quarta-feira, 20 de julho de 2011

Nada e aniversário

Eu devo ter muitos medos, mas o mais curioso de todos eles é o temor por um prefixo. O prefixo do deslocamento. Eis uma história: Dois meninos brincavam na floresta, um deles tinha uma cabeça muito grande. Acontece que havia uma competição na brincadeira dos meninos. A figura pueril não descrita venceu e afirmou que seu coleguinha não pôde fazê-lo porque tinha a cabeça muito grande.

Um dia, algum velho barbudo com roupas esquisitas resolve apropriar-se da narrativa juvenil para explicar determinado conceito para mentes que acham que podem crescer. O tamanho da cabeça do menino não importava mais, muito menos a prepotência do outro. Os sentidos são deslocados. Agora um fato pode virar uma figuração e uma alegoria de outro fato (ou teoria), que nada tem de próximo a uma brincadeira de criança.

O prefixo me assusta. A Clarice falou uma vez que tudo que ela dizia não era o que ela dizia, e sim outra coisa. O sentido desliza e escapa. Escapa pra onde? O “meta” mete medo. Se a linguagem é sempre metáfora e o bonito da vida é sempre não dizer o bonito da vida, olha... Nós estamos mal.

Primeiro me disseram que estamos pobres de experiência, depois, que a fábula deixou de ser possível. Malandragem humana essa de se distanciar das coisas pra não se dar ao trabalho de conhecê-las em sua essência. Voltemos, por favor. Há muitas vozes lenientes e muitas histórias bonitas a serem ouvidas. Uma delas sempre me diz, todo ano: “Feliz aniversário! Envelheço na cidade”.

A verdadeira importância da história dos meninos foi esquecida quando transposta para o mundo das ficções. Quem eram esses garotos? Que sentimentos os moviam? Quem realmente venceu a competição? O jogo incessante que se tornou a linguagem neste tempo – este que não nos espera mais - fez de nós um vazio de respostas e um acúmulo de “sentidos meta” (ou de não-sentidos?). Desculpem-me, mas o sujeito é um só, e o autor nunca morre.

O meu nada é um nada mesmo. E o aniversário, é o aniversário de fato. Vinte e três parece um grande número – um número grande. Bem grande.

Um feliz aniversário, para mim ou pra você!


sábado, 2 de julho de 2011

Foco, rumo e a chuva

     Dias chuvosos sempre são interessantes, exceto quando duram muito tempo. A chuva é um espetáculo, não lembro de ter dito dessa forma; são aqueles milhões de gotículas caindo e aos poucos envolvendo cada molécula do que tocam... Será a chuva uma metáfora do amor? Não o sei, pois definir ambos é complicado, podemos nos ater a uma explicação simplista e questionável desses conceitos. Creio que sim. Mas não acredito que o assunto seja interessante ou adequado a esse momento, talvez falar da falta ou dos humanos que a sentem ou pelo que sentem é mais plausível, mas não o faço. Nem um nem outro.

     É complicado entender, principalmente quando o que se tenta entender não está em você e sim no outro; entender as reações e palavras, as verdade e inverdades, o real e o simulacro, complicado quando só há um lado dessas reações e palavras, se quase todo o tempo só há verdade, real, pura, explícita. Muito melhor, verdade, já que dessa forma você não precisa primeiro 'adivinhar', é, tão somente, entender. A compreensão é algo tão fluido, os diversos entendimentos dependerão da maneira como se colocam as afirmações, linguagem não dá conta, nunca, e é possível que a odiemos por alguns momentos.

     Será o amor, feito de linguagem? Não me atenho a esse ponto, pois não é meu foco hoje. Parece óbvio que o sujeito na linguagem 'criará' e fará usufruto somente do que nascer no seio dela. Mas esse não é o foco, álias, não sei o foco, hoje. Talvez não houve nenhum desde o início, ou poderia acontecer de o foco não me agradar e eu tentar mantê-lo só na linguagem mental, quem dirá?