quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Jejum de quê?


Creio que hoje o leitor sinta um pouco mais de identidade autoral nas minhas palavras, claro que isso não significa que as palavras já borradas não me sussurrem, porém o óbvio se faz quando trato de questões que o leitor poderá se identificar. Talvez o sentimento mais inquietante seja aquele que muitos chamam de ‘sentir-se um peixe fora d’água’, sentir-se deslocado em um ambiente que não nos deveria ser estranho, como, por exemplo, uma festa familiar. E não me digam que isso é comum, se for, o é para algumas pessoas. As conversas fluem à sua volta sem sua participação mental ou corporal, você é o estranho sentado afastado, não que seja estranho na aparência, na expressão ou nas linhas delineadas pela sua aura, mas, estranho. As pessoas sorriem e te cumprimentam, também percebem que você não é signo, só morfema zero em suas vidas, e, você sabe disso, pois elas também o são. Percebe os conteúdos fluindo, não, não, entende a falta deles, e pensa que não se deve julgar, festas não são para debates filosóficos ou intelectuais, obviamente, mas o que chamam de conversa, ou o que julgam, não o é. Adorno chamaria de balbucio.

O estranhamento frente a tudo é tão grande que, onde estaria seu aparelho digestivo, há um vazio, preenchendo-se pouco a pouco com desprezo pelos demais, você luta, tenta digerir, mas o líquido espesso característico do desprezo começa a borbulhar, você se sente contaminado pelo que não existe naquelas cabeças, você se sente diferente, deslocado, descontente. E tudo na vida começa a perder tons, torna-se preto e branco, e você começa a desprezar seus pensamentos, pois acha que se sentir superior é desprezível, por isso, mesmo que você se sinta assim, não demonstra, para não pecar (em todos os sentidos).

Talvez a humanidade esteja em jejum.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Matar Pollyanna é ser reticências.












Certa vez ouvi de alguém que algumas das postagens minhas tem certo tom de desabafo. Talvez eu não estivesse em humor de entender no momento do dito ou simplesmente me contrariei pelo prazer de fazê-lo, mas a bem da verdade é o que ocorre com algumas postagens...


Nunca me lembro se alguma vez eu o disse, mas não curto reclamar da vida, reclamo de inúmeras coisas, leitor, da política, da faculdade, da educação, da cultura, dos filmes, dos livros, da TV que não mais assisto, do material, dos preços, do imposto, da internet, enfim, reclamo como todo mundo reclama. Mas não reclamo da vida, a minha, nossa, tua, deles, vida(s) tem que parecer bonita e alegre a quem a vê, afinal NINGUÉM gosta de gente depressiva e triste. Mas porra, e perdão pelo palavrão, eu ligo pros problemas de quem eu gosto, então por que eu me sinto um imbecil quando compartilho algum dos meus problemas? Por que será que eu sinto que não há reciprocidade? Paranóia, diga, leitor, Paranóia.

O fato é que eu sinto certa hipocrisia e mediocridade em reclamar da vida, afinal, não tem um monte de filho da... muito pior? Não sei se é possível pensar dessa forma, jogar esse jogo do contente macabro... Tem horas que eu só quero é atirar na Pollyanna.

Não é complexo de inferiodade ou uma megalomania ferida, nem um narcisismo exacerbado que acaba de se quebrar, é pensar o mundo na sua realidade feria, talvez, não olhar a ... do lado bom. Mas também ficar esperando que alguém adivinha é ... . Prefiro ser reticências, e prefiro que não gostem de mim por não me conhecerem do que por eu ser o chato reclamão. Desculpem os meus amigos, vocês não me conhecem; ao dizer isso eu seria um estúpido, idiota, desenvolvam os adjetivos necessários sobre mim, mas, talvez você, leitor de cada texto aqui publicado, me conheça mais do que quem comigo convive.

Me desculpem a falta de adjetivos bonitos ou de circunlóquios que embelezem o texto, não estou de humor pra maquiagem.


PS: depois de postar eu vi esse post no IEB, é exatamente por causa dessas coisas que não devemos ficar reclamando.


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ah! A lua


Fazia tanto tempo que eu não olhava para o céu... E logo quando olhei foi na madrugada, em suas 4 badaladas.... O céu misturava cores para pintar o amanhecer que logo viria, haviam nuvens arroxeadas escondendo o brilho tímido de estrelas que poucas vezes aparecem, e a Lua, sumida, pálida, evanescente...


Reticências marcam esses pensamentos, suspirados em 30 segundos de contemplação, logo após o céu emocionou-se e derramou finas lágrimas sobre meu rosto, tudo tão bonito, e o mundo lá fora. Não sei se hoje quero pensar ou falar ou olhar ou enxergar ou refletir ou viver o mundo lá fora. Ou sim ou não. Dou-me escolha.


Há quanto tempo você não olha o céu, leitor? Há quanto tempo você não faz sua própria terapia? Seu exame reflexivo, sua análise de consciência? Sei que eu não o fazia há muito tempo, eram tão produtivos aqueles tempos. Cuca fresca, diriam os avôs, éramos cuca fresca.


Às vezes os gritos mudos surgem, mas não se manifestam, agora são gritos mudos para cegos surdos, ninguém nos vê, ninguém nos nota, desculpe, sou ingrato. Mas não nos conhecem. E a lua, Ah! A lua.


quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Ouro de tolo

Este povo que me rodeia acredita em violência simbólica e em aparelhos ideológicos de Estado. Eles acreditam e subjugam-se a essa crença. Cria-se, portanto, uma ilha, para que, esporadicamente, possa-se sentar numa extremidade e refrescar os pés. Tudo bem em ser hipócrita. Hipocrisia é um clichê. Ser clichê hoje é uma virtude.
Qualquer tomada de posição constitui uma ilha, e se for preciso escolher uma redoma, prefiro aquela em que o aproveitar da água não seja apostasia.
Manias de perseguição me cansam neste dia. Também porque me perseguem. Dormir e não sonhar é um sonho. Dormir bem e bastante, outro. Não quero ter heterônimos, muito menos ter o emudecimento de José (e agora, meu caro?); quero o saudosismo apenas em relação àquilo que verdadeiramente me compõe e me refaz.
A pacificação subjetiva tem a ver com a insurreição: só há subversão quando a regra não é favorável. Torne a regra favorável a mim que estarei à direita do poder (Pense nisso ao votar).
A necessidade em sentido amplo e a manutenção de algumas rotinas criadas em arquipélagos criam as imagens de bandeirinhas que balançam por aí. Nenhuma indignação neste texto. Todos querem apenas deitar e descansar. Quem ao ócio contempla em demasia, subverte-se.
Avulta em mim a tradição; não da ruptura, mas a adâmica, pré-queda, se esta não existisse. Apesar disso, mostrarei o outro lado, porque não abro mão dos ensinamentos do colega Hegel. Do outro lado está a vaidade. A vaidade momentaneamente feliz, pós-queda. Que tanto Gênesis!
Qual a paz que eu não quero conservar pra tentar ser feliz?


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Borradela Pueril

Você não pode tirar uma foto do que vê, no lugar onde eu estarei. E eu não posso mensurar o quanto isso soa fantasioso. Será que é um mundo onírico que a gente projeta sempre, quando a serotonina está em crise? Tenho lembranças, mas não me parecem muitas agora. Sempre existe o milésimo de segundo no qual você poderia não ter sido atropelado. Não foi o meu caso. No entanto, e apesar desse tanto, tenho memórias. A impressão primeira é a de que todas elas têm relação com música. O primeiro período daqui é uma, adaptada.
A música foi feita para o silêncio, ou o silêncio para a música: ela é um diálogo com a eternidade e o divino. Só o divino é eterno. Mas a questão é que meu mundo infantil foi letrado apenas pelas composições musicais. Livros? Poucos. E quer saber? Depois de certa idade tentei colocar algumas leituras em dia e vou dizer, nenhuma delas ficou na memória com a mesma intensidade que as melodias silenciosas.
“Você canta bem, mas por que parece que vai chorar quando o faz?”. Refletiu-me isso agora e me ocorreu que algumas coisas são grandes demais pra caber num pequeno ser. Ora, a pequena cantora deveria ter emudecido. Ponto. A penúltima frase parece ter sido acatada como um bom conselho durante os anos que se sucederam, apesar da colocação da voz num grupo eclesiástico rotineiro. Em conjunto não vale, contudo. O solo nunca mais se ouviu. Isso é polissêmico. Quiçá o contato com o que não é daqui se fez; não estou falando, porém, do sujeito que se constitui na alteridade. Falo de Adão e Eva. De Caim e Abel. De Jó. E de Jesus, o Cristo. Mas, infelizmente, eu não sou mais tão criança, a ponto de saber tudo.
Entretanto, crê-se ser essa a vontade do intento musical. Apesar de todos os processos de autoafirmação e de criar-lugar nos meios aos quais não se pertence, não há como falar de experiência sem a transmissão do conhecimento. As lacunas permanecem, assombram e cantam. Da maneira mais pueril possível.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Um segundo congelado


Bons dias, tardes e noites. Não há maneira mais apropriada de iniciar nossa conversa de hoje sem precisar o momento exato do dia, então sou inapropriado, escolha você o momento adequado. Sei que ali, por detrás das cortinas verdes da janela, o tramado negro subterfoge os doirados cabelos do maldito sol e eu o agradeço. Não que eu odeie o dia, leitor, mas conviremos que a noite seja mais bem aproveitada ao experienciar o que melhor lhe aprouver.

E é na embriaguez dos sentidos que a experiência começa, já resumi Benjamin para você, de nada. Mas talvez seja necessária uma embriaguez diferenciada para começar a creditar o inevitável ao merecido. E nessas crenças podemos atribuir valor às pessoas, mesmo que não o mereçam, pois pessoas, mais do que nunca, são passíveis de erros; perdem-se na embriaguez, sem embriagar os sentimentos. Aborreço-me. Perco a linha do pensamento.

Às vezes os dias arrastam-se, já mencionei. Às vezes correm, também. Mas nunca funcionam da maneira que você prefere, os dias são egoístas e não se adéquam ao seu estado de espírito. Sempre é assim, exceto quando somos crianças.

Quando crianças, nossos dias passam em piscadas, rápidos, ávidos, famintos em consumir nossa alegria de viver e quando enjoam do doce sabor da inocência, nos deixam a mercê da sorte que nos couber. O tempo não pára.


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Twitter do blog


Estamos iniciando um twitter para o blog; já que não postamos frequentemente, no twitter vão ser despejados os pensamentos e idéias que talvez serão desenvolvidos em posts posteriores... Também postaremos links e retweets de coisas que possam interessar nossos queridos e exigentes leitores (ass: o puxa saco do autor)

Quem quiser seguir o @borradela , será muito bem-vindo.

http://twitter.com/borradela

domingo, 8 de agosto de 2010

Cansado de pessoas


Leitor, você cansa das pessoas?
Eu canso, sempre, por que será? Talvez eu possa listar as inúmeras coisas que as pessoas fazem, ou me vitimar e discutir abertamente as razões pelas quais elas se tornam insuportáveis, mas eu vou dizer, eu canso das pessoas porque elas não são eu. É, narcisismo extremado talvez, ou um egocentrismo doentio... What-ever. Mas as pessoas são piores do que isso, elas não admitem que a sua estima pessoal quase inexiste, elas sempre proclamarão o quão ‘tops’ elas são, o quão ligadas nas últimas tendências e modas frívolas e o quão inúteis se tornam para qualquer tarefa que não seja criticar seu perfume de grife ou sua roupa contemporânea.


Vamos mudar um pouco seu estilo novaiorquino e tirar do rosto essa merda francesa e limpar os ouvidos dessa música ‘style’; que tal escutar as pessoas um pouco mais? Sabe por que eu me canso das pessoas, leitor? Porque elas não são como eu. Eu paro e escuto toda as frivolidades que as pessoas chamam de problemas, e às vezes me irrito, Guess Why! Por que qualquer problema que eu tenha a contar fica guardado, não que eu aprecie dividir qualquer coisa da minha vida, afinal, o que essas pessoas fúteis vão dizer? ‘Tudo vai dar certo...’ Nossa, que beleza, de manhã os passarinhos de desenho animado segurarão meu roupão e eu vou tomar um café com meus perfeitos amigos. Se seu amigo diz pra você que tudo vai ficar bem, e só. Here’s a surprise, ele NÃO É SEU AMIGO. Ou, na minha visão misantrópica, não é.



Amigo que é amigo, discute o que você está passando, te diz quando você vai se ferrar, claro que você não escuta, mas ele não vai ligar se depois você o chamar de cruel por ele dizer ‘eu avisei’. Amigo que é amigo não é amigo de balada, nem amigo de escola, de faculdade, de trabalho, não é vizinho, não é amigo de círculo do livro, nem da locadora. Amigo é aquele que vai te ajudar quando você gritar na frente da casa dele de noite pedindo abrigo porque as coisas em casa estão ruins. Amigo não vai mudar de assunto quando seu problema aparecer. Nem vai te elogiar a roupa ridícula porque estava na revista.


Comecei falando de pessoas e terminei falando de amigos, as pessoas poderiam ser mais amigáveis, eu acho. Eu canso das pessoas porque elas se abrem facilmente com qualquer estranho e não ligam para o que vão ter como respostas, mas eu não, eu quero respostas, eu sou algum tipo de humano, mesmo que duvide disso, e você, leitor? Se cansa das pessoas?






segunda-feira, 26 de julho de 2010

Mad World


________Hey Leitor, o mundo é um lugar legal, né? Pois aí vai um link massa do quão legal é o mundo no qual vivemos (+18, imagens horríveis) (IEB). Mas não vou comentar isso hoje, nem amanhã, nem esperem que eu comente, diz por si. Hoje quero falar desse mundo insano no qual vivemos, no qual passamos nosso pouco tempo, ou muito, pra você o copo estará sempre quase cheio ou quase vazio? Pra mim está... bem, todos os dias vemos o quão avesso está nosso lugar legal, ou não, podemos estar totalmente entorpecidos para ter essa visão. Mentira, não existe isso de ‘esqueci, tava ...’ . As porcarias que usam servem só como desculpa para liberarem o eu que existe em você, geralmente um eu animalesco, opa, ofendi?

Pois aí vai meu eu pra vocês. ( meu eu ) Opa, não entendeu? Eu, sou eu, mas um eu, feito de palavras, eu sou um eu construído por todas as coisas que escrevi aqui para vocês, sou um eu pelos desenhos que já passaram pelo topo do blog (ta vindo um novo, logo), sou um eu pelo meu twitter que deixei no último post, pelo meu perfil desatualizado, pela minha foto antiga (vou trocar). Sou um eu construído, não sei se para parecer mais com meu eu interior ou com meu eu exterior, mas ainda assim se assemelha a um eu, meu. Então dane-se minhas palavras, quem sou eu? Sou você, sou o leitor, minhas palavras não têm mais controle após estarem publicadas, após serem lidas, eu mesmo não me entendo depois que termino. Joguei fora a revisão, me espelhei no mundo. Vi um filme que falava que a primeira prisão do ser humano é a categorização de identidade sexual, e que só haverá uma revolução com a derrubada das identidades sexuais, relações monogâmicas, tudo papo da esquerda.

Nem tão certo, nem tão errado. Categorizar-se em esquerda ou direita, ou centro, ou tanto faz, ainda assim é categorizar-se; estritamente, não se categorizar é tomar partido, mas isso não interessa, não é? Vou continuar escrevendo meus poemas na parede, para que eu pinte e ninguém leia, mas vejam que pintei, que tal poetizar a ausência de versos e estrofes? Que tal um poema mudo, vazio, um poema não escrito, mas ainda assim poético.

NÃO, me perdoe, leitor, foi um surto pós-moderno.






Edit:
Pra ninguém pensar que eu sou pessimista demais, vou por aqui no final um link que a Kamila me passou hoje, vale a pena assistir: http://daleth.cjf.jus.br/vialegal/materia.asp?CodMateria=1478

sábado, 10 de julho de 2010

Vastas Emoções






A agudez irritante que faz o som do maldito despertador me chegou aos ouvidos num dia em que até a mais bela sonata me deu dor de cabeça, não, não é uma ressaca leitor, nem síndrome do final do semestre que me impediu de escrever esse tempo todo por aqui, mas, o meu mau humor habitual. Talvez fosse menos complicado jogar o despertador na parede como fiz, em pensamento, do que apertar os botões para desligar. A contemporaneidade me irrita, falou o pseudoporcaria Cult que vive no século passado. Às vezes eu preferiria viver no século 14, na Europa, com todos os maus hábitos e crenças em Deus Mau e Diabo Vingativo para explicar a peste. Quem sabe eu seria mais feliz.



O Leitor me permita dizer que os dias não se arrastam mais como eu já divaguei por essas linhas digitais que nada valem. Os dias correm cada vez mais e levam com eles as vastas emoções que eu nunca tive, nem você, o ultra-romantismo está morto, só os emos não perceberam isso. Se a imagem de um phallo colorido disfarçado de pintura puder comover essa juventude pobre e podre que têm seu imagético natural determinado pela alienação televisiva, pintá-la-ei em camisetas com preços banânicos.



É natural ser banal, já disse o fashionista, e entre os adereços que montarão a alegoria da miséria humana, é possível prever o imprevisível, será que chove hoje? Bom, nem tão bom, mais do que bom, é perfeitamente claro deixar-se entender nas entrelinhas, mas quem gosta delas? Posso perceber que a vida não tem mais sentido, nem em fazer, nem em se desfazer, genericamente perfeito. Sou eu. Claro que deixar levar é mais do que alugar um cérebro, pois cabeça vazia bóia na poça de excremento que chamamos cultura erudita, ou seria de massa? Tanto faz, a parte que me cabe fede tanto quanto. E aí eu me escondo no meu quarto e durmo abraçado no meu travesseiro, que escuta meus gritos e grita surdamente em meus ouvidos, para que eu respire um novo ar, talvez abrir a janela. Não somos mais os mesmos de outrora, e a vida passa.




Follow me: @rubensrneto

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cuidado ao atravessar a rua.

Sou algaravia.
Ou apenas a dialética de sempre.
Não há nada de novo nisso, eu sei, mas a novidade mesmo é ter o que dizer nesse embate: há gratidão e incompletude.
Não posso permanecer enquanto os meus olhos não são capazes de se fixar. Se eu me chamasse Pixar, seria uma rima, não uma solução. Porque é sempre isso ou aquilo, mesmo que mude.
Cair num buraco, conhecer um mundo novo, enfrentar conhecer-se, acabam por fazer os livros na estante não terem mais tanta importância. “Do muito que eu li, do pouco que eu sei, nada me resta...”
O mais do mesmo. É sempre o mesmo. É o que me resta. A minha indeterminação semiótica constantemente ambígua me fez voltar. Mas me mostre um lugar frio que eu lhe mostrarei um mais ainda. Samsa tornou-se inseto, mas seu nome ainda era Gregor. Bono Vox é um erro de concordância, mas tire ele do U2 e faça a banda continuar... ¬¬
O fato é um ato? Juro que este texto é feito sem palavras. Este texto é uma pergunta. Eu não tenho a resposta, mas cheguei perto: o dia de hoje é sempre o dia de hoje. A tautologia me fez ver a eternidade.
Às vezes tenho vontade de que todas as perguntas sejam tiradas de mim; eu pararia de escrever. Mas não estou certa de que seria uma pessoa melhor.
Cabe tudo no meu quarto hoje. Sabe o que isso significa? Eu mudei de lugar. Só. O meu violão continua da mesma cor e eu do mesmo tamanho. Ouço sempre as mesmas músicas e volto sempre para cá.
Simplicidade: dormir e acordar sabendo onde se está e quem se é.
Estar vivo é ter lembranças, hoje eu sei.
Eu vou sorrir.


domingo, 16 de maio de 2010

Time Machine


Quero uma máquina do tempo, uma que não só me leve ao passado como me mantenha lá, num ciclo infinito, dois anos, volta, dois anos, volta, não estende, não passa, não volta, mas mantém. Posso dizer que a memória é uma máquina do tempo só com o botão ‘passado’, mas ela não nos leva fisicamente para lá nem tira da nossa cabeça as preocupações de agora. Quero uma máquina do tempo.

Preciso de uma máquina do tempo. Uma que me faça voltar para o passado, mas que nesse processo me faça voltar atrás no tempo estampado no meu rosto, corpo e mente. E que lá na data que eu escolher, eu fique, não volte, não queira ‘evoluir’. No meu tempo era diferente, e só fazem 20 períodos. Gerações mudam a todo o momento, e a cabeça lá no meu tempo. Preciso de uma máquina do tempo.

Sou uma máquina do tempo, esquizofrênica, psicótica. Sou uma máquina masoquista, que fustiga meu pensamento, que destrói esperanças e que gargalha loucamente nos períodos de lembrança, sou, não sou, eu mesmo nem sei. Só sei que o tempo esgota-se, a cada letra que escrevo, cada ponto que marco. Sou uma máquina do tempo.

Procuro uma máquina do tempo, em cada rosto, sorriso, expressão; em cada abraço carinho, amizade; procuro nos olhos, boca, nariz, ouvido, por entre os fios de cabelo, na pele, no corpo, nos braços, pernas e no sopro. Meu Deus! Onde está minha máquina do tempo? Deito-me sozinho no piso frio e arquejo com dor, grito e me engasgo com as palavras que não saem, não saem, engulo, indigesto. Aonde vou? Para...


E a cabeça dói, os olhos pesam e o tempo passa.


sexta-feira, 30 de abril de 2010

Contaliteração.







Boa noite, vento. A vida não poderia estar mais ‘brisa’, vê se sopra um pouco, vai! Ô dias infelizes, pessoas deploráveis e assuntos irrelevantes. Não poderia estar melhor, já diria o masoquista. Dias e dias, tempos e horas, ventos e tentos. As perspectivas se entrecruzam formando um emaranhado que não se desfaz, um tramado no qual você só pode se jogar, ou se cobrir, tecidos são tramados, não? Bem que a vontade acomodada já passou dos limites e agora não me deixa mais pensar em outras situações, pudesse eu gritar no ouvido de quem me escuta, fazê-los não mais me escutar, CALMA, quem me escuta?


Ser poeta é essencialmente não ser poeta.

Volto a dizer: ”Eu avisei”. E sou estúpido, sem coração, sem tato. Ora, não há maior desacato que pensar em dizer e falar sem entender. Não faz sentido. Não fez sentido. Vamos rimar e ser esdrúxulos ou vamos ser esdrúxulos em rimas ricas, leoninas, toantes, cruzadas, em paranomásias, quiasmos, metáforas e alegorias. A vida pode ser assim. E você um grande mentiroso.



“Penso, logo existo”, o contrário é válido? Posso inexistir ao deixar de pensar? E ao escolher não pensar? O Não pensar oculta ou destrói? Ele vela ou insurge? Não fez sentido. Não faz sentido. Se entender a si mesmo é ser seguro de si, sou uma fortaleza de janelas sem grades e portões escancarados donde não saem os presos, falta entender o motivo.



A alegria de procurar é ter a esperança de achar, enrolei. Encontrei na esquina dum pensamento uma criatura mitológica que me prendeu sob um manto negro. E o sentido? Não fez, Não faz.


Não faz sentido entender, CONTAMINE-SE.


R.Rozsa

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Filantropia finita.

Não sou vanguardista e não vou escrever sobre a vida. Pra que se apropriar do genérico e depois não conseguir falar sobre ele? Contemplo o nada. Meu nada é muito mais complexo que a própria vida. Fazer da ruptura uma tradição estabelece uma relação de sinonímia com a imagem das mãos atadas, ou com a dos olhos vendados.
Disseram-me que a experiência como resultado de uma vivência repleta de significações foi extinta (ou extinguiu-se, no processo reflexivo mesmo?). Não importa, parece-me não terem sujeitos as duas formas do passado. Tenho pedras e construo um castelo: uma sugestão moderna acatada. Pergunto, isso faz sentido pra você? Eu vejo um reino. A minha visão reducionista aproxima de mim todas as abstrações. Também tenho certo apreço pelo concreto, mas não tanto; não pretendo tornar-me engajada.
A única bandeira que levanto é a cor-de-rosa. Ou a não-cor-de-rosa. Ser mulher e ter me constituído mulher ainda me custa caro (o hastear às vezes é de luto). Liberdade não é pouco. Pouco é o que se entende da liberdade. Dizem-me a todo o tempo a periculosidade existente em querer ser (inclui-se aqui o ir e vir); e eu digo: Eu sou. E cito Deus.
Eu desato as mãos, desvendo os olhos, vivo e tenho experiências.
Mas e agora, se estamos tão longe de casa, quanto devo correr? Desmancho a completude do que é sólido em mim e construo milhares de pontes pra lugares de difícil acesso. Eu ainda tenho medo.


O que eu quero ou o que eu preciso? Modernismo é movimento de quem quer/não quer ser poeta. Feminismo é movimento de quem não quer/quer ser mulher.



* Sua liberdade interpretativa é muito válida aqui. Apenas mantenha a arte e a feminilidade da última frase como instituições. De resto, você pode matar o autor. Ou tentar entendê-lo.

domingo, 28 de março de 2010

Uma "visita" a livraria.


Leitor, hoje eu acordei querendo visitar uma livraria, conversar com o livreiro, pedir indicações, procurar livros, enfim, satisfazer meu vício. Chamei dois ou três amigos, mas um deles furou com a desculpa de sempre, preferiria não. Os outros dois se desentenderam no caminho, e um deles, sempre o dono da razão, voltou para sua casa, pra desenhar aquelas árvores esquisitas das frases. Foi nessa ocasião que meu amigo Bram (Stoker, há a necessidade do sobrenome, já que ele é famoso no Orkut) chegou a mim, muito contrariado, mas querendo sair de uma vez, pois o dia já começara mal.




Subimos em um ônibus, que estava cheiíssimo, e ao sentar Bram notou o livro que a moça sentada à sua frente, lia. Tinha capa alaranjada e um título sugestivo, era mais um desses livros de gramáticas da nova ortografia, a qual Bram não se dará ao trabalho de aprender. Nossos comentários recheados da vagueza e lentidão dos comentários de ônibus foram interrompidos pela conversa de duas adolescentes sentadas no lado oposto do ônibus que se debruçavam sobre outro livro (há de se notar, é claro, que esse ônibus parece mais uma ficção, desde quando há essa quantidade absurda! (dois) de leitores dentro de um mesmo ônibus?!) de capa vermelha, logo percebi que se tratava de Metamorfose, uma das moças defendia que a professora não deveria pedir um livro tão absurdo, a outra apoiava de forma veemente e acrescentava que seja lá que bicho fosse aquele, era nojento.




Descemos do ônibus com as palpitações no coração de Bram, segurei-o pelo braço pra que ele não dissesse algumas das verdades que ele sempre teima em dizer por aí para qualquer pessoa, claro, eu que acabo tendo que escutar suas reclamações (mas evito mais conflitos). Andamos mais um pouco, e paramos em frente à vitrine de uma grande livraria, Bram ficou maravilhado, de onde (e de quando?) ele vinha, não havia essa variedade enorme de livros (vale ressaltar o fato de que todos os livros que eu tinha na minha estante em casa, ele leu, não eram muitos, mas não eram poucos) e há de se notar a quantidade de pessoas dentro da livraria naquele momento. Pois bem, entramos meio intimidados pelo tamanho do lugar e começamos a procurar os nomes conhecidos, de certo que estariam nas estantes principais, em edições acessíveis ou de luxo, a preços incríveis, com avisos de falta e de remessas chegando.

Procuramos! E como procuramos, e tivemos de procurar, afinal, livreiro? Pois até pra consultar a obra “Odisséia” ele nos teve de perguntar o autor, desistimos do rapaz. E também da moça, e dos outros atendentes e dissemos ao gerente que nós mesmos iríamos achar os ditos livros. Em vão foi nossa procura; ou estavam em falta, sem previsão de entrega, ou eram adaptações horrendas que tentavam nos empurrar fantasiadas de “texto integral”. Bram reclamava de dor de cabeça e sentou-se um minuto nos banquinhos perto da pilha central de livros que havia na loja, eram duas maiores, e duas menores à direita e atrás. Pegou ele, um dos livros da pilha central, capa bonita, chamativa, preta com detalhes em fotos de frutas ou laços. Não poderia dar certo, logo ele pulava por cima da pilha de livros e dizia que aquilo era um disparate! Um absurdo!




A atendente pedia por favor que ele descesse dali, e ele desceu, foi até a estante de terror, pegou um livro, grosso, pesado, com capa nada chamativa e dizia que (note, leitor, que eu o segurava e tentava fazê-lo sair da loja comigo, mas aquele sobrepeso habitual dele não me deixava nem fazer cócegas): — Aqui! Leiam isso daqui! Destruíram minha obra, meu vampiro, meu Drácula! Acabaram com a sutileza e o charme do conde, e a moça?! Sem sal, sem graça, sem atrativos! Meu Deus, meu Deus!




Não adiantava eu avisar “Olha o coração, Bram!”, tentar acalmá-lo, pois bem se sabe; quem tem amigos como ele, que um eco surdo (como o livro que ele jogara pra todos os lados) dum conceito tão bem feito como o seu Drácula, não podia acabar senão no chão da livraria. A garotada assustou-se, e algumas pessoas jogavam livros para ele, com diferenciadas intenções: os que jogavam Augusto Cury, diziam pra ele ler e se ajudar; os que jogavam Roberto Shinyashiki, pediam que ele tivesse mais coragem e não tivesse medo de ser feliz; Outros jogavam Dan Brown, falando que ele se divertisse um pouco mais ao ler. E assim foram-se jogando vários títulos, vários autores, e várias recomendações das pessoas na livraria; e uma montanha de livros ia se formando em volta do meu amigo e foi que acabaram sobrando poucos títulos nas prateleiras, os que ninguém recomendava. Uma rápida olhada me deu a noção exata do que estava lá: a literatura brasileira denominada cânone permanecia intacta (e assim, achamos alguns dos títulos procurados) Machado de Assis, Aluizio Azevedo, Cláudio Manoel da Costa, entre outros. Na estante de literatura estrangeira, encontrei Homero (que não tínhamos achado), Shakespeare, Kafka, Poe (!!), Clarice Lispector (sim, estava lá), e outros tantos.



Bram estava púrpura, um policial chegou e pedia que ele se retirasse sem mais bagunças pois a dona da loja não iria prestar queixa contra ele (sim, a dona, porque o gerente estava pronto para isso). Bram gingou em seu lugar e pediu meu braço pra sair dali, apoiei meu amigo até a porta quando, um rapaz, veio em direção a ele, e ofereceu um livro como presente, Bram não aceita nada de estranhos, nunca aceitou, mas livros são um caso a parte. Pegou o livro, leu o nome do autor e seu coração não agüentou; respirava com dificuldade quando nos acudiram pra levá-lo a algum hospital, talvez ele só tivesse mais “Onze Minutos”.






Parabéns hoje Ao Martos e à Arielle!

sábado, 13 de março de 2010

Idosas Reflexões...




Não é de hoje que me tenho sentido cada vez mais velho a cada dia, e não, não me refiro às dores na coluna ou rabugice, e sim, aos meus gostos, pensamentos, idéias e motivações. Os dias passam, e são cada vez mais analisados e estudados, são meticulosamente pensados, e ainda assim não percebo a rotina, talvez perceba, mas não conscientemente. Paradoxal essa minha velhice. Abri um pouco mais de espaço no meu guarda-chuva de paradoxos e dei espaço às novas sensações, assim como os idosos que abrem o coração novamente para a vida, ou sou um jovem que nunca abriu seu coração? Bem, é difícil abrir um músculo com os dedos, concorda, leitor?

Talvez eu devesse mandar um pão-por-Deus ao vazio no meu peito dizendo:

Lá foi o meu coração
Destroçado por seu dono
Procurando seu caminho
Pois eu o abandono

Mas penso que ele voltou, ou talvez nunca partiu, mas, não sei. Procuro por referências saudosas de coisas que não são de minha época, com as quais não tive contato em um passado remoto. Sinto saudades dos ‘bons tempos’, já conto causos começados por ‘na minha época...’ e dou sermão ao garotinho da quarta série. Busco dentro de mim um ser infantil, ou um infantil que condisse com minha realidade secular, pois agora no meu milênio já não tenho mais perspectiva. Claro que o futuro está aí, aqui, aí, aqui, aí, aqui, ali. E o tic-tac do relógio, ops, esqueci que os relógios não fazem mais tic-tac, mas, na minha época, faziam.

Aonde foi, leitor, na minha vida, que coloquei a minha mente numa máquina de fermento cerebral e a fiz pular anos de amadurecimento? Agora o maduro já seca, ou apodrece; talvez a sandice me aguarde, em qual dobra? Vou esculpir dois ou três pedestais e colocar a realidade, o tempo e o ser. Talvez os pinte de verde ou vermelho, mas creio que a necessidade se faz real quando o ser já é irreal. E nada fez mais sentido.



Sim, estou velho...

domingo, 7 de março de 2010

Ao ler...














Vou publicar aqui um texto que produzi para uma aula de literatura e ensino que tive nessa semana que passou, o tema era 'a leitura e eu' onde deveríamos contar como a leitura se fez presente em nossa vida.

Ainda lembro bem da velha caixa de livros com que me presenteou minha avó, o cheiro de poeira me fazia espirrar e o mofo da parte de baixo me fez coçar as mãos. Logo aquele menino que demorou a falar, mas quando aprendeu não parava um minuto, perguntar, perguntar, aprender, saber, a curiosidade sempre foi maior que a prudência. E o universo misterioso das letras e palavras sempre lhe fascinou. “Isso diz algo?” perguntava apontando para frases em caixas, placas, cartazes, como poderiam aqueles desenhos pequenos e sem graça contar uma história? Quis saber e investigava os livros sem saber ler, tentava adivinhar a história sem figuras. Chamava o pai, a mãe, mas ainda assim não se satisfazia.



Aprendeu a ler rápido, lia com velocidade, sem tropeçar em palavras, ganhava livrinhos, dessas historinhas que todas as crianças escutam, mas poucas lêem, tinha medo de ler Barba Azul de noite, e o lobo mau já lhe perseguiu em alguns sonhos infantis. Mas a satisfação por histórias curtas foi se apagando, não queria algo tão rápido, tão direto, queria imergir na história, então veio a caixa, a poeira, a coceira e duas coleções de livros, e ali nas mil e uma noites, com algumas estórias violentas, outras que ensinavam algo moral, aprendeu que o tempo pode mudar ou passar diferente quando se lê. Os irmãos Grimm foram os seguintes, vários e variados livros com muitas das histórias e lendas, algumas aterrorizantes, outras com finais felizes, algo da coragem, do respeito, tudo isso lhe despertava o interesse, queria também contar as suas histórias, queria mais e mais livros.



E o mistério me fascinava, o suspense e o terror; veio a turma dos tigres e sua resolução dos mistérios, o gibi, a graphic novel, o mangá, depois voltei aos livros, veio o distinto Holmes e seu poder incrível de dedução, veio trazendo o gosto pelo policial, pelo tétrico, vieram filmes, seriados, a música e sua poesia; E Bilac com seus sonetos. A leitura se tornava parte do ser que fui/sou e eu já não vivia mais sem ela, bela droga a qual me viciei, me leva pra vários estágios, mundos, estórias, e continuo a viajar com ela.



Bram Stoker veio de sopetão, e seu Drácula, vampiro mestre, sangue, prisão, perseguição, as figuras se tornando horrendas, fugindo do crepúsculo, que sempre foi cenário dos livros românticos que nunca terminei, a princesa, a moça de família, a garota pura, as figuras pelas quais eu sempre torci contra, e um final feliz? Descobri o clichê e a leitura começou a ser selecionada. Poe me intrigou com seus contos, e com suas criaturas horrendas, troquei Rei Arthur por Arthur Gordon Pym, e descobri que a leitura pode causar mais sensações do que as conhecidas.



Não havia outra maneira de seguir com a minha droga, só buscando algo que a usasse sem preconceitos. Descobri que sempre usei pouco dessa droga, encontrei pessoas em constante viagem literária, e a leitura começou a me atordoar mais. Ulisses, conhecido de tempos, voltou para Ítaca e me deixou com as sereias. Fui de vassoura até meu amigo Harry Potter e entendi que a magia ainda encantava minha parte criança inebriando o desprazer de ser quase adulto. Conheci o professor e seus amigos pequeninos, morei na terra média durante meses, e lá eu também li, sobre o começo, Eru e Morgoth; sobre as eras e escutei a triste, porém valorosa, história de Túrin Turambar; conheci seu primo Tuor, e lamentei a morte de Beleg.



Ainda lembro bem do que primeiro escrevi, oitavo ano, e meus personagens corajosos e valorosos nunca me questionaram o rumo. Mas eu era o que vivia no mundo da lua. Ah! Da lua disseram, mas não souberam bem diferenciar que eu bem vivi e vivo no mundo que a leitura me quer, também sou o que ela me molda ser. A leitura me foi refúgio, me foi consolo, me foi amigo. E descobri que um bom amigo só questiona o errado. Voltei no tempo e a saudade das estórias mais simples me fez procurar um ladrão, um falso ladrão, mas filho de Poseidon. E corri com Percy pelos EUA atrás do culpado. Caí nos braços de um fonático e tive medo de atender o celular, assim tio Stephen King me assustou várias vezes, e da leitura ao filme foram dois suspiros, talvez de tanto usar minha droga, me apareceu uma tal zona morta no cérebro. Há de se pensar que tanta aventura realmente faz o leitor pequenino, que decifrava as palavras arbitrariamente, continuar no seu mundo da lua, mas não é assim que acontece, e não vou sair por aí queimando os livros que não quiseram ser meus amigos.



A leitura me viciou e eu acabei envolvido nas tramas e nos olhares dissimulados de Capitu, ri das afetações entre Bentinho e Escobar e aprendi a respeitar Machado. Enamorei-me do realismo de Eça de Queirós com seu belo e lascivo Padre Amaro, caí em um país maravilhoso e atravessei espelhos com Alice. Xinguei e ri das situações que Azevedo criou no cortiço. E me entristeci com cada fim, não pelo seu conteúdo, mas o simples fato de uma leitura terminar me deixava lamurioso.


Enlouqueci, escrevi ao pai, virei barata; Cacei baleia e preferi não. E fiquei cego, tudo branco, tudo doido, tudo fora de prumo, vi Jesus encarar Leviatã no meio do oceano. A leitura me acompanha, a leitura me droga, a leitura me é. E, às vezes, resgato na minha procura, aquele garotinho que espirrava e coçava as mãos enquanto lia aquele livro amarelado e poeirento que não tinha nenhuma figura, procuro imergir naquele mundo que ele imergiu e sentir um pouco mais da felicidade que ele sentia; Não me estendo mais, pois já sinto falta, vou ali me drogar com mais páginas literárias.




E você, leitor, como a leitura entrou e se desenvolveu na sua vida?