar de existir em mim uma personalidade admiradora das comédias mais esculhambadas e dos dramas mais avacalhados dos tempos. Foi este lado que me condicionou a assistir estes dois filmes:

‘Marley & Me’ (no Brasil: ‘Marley & Eu’) http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=19349

‘Burn after reading’ (no Brasil: ‘Queime depois de ler’) http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=19981

O primeiro é uma comédia romântica com elenco formado pelos já consagrados Owen Wilson e Jennifer Aniston e o segundo uma denominada ‘comédia inteligente’ com um elenco de invejar os mais bem-feitos filmes de Hollywood, entre George Clooney e Frances McDormand passando por John Malkovich até Brad Pitt.

O que impressiona em ‘Queime depois de ler’ é a procura dos diretores Ethan e Joel Coen (do excelente ‘Onde os fracos não têm vez’) [1] por um humor que faria rir somente um seleto grupo, ou no caso, os norte-americanos e seu famigerado humor negro. Mas posso afirmar que não alcançaram o seu objetivo com excelência. O filme tenta jogar na cara do telespectador um pouco da alienação, violência, dramatização e derivados que os filmes ‘hollywoodianos’, por assim dizer, têm trazido em seu conteúdo. Brad Pitt como sempre mostra seu potencial se transformando em um personagem distinto de praticamente todos que já interpretou, consegue ser chato o suficiente para que bocejemos e possamos tirar um tempinho para ir ao banheiro. A atuação do grande elenco é muito superior a necessidade existente para fazer filmes desse gênero, mesmo que os atores se sintam muito confortáveis atuando nessas produções. O filme traz, em suma, uma enrolada história, com encontros e desencontros nada convenientes, um humor ‘raso’ que só toma forma quando o filme está para acabar. Alguns cinéfilos hipócritas defendem o filme como ‘comédia inteligente muito acima do povo brasileiro’, idéia esta que eu repudio com todo prazer. Cito como argumento para refutar essa hipótese, comédias realmente inteligentes que não utilizam humor esculhambado para tirar gargalhadas prazerosas do público, são elas:

‘Shopgirl’ (no Brasil: ‘A garota da vitrine’)

http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=10775

‘Eternal Sunshine of the Spotless Mind’ (no Brasil: ‘Brilho eterno de uma mente sem lembranças’) http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=8914

‘Being John Malkovich’ (no Brasil: ‘Quero ser John Malkovich’) http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=1149

Dentre outros..

‘Queime depois de ler’ consegue nos trazer o tédio de ‘Matadores de velhinhas’[2]dos mesmos diretores e entedia o público ao máximo, fazendo com que muitos desistam do filme nos primeiros 35 minutos e os mais fortes fiquem até os 50 minutos. Eu, que sou cinéfilo inveterado fiz em torno de cinco pausas no decorrer do filme, inclusive assisti a outro filme numa dessas pausas.

Meu lado admirador de comédias esculhambadas e avacalhadas entrou em depressão após assistir ‘queime depois de ler’ por ser uma ‘comédia inteligente’ que de comédia não tem nada. Inteligente ou não é o filme que eu recomendo que assistam numa noite de insônia na madrugada do carnaval que vocês estiverem gripados.

‘Marley & Eu’ foi a grande revelação da semana, dentre a lista que assisti, este era um dos quais eu não esperava absolutamente nada. Depois do sucesso do livro, o qual eu não tive o menor interesse em ler até repetir o sucesso nos cinemas e refletir nas vendas de cãezinhos ‘labrador’ pelo mundo inteiro. O fato de ser uma história real pode ter influenciado no tom novo que o livro trouxe e a adaptação para o cinema não poderia ter ficado melhor, ‘Marley & Eu’ é absolutamente recomendado.

O cão como companheiro, a vida ao lado do cão, o melhor amigo, a perda, etcetera; são temas já há muito tempo conhecidos dos telespectadores, desde a famosa ‘Lassie’[3] até o nosso amigo ‘Beethoven’[4]e todas as sequências, lembrando do muito antigo ‘Rim Tim Tim’, até hoje nada de tão novo havia sido criado com o tema ‘cão’. O que difere, então, o filme (e conseqüentemente o livro) dos outros é a descrição de Marley como o pior cão do mundo. O filme rende muito boas risadas a qualquer um que o assista e despertará a simpatia de quase todos os que gostam de cães.

O final surpreende, a forma como são arrancadas lágrimas do público é incrível exatamente pela declaração de amor ao cão, mesmo ele sendo ‘o diabo com forma de cão’. As morais tão conhecidas da amizade entre homem e animal são reforçadas com um gás que fará vibrar até o mais desanimado telespectador. O que peca em ‘Marley & Eu’ é a não tão boa atuação de Owen Wilson que deveria ter ficado nas suas comédias ‘esculhambadas’. Jennifer Aniston, famosa pelo seriado ‘Friends’, tem especial destaque com seu jeito meigo e a sua especial interpretação como mãe. A emoção no final é cortada por toques de humor que fazem rir os telespectadores mais emotivos, misturando o salgado das lágrimas ao doce da risada nos trazendo um filme que termina de certa forma num tom agridoce não tão comum no gênero ‘comédia romântica’. A trilha sonora peca pela total adequação, e a moral não precisaria ser tão explícita, pois assim incutiria no telespectador uma reflexão.

Por fim, recomendo totalmente o filme para aqueles dias mais desanimados ou para assistir com todos os amigos comendo brigadeiro com pipoca e tomando aquele guaraná barato comprado na venda da esquina.

Well, Be a Marley.







Marley & Eu

Queime depois de ler (O trailer faz até parecer legal)