quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Macabéa.

Todos têm um centro unificador do mundo. Com medo de que o silêncio signifique uma ruptura, diz-se “Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?”.
Se sua estrutura tem um centro e se esse centro, a partir de uma desconstrução, pode ser abalado a ponto de estabelecer um dualismo, cuidado!, você também perguntaria sobre parafusos e pregos.
Fui desconstruída hoje, ou melhor, fui descoberta. E pior, por culpa minha. (E já que a “Palhasseata” tá acontecendo por aí, vou assim mesmo em primeira pessoa). Em rigor, o centro é uma entidade metafísica (Hello, Derrida!), no entanto hoje se presenciou o metafísico dos abalos sísmicos. Amoleci aos intentos do temor póstumo de se dizer algo. Fui mostrar que eu tinha o meu logocentrismo e que isso garantia a minha importância de sujeito definível. Aquela estória de que o que trago sobre os ombros é meu e é só meu. Que orgulho, hem?
Que nada! O ato/fato é que, justamente com a imposição da definição do meu eu indefinido, fui desmontada. Simplesmente por ouvir o exato conceito do construto de mim mesma em que me apoio para me entender. Só que não entenderam.
Houve tempos em que eu tentava considerar uma dimensão antitética inclusiva de mim, contudo as interpretações acerca do que se expunha a esse respeito fugiam ao meu controle e isso perfazia premissas possíveis em um silogismo sem a minha outorga.
Mas voltemos ao hoje. Estou consciente de que preciso alcançar e ser útil. E quero estar consciente do que quero exatamente. Tenho – juro que tenho – uma mensagem para os possíveis interessados nesses devaneios: a confiança no que se é, o prazer no que se gosta e a explicitação dos seus anseios, garantirão o desmanche de sua híbrida-seguridade. Seja você, mesmo que isso lhe cause dor, mormente.

“Well it's nice to meet you, Sir.
I guess I'll go...”








Se a via crucis virou circo, estou aqui.




Kamila.

sábado, 21 de novembro de 2009

S'apatos



Coloquei o objeto e pude perceber o quão horrível era olhar tudo de forma mais clara, talvez eu pudesse ter um pouco menos de discernimento para entender o que aquelas formas grotescas e atitudes horrendas poderiam dizer sobre mim. Ao mesmo tempo em que luto contra meus pensamentos de tirá-lo, eu quero ver mais, entender mais, compreender mais. Será por isso que até agora eu não entendia o que queriam dizer as pessoas quando falavam em “feio” ou em “lamentável”. São barbáries humanas, certa vez ouvi.

Fatos e atos são sós desacatos que nos iludem a cada dia, mas talvez eu estivesse com vontade de ilusão, fome de mentira. Que tal borrar minha visão, turvá-la? Enegrecer pensamentos, ou esbranquiçar, quiçá! Maldita hora em que o usei, antes era tudo tão belo, pessoas e atos, atitudes e fatos, desacatos.

Ando, corro, penso, ajo, tento, vento? Estranho pensamento, substantivo e verbos, nem um pouco esperto. Continuo, procuro, aonde irei, para onde levarei, este vil instrumento que me fez melhor enxergar o que não devia ser visto (não devia?)

O leitor convirá que a loucura me atingiu, também poderá dizer que nem tudo foi como é, ou como será? Já não sei, confundi, tentei, agitei, pensei, fatos e atos, desacatos. Leitor, não, leitor.

Talvez pudesse ter mais um pouco de compaixão do seu cego cronista (cego?) que agora vê o que antes não podia, que tenta embaçar o que agora está límpido, por quê?

Voltei. Tudo será mais uma vez como antes.



Joguei fora meus óculos.







Rubens R. Neto

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Apenas sentimentos coloridos...




E a madrugada continua tingindo o céu de um azul-escuro arroxeado enquanto eu continuo teclando essas inertes teclas que ganham movimento à medida que a força do toque de meus dedos cai sobre elas. Talvez seja somente mais um suspiro de cor que tinge uma das inúmeras feridas que destroem lentamente meu coração, mas pode ser a continuidade de um sentimento colorido que nasce tímido; de veios azuis claros em meio a um corpo verde água, mas que ganha tom e força, ao verde bandeira, ao azul turquesa.
E componho:

“Saudade dos tempos em que meus pensamentos verdes eram vivos, mas que agora se tonalizam de um amarelo pálido, sem tons diferenciados e morrem em um marrom enegrecido.”

Por que o amor cria feridas? Se o próprio amor é o anestésico... Por que fere?

A cura é o coração que o coração deseja, que por paixão ele almeja, com rimas pobres e sem graça, mesmo que cada sonho termine em... São só cores de sentimentos que colorem o vazio noturno, sentimentos que seguem soturnos, pelos corações desatentos. Conhecimento tido por inútil, mas que o coração atinge dos que não são fúteis. Sentimento, sentimento.

E o leitor há de dizer que o amor pegou seu cronista, mas saberá no fundo que a desgraça é a rima, que corre, devagar, porém livre, entre as cores que aquecem a face com mera menção do sentimento. E aquele que ler desatento, essas linhas tortas, sinuosas, que enganarão alguns, mudará outros, terão que desviar o caminho, da cabeça e do coração, pelas passagens coloridas pelas quais não passam sem que lhes segurem a mão.

Meus sentimentos foram verdes, estão amarelos, quiçá alguém virá e os colherá, aproveitará o sabor que ainda perdura por mais um tempo e replantará a semente do fruto dentro do seu próprio coração.






R.R.Neto

(saudades da geração Sandy & Junior, sem funk e sem axé)