quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Uma falsa metáfora, talvez.
Sempre existiu um espelho aqui na parede e, não sei por que motivo, havia numa daquelas projeções de mim a necessidade intrínseca de observação. A visão a partir de um determinado ponto pode fazer o que quiser com os seus alvitres. Creio ser isso o que sempre ocorreu à imagem percebida. Percebida, claro, porque ver é algo bem complexo, enxergar então,uma completude sem mensuração. Mais uma dicotomia à espera de sua análise.
Os argumentos sempre encontraram base no que se percebia, e eles solidificavam-se. As idas e vindas ao espelho se faziam agradáveis quando a percepção era compatível com o esboço. Permanências foram criadas. Comodismo e adequação nasceram. Falsas raízes surgiram. Foi quando a chuva parou. Eu não sei ao certo o que o fenômeno pluviométrico tem a ver com isso, mas o fato de regar o que cresce do órgão de fixação e absorção produz frutificações incríveis, mas não necessariamente positivas. Foi quando teve-se de encarar o duro sol.
A ignorância é muito confortável. Por que abrir mão dela? Talvez porque você seja masoquista. Deleitar-se com o próprio sofrimento? Eis o convite.
Perdão. Mas, "quais são as palavras que nunca são ditas" ?
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Be a Marley
Que me desculpem os leitores por tratar de um assunto tão discutido por aí, mas prometo que trarei algo ‘a mais’ do que simplesmente recomendações. Sou um cinéfilo maníaco, assisto todo tipo de filme, seja ele qual for a temática, o gênero, a duração, a procedência, etc. O gênero que muito me agrada é o terror, apesar de existir em mim uma personalidade admiradora das comédias mais esculhambadas e dos dramas mais avacalhados dos tempos. Foi este lado que me condicionou a assistir estes dois filmes:
‘Marley & Me’ (no Brasil: ‘Marley & Eu’) http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=19349
‘Burn after reading’ (no Brasil: ‘Queime depois de ler’) http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=19981
O primeiro é uma comédia romântica com elenco formado pelos já consagrados Owen Wilson e Jennifer Aniston e o segundo uma denominada ‘comédia inteligente’ com um elenco de invejar os mais bem-feitos filmes de Hollywood, entre George Clooney e Frances McDormand passando por John Malkovich até Brad Pitt.
O que impressiona em ‘Queime depois de ler’ é a procura dos diretores Ethan e Joel Coen (do excelente ‘Onde os fracos não têm vez’) [1] por um humor que faria rir somente um seleto grupo, ou no caso, os norte-americanos e seu famigerado humor negro. Mas posso afirmar que não alcançaram o seu objetivo com excelência. O filme tenta jogar na cara do telespectador um pouco da alienação, violência, dramatização e derivados que os filmes ‘hollywoodianos’, por assim dizer, têm trazido em seu conteúdo. Brad Pitt como sempre mostra seu potencial se transformando em um personagem distinto de praticamente todos que já interpretou, consegue ser chato o suficiente para que bocejemos e possamos tirar um tempinho para ir ao banheiro. A atuação do grande elenco é muito superior a necessidade existente para fazer filmes desse gênero, mesmo que os atores se sintam muito confortáveis atuando nessas produções. O filme traz, em suma, uma enrolada história, com encontros e desencontros nada convenientes, um humor ‘raso’ que só toma forma quando o filme está para acabar. Alguns cinéfilos hipócritas defendem o filme como ‘comédia inteligente muito acima do povo brasileiro’, idéia esta que eu repudio com todo prazer. Cito como argumento para refutar essa hipótese, comédias realmente inteligentes que não utilizam humor esculhambado para tirar gargalhadas prazerosas do público, são elas:
‘Shopgirl’ (no Brasil: ‘A garota da vitrine’)
http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=10775
‘Eternal Sunshine of the Spotless Mind’ (no Brasil: ‘Brilho eterno de uma mente sem lembranças’) http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=8914
‘Being John Malkovich’ (no Brasil: ‘Quero ser John Malkovich’) http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=1149
Dentre outros..
‘Queime depois de ler’ consegue nos trazer o tédio de ‘Matadores de velhinhas’[2]dos mesmos diretores e entedia o público ao máximo, fazendo com que muitos desistam do filme nos primeiros 35 minutos e os mais fortes fiquem até os 50 minutos. Eu, que sou cinéfilo inveterado fiz em torno de cinco pausas no decorrer do filme, inclusive assisti a outro filme numa dessas pausas.
Meu lado admirador de comédias esculhambadas e avacalhadas entrou em depressão após assistir ‘queime depois de ler’ por ser uma ‘comédia inteligente’ que de comédia não tem nada. Inteligente ou não é o filme que eu recomendo que assistam numa noite de insônia na madrugada do carnaval que vocês estiverem gripados.
‘Marley & Eu’ foi a grande revelação da semana, dentre a lista que assisti, este era um dos quais eu não esperava absolutamente nada. Depois do sucesso do livro, o qual eu não tive o menor interesse em ler até repetir o sucesso nos cinemas e refletir nas vendas de cãezinhos ‘labrador’ pelo mundo inteiro. O fato de ser uma história real pode ter influenciado no tom novo que o livro trouxe e a adaptação para o cinema não poderia ter ficado melhor, ‘Marley & Eu’ é absolutamente recomendado.
O cão como companheiro, a vida ao lado do cão, o melhor amigo, a perda, etcetera; são temas já há muito tempo conhecidos dos telespectadores, desde a famosa ‘Lassie’[3] até o nosso amigo ‘Beethoven’[4]e todas as sequências, lembrando do muito antigo ‘Rim Tim Tim’, até hoje nada de tão novo havia sido criado com o tema ‘cão’. O que difere, então, o filme (e conseqüentemente o livro) dos outros é a descrição de Marley como o pior cão do mundo. O filme rende muito boas risadas a qualquer um que o assista e despertará a simpatia de quase todos os que gostam de cães.
O final surpreende, a forma como são arrancadas lágrimas do público é incrível exatamente pela declaração de amor ao cão, mesmo ele sendo ‘o diabo com forma de cão’. As morais tão conhecidas da amizade entre homem e animal são reforçadas com um gás que fará vibrar até o mais desanimado telespectador. O que peca em ‘Marley & Eu’ é a não tão boa atuação de Owen Wilson que deveria ter ficado nas suas comédias ‘esculhambadas’. Jennifer Aniston, famosa pelo seriado ‘Friends’, tem especial destaque com seu jeito meigo e a sua especial interpretação como mãe. A emoção no final é cortada por toques de humor que fazem rir os telespectadores mais emotivos, misturando o salgado das lágrimas ao doce da risada nos trazendo um filme que termina de certa forma num tom agridoce não tão comum no gênero ‘comédia romântica’. A trilha sonora peca pela total adequação, e a moral não precisaria ser tão explícita, pois assim incutiria no telespectador uma reflexão.
Por fim, recomendo totalmente o filme para aqueles dias mais desanimados ou para assistir com todos os amigos comendo brigadeiro com pipoca e tomando aquele guaraná barato comprado na venda da esquina.
Well, Be a Marley.
Marley & Eu
Queime depois de ler (O trailer faz até parecer legal)
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Conto de fadas?! Sei..
Sim e não, o leitor provavelmente poderá chegar nessa resposta quando eu perguntar se o trecho acima poderia ser encontrado em algum conto de fadas, sim pela temática, não pela confusão da linguagem em algumas palavras e pela descrição não convencional, mas talvez alguém perguntasse ‘que diferença faz’?
É o caro leitor que me responderá que as crianças logo enfadar-se-iam de ler tamanha bobagem, ou talvez ficassem totalmente interessadas com perguntas como ‘o que há na casa?’, ‘Quem é Juca?’ ou até ‘ele comeu a torta?’. Ainda não conclui meu questionamento, mas nem hei de concluí-lo, afinal as questões nunca cessam. Todavia lhos venho apresentar uma das artimanhas narrativas para prender um leitor, o suspense, seja ele ‘barato’ ou não.
Alguns leitores certamente já tiveram contato com algumas porcas ‘literaturas’ contemporâneas, onde o predomínio do suspense barato e malfeito é total, e vendem como água na esquina (?) do deserto. Peço que hoje larguem as tão preparadas pedras que trazem em suas algibeiras e escutem de forma aberta. (Nunca tratei de livros específicos para não causar antipatia, mas não posso evitar nesse momento onde muita gente perde seu tempo lendo algo que não deveria nem estar nas prateleiras).
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
O Homem e o pó – um dogma.
Primeiramente um pequeno esboço de um ser vegetal explicava quase todos os questionamentos da existência terrena, para uma época. “Explicaram-me, convenceram-me e decidi não questionar, a ignorância é muito confortável”. Quando uma situação proporciona estabilidade, conveniência e contentamento é difícil optar por saltar de para-quedas.
Já devo ter falado isso aqui: as perguntas têm início quando incomodam e doem. Ocorre que os galhos se ‘embaralham’ e nada mais é tão suscetível à explicação. As descrições passam a não ser tão bem aceitáveis como outrora, e o vertical passa para horizontal. Agora há troca de material genético, troca de informações (entenda como preferir) e a verdadeira evolução acontece.
“Não adianta escrever meu nome numa pedra, pois esta pedra em pó vai se transformar”¹. Infelizmente - pelo menos pra mim, que hoje vejo o apego como algo condicional e passível de desconstrução - tudo é substituível. No entanto, bem no fundo deste raciocínio tenho esperanças de estar escrevendo aqui grandes bobagens sem fundamento. Mesmo que o barroco venha me dizer que a firmeza existe na inconstância, ainda assim contos de fadas insistem em bater na porta com um convite de retorno à comodidade.
A efemeridade e a instabilidade das coisas do mundo é que compõem os pleonásticos fatos reais!
1. Nuvem Passageira (Hermes de Aquino).
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Tons de Cinza
Todos os dias somos bombardeados pela mídia, seja ela impressa ou não, com conceitos de bem e mal. O engraçado nesses conceitos é que eles são absolutos, você leitor, já parou para pensar que nos filmes, desenhos, livros, ocidentais em sua grande parte, o herói representa o conceito de bem, e ele é só aquilo, com suas ações bondosas, seus pensamentos e atitudes extremamente perfeitos enquanto o bandido é pura e simples expressão da maldade? Estranho pensar assim, deveras estranho. Mas se agora você levantou um pouco o seu par de olhos em direção de a parede e olhou a cor dela para ajudar a fluírem pensamentos dentro dessa cabecinha, você viu que é realmente verdade. Para aqueles que turvaram a visão e lembraram-se de filmes ou desenhos orientais, eu tiro o meu chapéu.
É fato que a cultura oriental não prega um bem ou mal absoluto, nem tenta (na grande e desenvolvida parte dos casos) implantar um conceito de ser e/ou agir. Nos desenhos, livros, etcetera, os personagens tem o tão famoso ying/yang dentro de si, não são comente o ying ou o yang. Essa metempsicose bem/mal dentro das pessoas é o que formaria o caráter, com base nele que poderíamos fazer nossas escolhas baseando-se em um lado, ou no entremeio dos dois. Essa não decisão entre o preto e o branco é o que torna as ações do ser humano, sempre carregadas de tons de cinza, nestas, nada é realmente benéfico, nem maléfico. Seria assim mesmo? Quem sabe você conheceu alguém, ou pode apontar alguém na história que teve uma atitude realmente branca, ou preta.
Assim como a felicidade (que já é outro assunto, até meio gasto), a bondade e a maldade não são plenas na vida de todos nós, quem de vossas excelências leitoras vive na plena, sublime, absoluta maldade/bondade? Não seja hipócrita como tantas vezes já foi, amigo leitor, sei que não vivemos assim. De forma certa poderia afirmar que o ying/yang se manifesta pura e simplesmente em ações do dia a dia, somos bondosos por conveniência e maldosos por prazer. A crueldade é clara nas manchetes, nas notícias de última hora, nas conversas sobre aquele ‘sujeitinho’ pedante do café. Tingiremos nossa vida de negro nessas atitudes e momentos, mas podemos acizentá-la com atitudes brandas, alvas, em momentos que nos tornam o que somos.
Tons de cinza se formam sobre o preto de acordo com a luz que é projetada sobre. Assim o leitor terminará o texto concordando que nenhum ser humano é bondoso em sua plenitude, porém poderá agir sempre de forma branda se iluminar-se corretamente. A luz que todos buscamos pode estar ali, no chamado ‘lugar ao sol’ que você, leitor, espera; pode estar naquele dia que você ajudou a sua vizinha chata a carregar as compras; pode estar até naquela vez que sua mãe lhe disse pra você passar a noite na casa da sua avó pra ajudá-la com os remédios. Enfim, cada um procura a sua luz onde acha que é possível encontrá-la mesmo que depois das frustrações acaba achando-a no lugar mais improvável, e tinge, assim, a sua vida com tons de cinza.
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Cartoons.
Infância!
Alguns sofrem metamorfoses, outros são produtos exatos de tempos remotos. Se bem que, inevitavelmente, metamorfoses provêm de cicatrizes. É agradável falar de tempos passados, porque aqueles que são lembrados tendem a ser imortalizados. A imortalidade e a permanência referida produzem a sensação de controle narrativo, apesar da consumação dos fatos.
Dos fatos: crianças possuem sempre perguntas fosforescentes. A adolescência surge e todas essas dúvidas são respondidas. Feliz do adulto que decide entrar no tal Reino e recupera todas aquelas interrogações. Fora a alusão forense, não pretendo defender idéias. Até porque não sou mais tão criança, a ponto de saber tudo.
O adolescente acha que possui todas as respostas, por isso a dor de ver apagado tudo que foi escrito com giz é muito maior do que em outros períodos. A chuva apaga o que é definitivo como tatuagem e as frustrações têm seu início. É um tempo em que futuro é uma palavra distante num espelho embaçado. Depois disso é importante que renasça uma esperança, daquela capaz de transformar as feridas em tragicomédia.
Após falar de surtos pueris tardios e ler uma obra infanto-juvenil da gaveta, é que tudo foi alumiado nessas reflexões. Algumas coisas nunca mudam: algumas perguntas terão sempre a mesma pertinência. Você desce as escadas, elas descem com você; você se atira na piscina e .... elas sabem nadar.
(Perdão por talvez não alcançar o esperado pela sugestão, falta-me bastante a tal da Simplicidade florida... )
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
_______________Rosa
Pessoas são animais estranhos. É cada tipo diferente de ser e pensar que nos proporcionam poder conhecer personalidades únicas. Autenticidade é o modo singular que diferencia uma pessoa das demais, modo esse que anda meio perdido nos rótulos e tribos da sociedade. Pense bem, leitor, quando foi a última vez que você conheceu totalmente único? Autêntico? Hoje, as pessoas vestem-se iguais, usam as mesmas marcas, os mesmos perfumes, usam as mesmas gírias para se encaixarem em algum grupo específico, para sentirem que o seu lugar ao sol se garante dessa forma. O que essas pobres criaturas não sabem é que no futuro, quando a época da ‘tribo’ já passou, elas serão somente mais restos secos de maquiagem antiga, sem nada a oferecer de novo para o mundo e, por conseguinte às pessoas. A autenticidade, a personalidade singular, o SEU jeito, é o que faz a grande diferença na pessoa que você é e na que você se tornará. Usamos camisetas de determinada marca porque aquilo vai ser bem quisto pelas outras pessoas, eu pergunto ‘e daí?’ Não é aquela velha história de sentir-se bem consigo mesmo para que as outras pessoas se sintam bem com você? Leitor querido, você que me acompanha nessa ainda curta jornada, me responda com sinceridade, você vive para você? Ou vive para os outros? Você escova seus dentes para mantê-los limpos e bem cuidados ou os escova para que os outros vejam? Usa determinado perfume para que as outras pessoas sintam seu odor ou usa porque te é agradável sentir aquele aroma? Talvez sim, talvez não, mas as respostas numa conversa cara a cara seriam sempre as mesmas, hipócritas. Todos diriam que vivem para si mesmos, que não ligam para o que os outros pensam, mas eu te digo, hipócrita leitor, não é isso que acontece.
Querem testar? Analisem dois dias da vida de alguém que você vê todos os dias, não precisa ser durante todo o dia, mas que a vejam com alguma freqüência, mãe, vizinho, amigo, e percebam a preocupação dessas pessoas sobre como o mundo as vê. É fácil notar, e assim você estará vendo como você também age. Esqueçamos os pré-julgamentos, os pré-conceitos, os pré-etceteras. Vamos partir para um pensamento mais limpo, livre, conhecimento auto-pessoal e interpessoal, vamos deixar de viver para os outros e curtir um pouco a si mesmos.
Rosa era uma bela moça, seus cabelos alourados descendo pelo pescoço branco e caindo nos seus alvos ombros lhe emolduravam o rosto como que se emoldura uma obra de arte. Os elogios para Rosa sempre eram dirigidos a sua beleza, ela aceitava todos, educadamente. Seu modo de vestir era singular, mas não fugia das convenções da moda. Rosa gostava de desenhar, fazia desenhos tão belos quanto sua própria beleza, traçava linhas precisas e sombreava com maestria, tentou mostrar alguns desses desenhos para amigas, para a mãe, mas ninguém nunca prestou muito atenção nisso, todos só queriam contemplar a beleza inigualável de Rosa. Inteligente como só ela era, habilidosa, aplicada, Rosa tinha tudo para ser uma menina prodígio, mas o valor que lhe dispensavam era tão somente relacionado à sua beleza que Rosa entristeceu. Seu semblante tornou-se lívido, seus olhos de uma sombra azulada, sua boca acinzentou, e mesmo assim a beleza dela não se esvaiu. Rosa era definitivamente infeliz, cobriu um rosto com um véu e fugiu. No mesmo dia a mãe de Rosa, chorosa, entrou no quarto da filha e sentiu sua presença, chamou familiares, amigos, e todos viram naquele amontoado de papéis colados pelas paredes, a expressão da pura beleza de Rosa, a sua beleza interior.
Todos somos belos, só precisamos largar mão de sermos iguais uns aos outros, a beleza é como a música, todo mundo tem ela dentro de si.