terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Um prólogo sobre coisas que me fazem emudecer.

A maior vantagem de escrever é o longo tempo que antecede o ato, neste caso, quase emudecido, um processo dos mais lentos. Escreve-se porque existem muitas perguntas e muitos medos. (salva-me, pessoa indeterminada no contexto) No entanto, não basta que existam perguntas, elas tem de doer. Só se questiona aquilo que realmente incomoda.

"Volto-me para mim mesmo e encontro todo um mundo dentro de mim" ...*

Um mundo todo 'in'. as perguntas são, normalmente, para dentro; pelo menos no caso em questão. Às vezes penso que a finalidade da existência do universo, para todos nós, seja o encontro das paralelas. O porquê da brevidade e o silêncio esporádico de extrema eloqüência entre acontecimentos são detalhes que, realmente, fazem-me emudecer. Silêncio eloqüente, meu amigo, é este mantido agora por necessidade de paciência, por necessidade de se conservar um orgulho abalado.

Eu não espero mais, porque eu continuo acordando todos os dias e isso já é o suficiente para lembrar que o tempo não pára. A locomoção contínua promoveu, ao longo da imutabilidade, uma percepção do que poderia ser feito. E nunca é tarde. Nem para os surtos adolescentes tardios. Saudáveis, alegres, incertos. Não pularei mais as etapas, desejo não envelhecer tendo a mesma idade. Gerúndios me consomem, mas eu implorarei pelo desejo do fazendo, crescendo, sobrevivendo e vivendo.

Está aqui o que se diz antes. Antes de calar-me diante das coisas que me fazem emudecer.


*Werther; Goethe.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A música de cada um.

(Há um player de música ali na barra da direita, dê play nele para escutar a música enquanto lê esse post, a música o complementa .)
Ao mesmo tempo em que respiramos, que pensamos, que andamos, agimos, rimos e fazemos todo tipo de coisa, estamos rodeados por milhares de ruídos, de sons que provêm de fontes infinitas, desde o som de você respirando até o som quase imperceptível da corrente elétrica na sua lâmpada ou em qualquer aparelho. É deveras correto afirmar que todo esse conjunto de sons são nada mais, nada menos que música. Música? O Leitor certamente me perguntará; Mas esses sons são barulhos, ruídos, às vezes chatos e irritantes, que geralmente nos aborrecem, mas eu volto a repetir, é música! Pense bem amigo leitor, você não percebe, mas cada ‘barulho’ que existe na natureza é só uma nota, mas se escutarmos todos ao mesmo tempo, selecionando qual irá ouvir; você poderá escutar música até naquela bronca aborrecida da sua mãe. Mas vamos falar então do que chamamos realmente de música. Não importa o seu estilo, não importa o seu ‘gosto musical’, não podemos negar que todos gostamos de música, sua mãe gosta (mesmo que você não considere aquela coisa cafona, música), você leitor, gosta, seu pai, sua tia, seu vizinho, seu irmão, a atendente da padaria, enfim, a música é do agrado de todos. Agora provavelmente você estará escutando a música no player aqui do blog (Vivaldi – As 4 estações), e verá que é deveras incomum, não é uma música que escutamos todos os dias, exceto em filmes, ou na casa daquela vizinha que é metida a cantora de ópera, o caso é que músicas assim foram (e são) consagradas até hoje. Mas vamos falar do porquê da música ser tão importante na nossa vida, do porquê de gostarmos tanto dela.
Como diria nosso bom amigo Dom Casmurro, ‘Desgraçado Leitor’ o que todos os seres humanos precisam, almejam, gostam? Dinheiro? Fama? Poderíamos ter várias respostas para essa pergunta, mas vamos ao que tudo isso traz? Prazer, o ser humano quer ter prazer, e a música é uma forma de prazer incrível, seja quando você a escuta, seja quando você dança junto com ela, é o prazer que nos faz sermos sempre tão fascinados por música. A música é um prazer inigualável, ela está dentro de todos nós, a sinfonia do corpo humano está em ação a cada minuto que passa, a música somos todos nós. Então, amigo leitor, é natural que usemos dela em determinados momentos, a música é remédio, a música é um calmante que em determinados momentos que a procuramos, nos entorpecemos com sua melodia, harmonia, vibração, tom, e tudo mais que a compõe. Quem de vocês leitores nunca escutou música num momento de tristeza? Ou de extrema alegria? Quem nunca falou num momento de comemoração ‘vamos botar uma música?’ Quem nunca disse ‘vamos por uma música pra animar?’ É meu amigo leitor, você está vendo agora que cada momento de sua vida já teve uma música específica, música esta que você nunca esqueceu, que está guardada até hoje aí, no fundo da sua memória. Seja de um primeiro amor, de uma decepção, uma música que te faz alegre, uma que te faz triste, seja o som da voz de alguém, tudo é música.
Se começardes a ouvir a música no início do post, deverás estar no outono ou no inverno, e o tom melancólico de despedida vai tomando conta, assim como o fim do post, peço-te, amável leitor, que bem percebas os sons, e alegre-se, a vida é uma sinfonia na qual cada um faz sua parte, e sendo bem regida, a fará tão bela quanto a música que estás a escutar. Despeço-me por hoje e agradeço toda atenção dispensada de agora e depois. A música corre em todos nós, ela está em todos nós, saibamos ouvir, saibamos apreciar a música de cada um.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

________________‘iss’u


Há pessoas que entram na sua vida para ficar. Aquelas que te atormentam o quanto podem e aquelas que estão ali para te fazer feliz. A capacidade do ser humano de se apegar a coisas ínfimas, a admirar atitudes simples é o que julgamos nos diferenciar dos chamados ‘animais’, essa capacidade nos traz a felicidade que tanto almejamos no decorrer da nossa miserável vida ou a torna lastimável.

Vamos ao assunto, pessoas que nos fazem felizes. Comecemos por imaginar uma situação comum, você está passeando, andando na rua, o sol brilha, a brisa é fresca, você reclama do calor, vê um pássaro sujando uma estátua, uma pessoa caindo de skate, um casal de namorados beijando, aquela senhora da casa azul de madeira tricotando aquele cachecol interminável, enfim, um dia normal (domingo, que seja) na vida de qualquer pessoa. Você para um instante, olha as horas no seu aparelho celular, resolve sentar no banco e ele está quente, levanta e respira fundo, acaba por sentar na grama perto daquela árvore que no outono suja a grama toda de roxo com seus frutos, todavia é verão e a sombra dela te parece agradabilíssima.

E aí, imaginou?

Pois é, espero que sim. Você senta, olha para os lados e alguém senta junto de você, alguém que você não conhece. Você fecha os olhos, finge que nada é nada, e pensa consigo ‘ai meu Deus, que será agora?’ Então vira e dá de cara com a pessoa que vai te fazer feliz sempre que você a vir; Larga um tímido ‘oi’ e a resposta vem enérgica, quase invadindo sua mente. Você se apresenta, começa a conversar, pergunta de onde vem a pessoa, conta algumas coisas do seu dia, fala do tempo, aliás, o tempo é sempre assunto para tudo não? Passam-se uma hora e meia e você já está contando coisas pessoais suas. OPA! Pararemos aqui, como assim contando coisas pessoais suas, eu não sou assim! Ah! Eu te digo ‘claro que é’, se nunca fez isso é porque não encontrou a pessoa certa.

Já conheceu alguém dessa forma? Ou de forma similar? Na aula, no cinema, no parque?

São pessoas que conhecemos ao acaso que nos proporcionam esse tipo de intimidade, pessoas que não te devem nada, nem você a elas, pessoas, às quais satisfações não interessam; só a sua presença. O tempo passa, mudanças ocorrem, coisas acontecem, a pessoa pode ou não se mudar, o tempo vai escasseando e vocês passam a se encontrar cada vez menos até que a relação se resume aos telefonemas, claro que são telefonemas longos, emotivos, divertidos, entretanto não se compara aos dias na presença daquele ser.

A vida tem surpresas, ou como diria nosso querido amigo Octavio Paz , ‘O tempo é portador de mudanças’.

Quem diria! Um dia a pessoa te liga, ou abre a caixeta azul do seu messenger e diz ‘Vamos nos ver, preciso de você’, mil emoções, um caleidoscópio de boas imagens se monta em torno de você e a lembrança que te ocorre é você falando no último telefonema ‘iss’u.

(‘iss’u é abreviatura de I miss you)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Verve. Ou quase.

E quem é que pode julgar um erro? (Eu não preciso dessa resposta; estou ciente.é apenas um começo de minha escritura)
Porque num ímpeto de querer acertar, pode-se fazer todo o fulgor desaparecer; e alhures, sem tempo determinado, as tentativas frustradas de reconstrução, inovação ou de receber certas respostas, somem. A visão embaçada de um pseudo-novo-mundo passa a existir sem perscrutação. Seus pés falam pelas circustâncias afloradas... E o caminho trilhado já não se define como deveria. Bem-vindo aos pedaços de uma vida. Enquanto você os junta descompassadamente, tudo que é êfemero vêm tomar o lugar do importante; a criatura de traços e expressões não definidas se confunde outra vez e sua magreza exprime a necessidade de falar e ter repostas niveladamente recíprocas. Esse encanto está ausente há tempos (é, Renato, permanecem da mesma forma; da mesma forma que Elis tentou explicar também*). Triste. E não.
A humanidade defenestra seus devaneios e esquece que estes sim são eternos. A futilidade a consome. Deus tem os braços abertos em vão por um longo período, até que se machucam aqueles e resolvem dar-lhe atenção. Triste. E não. O sofrimento faz-se um belo sinal nessas horas. E útil para o retorno.

O dia se faz completamente sinestésico (um teatro mágico me falou sobre “dor doce”) e muitas vagas e informes letras acumulam-se... Mesmo com a necessidade de estar atônito, a inércia prevalece. Ditando às horas como aproveitar o mistério da humanidade, o Sr. Tempo se desfaz e reconstrói um novo ar. Porque ele sim deve saber aproveitar-se; ensina-nos, meu caro? Há dificuldade de se entender toda essa promiscuidade da breve viagem dos desconhecidos ao lar da indecisão. Conhece aquelas pontes?, caminhos, estradas, sabe-se lá; todos esses são referentes às suas aptidões e convencimentos. Estando errado, volte e encontre outros destes abrindo espaço para suas mãos cansadas.

*Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais. =)

sábado, 17 de janeiro de 2009

Matemática e Linguagem



A matemática diz ser tão exata em todos os seus sentidos que esquece suas afirmações sobre a possibilidade de sua aplicação em absolutamente tudo. Será mesmo que ela funciona em todos os sentidos? Ou a linguagem é tão ilimitada que quebra as fronteiras matemáticas? Tente ler o conto abaixo e procure usar um princípio matemático para entender o que diz.

Pequeno conto de (des) Amor

Amanda estava radiante, acabara de receber a carta que esperara durante muito tempo, era bonito de se ver. Dona Alzira chegou ao quarto da filha ao ouvir aquela profusão de alegria, abrindo a porta recebeu um abraço que a deixou sem palavras.
Anísio andava pela rua sem rumo, vagava pelo quarteirão com a cabeça doendo, não sabia como tudo aquilo poderia ter acontecido ao mesmo tempo, eram muitas provações pelas quais passaria; o começo de uma nova fase em sua vida.
Ângela sabia que a notícia que carregava na sua bolsa poderia revirar a cabeça de seus dois melhores amigos, era um prazer indescritível poder entregar tão importante notícia.
Desceu as escadas e abriu a porta da frente, os poucos degraus da varanda, desceu em um rápido pulo atingindo um passante na calçada.
Anísio parou um instante em frente a uma casa cor de areia quando se virou para olhar o movimento da rua, sentiu um forte empurrão e foi ao encontro do chão. Levantou-se de ímpeto balbuciando alguns poucos palavrões para a jovem que o atingira, a indignação estampava sua face quando a garota de súbito o abraçou e saiu correndo, desaparecendo ao dobrar a esquina.
Levantou-se com um pouco de dor na sua mão direita enquanto escutava alguns resmungos do rapaz que acabara de derrubar, o abraçou precipitadamente e saiu correndo para ver sua amiga.
Subiu tão rápido aqueles degraus que seus joelhos acompanharam a bolsa ao encontro do chão, a campainha foi esquecida quando girou a maçaneta e abriu a porta numa invasão.
Seu dia estava péssimo antes disso, não havia nada de animador, ligou o computador, a televisão, o rádio e nem seu livro favorito serviu para que acalmasse a alegria que invadia todo seu ser.
Ângela acordou com o barulho da porta da frente sendo aberta, calçou suas confortáveis pantufas e abriu a porta reclamando da hora.



quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Good Morning, Fire Eater

Os meus imperativos estão desgastados, mas ainda me é possível ousar dizer "sobreviva!". Não é porque um melodrama insiste em preencher um determinado espaço que a jornada provará o escopo novelístico.

Insiste e persiste em existir uma frontaria moldada pelas tentativas. A questão é que elas, muitas vezes equivocadamente classificadas como erros, pintam-nos uma fachada colorida.
Eu tenho medo das cores. O meu cenário "longa-metragem remoto" é bastante cômodo. Azul, amarelo e vermelho me assustam. Os diferentes comprimentos de onda de radiação eletromagnéticas visíveis são super heróis, que às vezes desejam transmitir seus superpoderes. Isso também me assusta. Contêm uma beleza capaz de modificar a involuntariedade do relógio.

Um tempo. Muito diferente do que deveria ter sido, muito distante do que poderia estar sendo. O tempo devagar, O tempo que não tem pressa. Antes, os ponteiros que corriam e não me deixavam acompanhá-los. Hoje, o retrocesso para o recomeço: a dor, a lágrima, a indiferença e uma possível reconstrução. O prefácio, talvez.

Eu sobrevivo.
Good Night, Fire Eater.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Ninguém, o Próximo e Si mesmo.

Ninguém, o Próximo e Si mesmo.

São duas horas e onze minutos da madrugada de quinta-feira, dia quinze de janeiro do ano de dois mil e nove e estou escrevendo para ninguém.

Alguém com certeza deve conhecer ninguém, ninguém é famoso por diversos nomes em todo o mundo, ninguém é citado a todo o momento, sendo ele procurado por diversos crimes, é ganhador de muitas loterias e títulos honorários, ninguém é também várias coisas, ninguém tem as profissões que inventam do nada, enfim, ninguém supera ninguém.

Ninguém, onde quer que você esteja, de onde você estiver lendo isto, ninguém é especial para mim. Conhecer ninguém foi um momento sublime da minha vida, ninguém era tão especial, ninguém era tão carinhoso, ninguém era tão amigo, como ninguém, ninguém existe.

Alguns leitores me perguntarão, o que foi isso? Por qual motivo você escreve para ninguém, ele não existe!? Sim, eu responder-ei, ninguém existe, e ninguém é capaz de aprender a cuidar de si próprio sem precisar pisar ou ferir alguém. Mas alguém já é outra pessoa para a qual escreverei mais tarde. Ninguém percebeu como o planeta está, ninguém já pensou em tudo o que seria necessário para vivermos melhor, ninguém tentou mudar o mundo. A culpa foi de todos nós, ninguém disse isso, ninguém quer culpar alguém, mas ninguém prefere desculpar-se, ceder seu lugar ao próximo, e o próximo quase nunca é compreensivo, difícil conviver com o próximo. Ninguém é desapegado totalmente dos seus bens, a ponto de doar tudo ao próximo, e o próximo é tão apegado, que quando recebe algo de ninguém, agarra esse algo com toda a força. Ninguém é completamente amoroso, dedicado ao próximo, mesmo que o próximo só pense em si mesmo, e ninguém tem ciúme de si mesmo.

Ninguém culpa a si mesmo por causar todos os problemas, as guerras travadas no interior de ninguém são culpas do próximo que causa dor a si mesmo, e destrói a si mesmo, mesmo que todo o tempo o próximo queira estar ‘com si mesmo’. É estranho lembrar de ninguém em tempo nenhum, ele esteve tão próximo de si mesmo que não se pode lembrar o que ninguém disse. Ninguém encara a realidade, encara os fatos, coisa que ninguém quer encarar. É necessário que todos sejam um pouco de ninguém, para que alguém possa mudar. Se somente ninguém mudar, nada mudará, e se nada mudar, tudo continuará o mesmo. É com pesar que digo que ninguém fez nada até agora porque precisa do próximo para concluir o seu trabalho, e se o próximo só pensar em si mesmo, nada será feito.

Não culpem ninguém por não fazer nada, sejam o próximo de ninguém, e alguém seguirá seus passos e será seu próximo e assim por diante. Pense em ninguém como seu total apoio, seja o apoio de si mesmo e ninguém te recompensará por isso. É divertido imaginar o trabalho de ninguém sendo feito por si mesmo, o próximo ficaria chocado.

Espero que ninguém leia isto e ninguém entenda o que quis dizer.

São duas horas e quarenta e seis minutos da madrugada de quinta-feira, dia quinze de janeiro do ano de dois mil e nove e escrevi para ninguém.