terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Sobre a escuridade das coisas.

Acho que não tenho capacidade narrativa; mas era noite, não fazia frio e havia estrelas. Existia também o limite tênue entre dois passos à frente e dois atrás. enfim, foram suficientes uns não sei quantos passos pra se estagnar em cima da linha equidistante dos dois extremos.
E ocorreu que, com aqueles passos, um outro mundo se moveu (ou se perdeu?). As possibilidades de se adentrar naquele mundo emoldurado, porém vivo, daquela parede, tornaram-se passíveis de cogitação. O que se poderia perder ao se jogar num mar e depois ser salvo a bordo de um navio aconchegante? Algumas coisas. Deixar-se-ia uma firme convicção, talvez a única certeza: a de habitar o Desmundo.
A viagem é inversa. Pegar o navio leva ao desconhecido. Não pegá-lo é o que o mantém no não-mundo. A noite foi capaz de conduzir-lhes a um desconhecido bom, muito bom. Mas ainda assim confuso.
Ouviu-se uma autoridade religiosa dizer: Deus tem um desafio para nós. Deve de ter. Mas o maior deles, provavelmente, é o de lidar com o lado de dentro, onde tudo concorre para o livre arbítrio. Isso sim parece ser o maior embate da natureza; de se compor existencialmente um dualismo característico dos anfíbios. A eterna
contradição humana.
Circunstâncias não significam nada? Quando houver o fim, nós seremos heróis constantemente. E aí, o que fará tanto sentido assim? Quando o ilogismo reinar, os co-autores de todas as belas músicas triunfarão. Eu quero o tempo de poesia e também o de certezas. Desculpe, não queria ser a primeira pessoa, mas isso sempre foge ao meu controle. Sou eu mesmo. Eu mesma. Você até pode matar o autor, isso é bom. Mas nunca, nunca invalide a existência dele.
São muitos badulaques e o jardim não existe. A relação entre os dois últimos signos concretos eu desconheço. No entanto, imagine uma caixa e imagine os badulaques. Você se ocupa demais com as inutilidades do seu recipiente e se esquece de que flores poderiam nascer de algumas tomadas de posições distintas dessas de cultivar um museu.
Mais uma criptografia para nós. Um passado, um presente e um futuro. O segundo consegue trazer à tona uma humanidade que nos outros dois é ofuscada. Dou a conhecer-me pelas perguntas que faço. As que eu fiz hoje se resumiram a um esgotamento muscular e a uma corrida para subir as escadas e fechar as janelas,afinal, já é tarde.


"O homem tirou sua espada e toda a gente com muito temor se calou. [...] Mas no escuro do meu coração a vista dele se marcara, que dela me não podia livrar." *

Eu não vou me calar, por mais que seja uma necessidade egoísta.



Bem-vindos à raça humana.



*Ana Miranda, no seu Desmundo.



Por Kamila.


Um comentário:

Anônimo disse...

E no ímpeto de entrar no meu desmundo ou no de alguém especial, eu dei de cara com a sólida parede da sala de estar, me afoguei no mar esperando a bóia de salvamento e o único conforto que tive foi o de esperar o sentimento de morte, quem sabe eu sendo o autor eu possa experimentar a morte, subjetivo.

Mas falando em fechar as janelas, eu as abri e fechei as cortinas, quem sabe a minha mente não tenha janelas que precisaram ser abertas e eu as fechei correndo escada acima.

Sinto falta de descer..