terça-feira, 29 de setembro de 2009

O frio congelou nossos corações?




Calorosos leitores, a primavera chegou mais uma vez ameaçadora. Eu, que moro aqui nessas bandas do sul, mais uma vez assisto aos efeitos destrutivos da chuva. Não conseguimos ao menos ver as flores desabrochando, as árvores com suas novas folhas, sentir o calor do sol no fim da tarde. Só sinto o frio, esse vento frio, esse sentimento frio, essas verdades frias. Coração frio. Conhece esse sentimento, insensível leitor?

Esse sentimento frio, que consome, que destrói, ou melhor, desconstrói, é o amor... Mal compreendido, não correspondido, arrependido. Já tratei de amor algumas vezes, mas nunca dos problemas que traz. Já disse Camões, baseado na bíblia:

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer; (...)

Pois o leitor há de concordar comigo que isto é a mais pura verdade. Amor queima dentro do coração e o consome, o vai destruindo, ferindo, enquanto queima a felicidade se faz presente, quando não consegue ser alimentado, apaga, e deixa a brasa incandescente, ferindo, doendo, sentimento descontente. Atualmente os leitores e seus familiares, amigos, colegas, vizinhos, seu círculo social, há de ver que as pessoas estão deixando de amar, deixando de sentir; estão sempre buscando alguma forma de ficarem bem, e amaldiçoando o criador do termo ‘ser feliz’.
Aonde se escondeu a felicidade que finjo possuir todos os dias, não vê ela que sou um bom ator, mas que ao conhecê-la poderia me tornar muito menos artificial? A felicidade é presença de momento, pois a desgraçada (!) não é onipresente. Essa ubiqüidade é falta significativa em nossa vida, concorda? Melancólico leitor. Já disse a adaptação frásica da música Virginia, dos Mutantes:

Bem me lembro de Janeiro
Quando o sol me deu você
Meu presente de ano novo
Que agora o frio levou...

E continuará a levar todos os amores, desamores, verdades, mentiras, paixões, solidões, o frio não levará só coisas boas, mas também as ruins; por isso temos de pagar o preço. Hoje a melancolia tomou conta da nossa conversa, leitor. Mesmo com a necessidade de uma conversa divertida, ela apareceu, como o frio aparece de repente. Teremos outras ocasiões para isso, quando nossos corações em frangalhos forem reestruturados e recuperados, mas que manterão as cicatrizes da guerra que travamos com eles. É com pesar que me despeço hoje de você, leitor, minha companhia semanal, que conversa comigo, quando a felicidade se faz presente.



Ps: A partir de hoje, eu e Kamila assinaremos nossos posts no final; muitos obtusos, porém queridos, leitores, têm perguntado e confundido qual post é de quem, se por acaso você tiver dúvidas, no final de cada post há o nome e a hora de quem postou. Também há o fato do estilo, que é claro, mas assim tiramos nossos desentendimentos, boa semana a todos.

R.R. Neto

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Ao perdedor a dialética.

Por acaso, hoje eu pensei na singularidade poética de cada um; na possibilidade de se escrever certo e de ser lido conforme esse mesmo certo.
Mas, nesta literatura do não-pertencimento, as correspondências não são calmantes, como deveriam ser.
Alguns têm a sorte de escrever errado e serem lidos certos. Só que a isso se chama bilhete premiado. Esporadicamente pode até ser que o poema sem métrica intencional seja recebido pelo leitor contemporâneo encantado com a sua ausência de formalidades (É que ele provavelmente nunca ouviu falar em sílabas poéticas e isso pouco lhe interessa).
Pois bem, há uma filosofia literária que se finda em batatas ao vitorioso da batalha. Se eu quero batatas? Deveria querer, contudo, corrompe-me uma recusa ao fim da guerra com uma destruição.
Onde as ruas não têm nome, os livros de cada sorriso e olhar são lidos como raridades. E mesmo que estas publicações sejam anacrônicas, os arcaísmos (mazelas?) conseguem harmoniosamente subsistir e coexistir às demais variantes.
Aqui vejo o poder resistente da eterna contradição: o melhor já foi, mas o melhor está por vir. Os dias ruins? Nem tão ruins assim.
A narrativa eloísta neo-testamentária dirá: “Eu vim para os fracos”. Isso explica tudo: a fraqueza será a força – os últimos serão os primeiros. Insegurança. Dependência de uma tese para existir: não ser tão orgulhoso a ponto de não crer.


Ao vencedor a dialética.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Paradoxo da Nostalgia

Saudade é a designação comum às plantas da família das Dipsacáceas. Desapontado, Leitor? Foi só uma brincadeirinha para iniciar o texto de hoje.

Palavra única que designa esse sentimento também único, o qual se manifesta de diferenciadas formas e objetivos. Saudade é o sentir ausência, falta, desejo de retorno. Saudade é sentir o mundo incompleto, sujeito sem predicado, signo sem referente. Todo mundo sente saudades, a todo o momento.

Existia uma menina, pele branquinha, cabelos escuros, olhos grandes e marcantes, sorriso singular. Ela mudou-se sozinha, nova casa, nova cidade, novos amigos, novas verdades. Mas era tudo muito incompleto, muito estranho, muito agonizante. Ela sentia saudades.
Há diferenciados tipos de saudade, aquela saudade que não vai passar nunca, dos tempos infantis, quando você ia para a casa da sua avó e ganhava uma moeda para comprar bala, ouvia sempre o mesmo conselho: ‘não gaste tudo de uma vez’. Saudades que todos temos, dos nossos amiguinhos, todos crianças, ‘malinos’, achando que o mundo cabia na garganta, com apetite de aprendizagem, vontade de mudar o mundo. Há também a saudade que o coração sente, daquele amor não acontecido, do amor esquecido, do amor acabado; saudade essa que cresce, e as vezes se torna quase insuportável. Saudades dos melhores amigos, aqueles, bichinhos, nossos cachorrinhos, gatos, periquitos, papagaios, iguanas, cavalos e todo o tipo de animalzinho pelos quais desenvolvemos afeto. Saudade das brincadeiras adolescentes, com aquele indício de ‘maldade’, dos beijinhos escondidos, das verdades escritas nos diários. Saudades da família, quem mora mais perto, quem mora mais longe, alguém que nos faz falta, saudades da família são diferentes, são mais ativas, mas verdadeiras, nos entristecem algumas vezes. Dos nossos amigos de colégio, aqueles palhacinhos que nos incomodam, os pentelhos que nos irritam, aqueles que nos aconselham, ajudam, riem e choram conosco, aqueles que levamos depois.



E a menina se lembra todos os dias de tudo isso, de tudo aquilo que ela gosta e sente falta. Só que ela se esquece de algumas coisas, mas é normal, todos nos esquecemos de algumas coisas; Esquece que também no novo lugar há, e se ela quiser, sempre haverá, algo do qual sentir saudade, caso volte a sua cidade. Então ela sorri, chora sorrindo, e sente saudades novamente.



Quem não sente saudades? De tudo que já viveu de bom, dos tempos que não voltam, do que hoje não acontece mais. Quem não sente saudades de um amor, um familiar, um amigo bicho? Sempre há do que se lembrar. Já disse alguém ‘recordar é viver’ e viver é criar recordações, boas, más, há sempre o que aprender. A saudade é o sentimento único, expressado por essa palavra única e que torna as pessoas únicas no nosso coração.









PS: É uma música que me lembra muita coisa, me dá saudades.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Surpresas

Certa vez, numa discussão feia, uma pessoa afirmou (perguntou) para a outra: _Eu te conheço muito bem, sei do que você é capaz, como que você pode ter feito isso? Ao que a outra respondeu: _Só eu me conheço, só eu sei do que sou capaz e do que não sou, só eu que posso te dizer se fiz ou não.

Enfim, como sempre, esse tipo de ‘causo’ sempre tem um fundo no qual buscamos mostrar, explorar, exemplificar, algo nos textos, o de hoje é como conhecemos ou não as pessoas. Você conhece bem sua mãe, seu pai, seu irmão? E seu professor? Seu vizinho? Ou melhor, você conhece o seu melhor amigo bem o suficiente? Quanto você, leitor, conhece das pessoas?

Existem muitas pessoas que saem por esse mundo afora gritando que conhecem as pessoas, mesmo que as olhem já na primeira vez, todo mundo já conheceu alguém assim? Não? Estimado Leitor, deveras a realidade é diferente do que todos nós conhecemos, as pessoas nos surpreendem de diversas formas que não podemos nem imaginar, todos nós sabemos disso, é uma verdade universal.

Você um dia descobriu que seu amigo disse ou fez algo que você não aprovaria? Você se surpreendeu com uma atitude de seus pais? Você fez algo que não achasse possível de fazer? Surpreendemos-nos conosco também. Mas o mais interessante é que cada pessoa só pode conhecer melhor que as outras, a si mesmo. Não devemos testar ninguém, pois a reação pode ser imprevisível.

Conte, caro Leitor, você acha que conhece alguém o suficiente? Conhece casos de pessoas que se surpreenderam com alguém que achavam conhecer profundamente? Nossos dias passam e nos surpreendemos cada vez mais.