quinta-feira, 19 de março de 2009

Por um novo truque de palavras.

Não que fosse mentira ou dissimulação, é que havia muros. Muitos deles tiveram exaustivas construções em tempos pausados e posteriormente retomados. Perpetuaram-se. Existe poesia numa cidade sitiada. As forças que a cercam foram processo de auto-criação, porque afinal de contas, bom seria mesmo se o sentir medo proporcionasse segurança.
Evidentemente, não há muito pra onde se mover. As opções são escassas e as limitações muitas. Um depende do outro, um espera pelo outro. Eles não sabem inventar acontecimentos. E quando sabem, porque fazê-los, visto que o outro, sempre o outro, pode não desejar compactuar com aquela poética criação absurda transcendental. A criação de um só. Ou de ambos. Mas isso é uma questão quase que de adivinhação, normalmente.
“Bem, mas não era apenas isso, e nem com essa simplicidade. Não era apenas isso: nesse ínterim o tempo ia passando, confuso, vasto, entrecortado, e o coração do tempo era o sobressalto e havia aquele ódio contra o mundo que ninguém lhes diria que era amor desesperado e era piedade [...]”.¹
A normalidade é uma necessidade provável na ausência da mensagem. No entanto, essa “ade” não se comunica bem com os grandes muros. O conflito incessante entre construção e destruição deveria ser lúdico, na medida em que algum projeto é arquitetado; nem sempre assim ocorre. Inseguranças notáveis, do jogo enquanto comportamento humano. De qualquer forma, You have my attention², sempre.
Obrigada, Clarice.


1. “A mensagem”, Clarice Lispector.
2. Copeland – You have my attention.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como sempre, colega minha arrasou.

Talvez eu devesse montar uma árvore sintática ou clivar frases e interpretar de variadas formas, mas essa complexidade não cabe nesse momento, tudo lindo, tudo perfeito, tudo esclarecedor.