sábado, 21 de março de 2009

A poeira da escada.

Há poucas pessoas neste mundo que realmente não têm sonhos. Dentre as que sobram, as ‘sonhantes’, se dividem em vários segmentos. Um dos segmentos é aquele das pessoas que sonham somente com coisas alcançáveis, têm o ‘pé no chão’. E são infelizes.

Muito mais do que meras quimeras ou ilusões absurdas, os sonhos são mecanismos de fuga da cruel realidade para um ‘locus amoeno’, no qual podemos ser e viver o que quisermos. Algumas pessoas não conseguem entender o porquê desse lugar existir e não sobem pela escada de vidro que leva até ele, relutam no pé da escada enquanto vêem outras pessoas passando, subindo, aproveitando.

Leitor, qual seu maior sonho? Você pode alcançá-lo? Perguntas de difíceis respostas para alguns, de fáceis para outros. Os sonhos são de fato motivos pelos quais vivemos muitos de nós, sonhos materiais ou imateriais, possíveis e impossíveis. A beleza do sonho, o prazer de tê-los está realmente na luta que travamos para realizar os sonhos, a busca por um sonho é tão mais prazerosa do que o prazer de tê-lo facilmente. Buscar algo e ter o prazer de alcançar é deveras agradável.

Devaneado leitor, diga a mim qual o motivo pelo qual as pessoas infundir-se-iam ao pé da escada e somente olhariam para cima, para os outros que sobem e nunca subiriam para sonhar? Conheço uma pessoa, o leitor também conhece, ah! Como o leitor conhece... Essa pessoa tem sonhos também, mas sonha ao pé da escada, sonha em subir, pois já uma vez lá subiu. Todavia não alcançou seu sonho de imediato, e decepcionou-se. Desceu a escada e cá em baixo ficou.

Leitor, agora curioso leitor, pensativo leitor, que tenta de todo meio lembrar a pessoa que é assim, que conheces. Essa pessoa é você, eu, todos nós, e, a cada minuto que passa, mais alguém se infunde ao pé da escada junto a nós. Passou-se o tempo.

Olha aqui! Leitor! Subirei novamente a escada, mas, olhe novamente, deixo pegadas pela extensão dela, pegadas na poeira da escada, faz tempo que ninguém a usa. Suba comigo! Vamos sonhar novamente, com coisas impossíveis, coisas nem tão impossíveis, coisas muito possíveis; vamos sonhar com matérias e ‘imatérias’, amores e des-amores, alegrias e tristezas. Vamos sonhar com a vida, com a real vida.

E hoje leitor, que tal retirar a poeira da escada e alcançar o sonho que tínhamos de subi-la para lá encontrar um ao outro talvez num palácio de algodão-doce ou numa praça de balões coloridos, talvez pular numa piscina de gelatina. Ou, somente, lado a lado com quem mora no nosso coração.

Estou indo, e vou tirar a poeira da escada.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Por um novo truque de palavras.

Não que fosse mentira ou dissimulação, é que havia muros. Muitos deles tiveram exaustivas construções em tempos pausados e posteriormente retomados. Perpetuaram-se. Existe poesia numa cidade sitiada. As forças que a cercam foram processo de auto-criação, porque afinal de contas, bom seria mesmo se o sentir medo proporcionasse segurança.
Evidentemente, não há muito pra onde se mover. As opções são escassas e as limitações muitas. Um depende do outro, um espera pelo outro. Eles não sabem inventar acontecimentos. E quando sabem, porque fazê-los, visto que o outro, sempre o outro, pode não desejar compactuar com aquela poética criação absurda transcendental. A criação de um só. Ou de ambos. Mas isso é uma questão quase que de adivinhação, normalmente.
“Bem, mas não era apenas isso, e nem com essa simplicidade. Não era apenas isso: nesse ínterim o tempo ia passando, confuso, vasto, entrecortado, e o coração do tempo era o sobressalto e havia aquele ódio contra o mundo que ninguém lhes diria que era amor desesperado e era piedade [...]”.¹
A normalidade é uma necessidade provável na ausência da mensagem. No entanto, essa “ade” não se comunica bem com os grandes muros. O conflito incessante entre construção e destruição deveria ser lúdico, na medida em que algum projeto é arquitetado; nem sempre assim ocorre. Inseguranças notáveis, do jogo enquanto comportamento humano. De qualquer forma, You have my attention², sempre.
Obrigada, Clarice.


1. “A mensagem”, Clarice Lispector.
2. Copeland – You have my attention.

sábado, 14 de março de 2009

C’est la vie

Advertência: Livre-se de todos os seus pré-conceitos e fanatismos antes de começar a leitura da postagem, assim você conseguirá chegar ao âmago do assunto.

A linha da vida é escrita todos os dias por todos nós, cada pessoa continua sua linha desde o ponto inicial feito por sua mamãe, e, dia após dia risca segmentos de reta para que a vida continue. O que mais nos desperta curiosidade nessa linha é justamente os borrões que deixamos nas páginas, são ações que desencadeiam reações, nas quais é possível aprender muita coisa.


Já contei aqui uma história que aconteceu dentro do ônibus, aliás, vale ressaltar que os ônibus e as pessoas que utilizam esse meio de transporte podem todos os dias te dar exemplos variados de vida e/ou de atitudes. Caro leitor, volto agora a uma história que aconteceu dia destes, não é lá uma grande história, foi só um fato que me roubou tento.

Sentado num banco ali pelo meio do ônibus, mp3 no ouvido, cantarolando sem sons as tradicionais músicas pop que me acompanham por aí, e de olho em quem entrava e saía do ônibus alimentando meu péssimo costume de reparar nas pessoas. Pois entra um rapaz, em torno de 1,70 de altura, pele morena do sol, cabelos morenos, camiseta e jeans. E logo atrás entra outro rapaz, em torno de 1,80, pele branca, cabelos alvos, camisa de botões branca e calça cargo. O leitor mais atento agora dirá, mas como você se lembra de todos esses detalhes? Sinto cheiro de mentira! Ah! Incrédulo leitor, quando digo que tenho o péssimo costume de reparar nas pessoas, acredite, eu me lembro de todos os detalhes. Na minha frente havia um banco vazio (ou cadeira?) onde se sentou o rapaz moreno, em seguida o rapaz claro chegou e largou a bolsa para que o outro carregasse. Conheciam-se. Apesar da troca de palavras não ter sido praticada, falavam-se por breves olhares. A moça que sentada estava ao lado do rapaz moreno deu sinal de saída e levantou-se. O outro se sentou ao lado do que já estava sentado, pegou sua bolsa e respirou.

Volto ao ponto em que parei quando falava no início. Como já mencionei outra vez, as ações e reações das pessoas alteram nosso cotidiano, alteram nossa vida de alguma forma, e aqui onde parei é o início do borrão.
O rapaz de cabelos claros apoiou levemente a cabeça nos ombros do outro rapaz, e este deu lugar ao aconchego daquele. Em determinado momento houve um beijo tímido, no rosto, uma troca de carinho, algo diferente do que se costuma ver pelas ruas e esquinas. Era final de tarde, o cansaço dominava a todos dentro do ônibus, uma sensação mormacenta pairava no ar. As pessoas não perceberam o que lhe conto leitor, talvez, como já presenciei outras vezes, fizessem caras de poucos amigos, caras e bocas de horror, tudo advindo dos pré-conceitos arraigados na mente de cada um. Creio que a mensagem ainda não chegou ao fundo da sua mente, amigo leitor. Hoje, depois de todas essas voltas, quero falar de felicidade. Assunto já tão debatido, tão desgastado, algo que estamos cansados de ouvir, mas, que é presente em cada momento da nossa vida, pense bem, você é infeliz? Se for, a felicidade está presente na ausência de si mesma, confusão. Quero hoje questionar o direito e não a necessidade. Esta, sabemos que todas as pessoas têm, aquele, é o que todos devemos reivindicar. Eu tenho o direito de ser feliz? Ou o leitor pode julgar que não? Quem pode condenar as pessoas por elas serem o que são ou reivindicarem o direito de ser?

Leitor, a história que eu contei hoje serve para ilustrar como todas as pessoas podem ser felizes sem necessitarem de julgamento, de aprovação. Ou você é daquelas pessoas lupanares que andam pelas esquinas da vida agarrando-se com aqueles (as) perdidos (as)? Dentro do limite que a sociedade impõe, isto é, boa conduta, caráter, comportamento adequado, sem exageros sociais, apesar de ser hipocrisia dizer assim, pois muitos dos ditos líderes se encaixam nessas descrições; é perfeitamente possível ser e estar dentro do contexto social, infelizmente as pessoas é que impedem isso. Por que não deixar esses pensamentos deturpados para lá e cuidar da sua própria vida? Já é difícil manter o lápis no caminho certo, então não olhe para o lápis do outro ou você vai borrar o seu caderno, se o fizer, aprenda com o borrão para não repetir o erro novamente.

Não faça parte do ‘C’est La vie’ e continue dando com a cabeça na parede, você nunca vai conseguir derrubar a parede com ela. Só vai render dores e mais dores de cabeça para si mesmo.

Advertência tardia: Para os que não conseguirem livrar-se de tudo o que foi proposto, continue dando com a cabeça na parede, quem sabe um dia não consegue abri-la e arrancar tudo de lá. Para os que conseguiram se livrar do que foi proposto, deixe aqui, não vou devolver nada para vocês.

*Os posts aos quais me referi durante o texto são:
http://borradela.blogspot.com/2009/03/iogurte.html
http://borradela.blogspot.com/2009/03/era-uma-vez-um-emoticon-pensativo.html

quarta-feira, 11 de março de 2009

Kokoro

Era uma vez um emoticon pensativo. A moça que o usava tinha grande apreço por seu aspecto, sua mensagem visual e especialmente por sua cor amarela. Certa vez, numa das vezes em que o emoticon pensativo foi usado aconteceu de vir uma resposta inesperada! Um emoticon pensativo menina! Foi sublime o encontro dos emoticons, eles se completavam, ele com sua cabecinha amarela brilhante e ela com seu cabelo com amarradores. Vivem felizes até o presente momento.

Engraçado, muitas vezes pensamos em como será nosso futuro e sempre acabamos imaginando um futuro acompanhado, ou por acaso alguém imagina um futuro solitário? É divertido, apaixonado leitor, ver o quanto podemos nos enganar pensando que o coração tem controle, quando você menos espera, foi. Li num blog(1) que o amor é um pacote de jujubas, no qual podemos pôr a mão e pegar uma ao acaso, ou ficar sempre escolhendo e acabar com o mesmo gosto na boca, este nem sempre é muito saboroso.
Quais são as necessidades básicas do ser humano? Comer, respirar, fazer suas necessidades? Poderiam surgir inúmeras respostas pra esta questão, mas, eu gosto de responder que as relações sociais são a necessidade básica essencial. O ser humano é certamente complicado demais para tentar descomplicar a si próprio. O coração bate no ritmo certo para que o sangue circule e oxigene o corpo, mas também é ele o ‘indivíduo’ responsabilizado por vários dos aborrecimentos que afligem as pessoas. O que há de tão especial nesse tal de ‘coração’?

O coração é a poesia, não se define, não se explica, não tem limites, mas, tem ritmo, tem compasso, tem medidas. É mutável e imutável, é bom e é mau, é feliz e é infeliz. Alegria e tristeza povoam esse órgão que ora causa dor, ora é analgético. Irado leitor, quiçá saberás me dizer o quão doloroso pode ser negar ao coração sua voga, sua essência. Esse tipo de negação pode acontecer, ser comum, mas não deve em nenhuma caso ser levado adiante. Que tal livrar-se de amarras e abrir o coração? Em bom japonês se diria:


Kokoro wo sotto hiraite gyutto hiki yosetara
Todokuyo kitto tsutau yo motto sa aa (2)

.....................bem......................mau..............
.....................sentir.....................agir.......
.............coração...........................bondade.......
...............verdade...............................carinho....
............respeito........................sinceridade........
.........................vontade.........................
.....falar....................ouvir..........................
..entender...................compreender...................
..pensar....................pensar.........................
..silêncio................silêncio........................


......
(kokoro= coração)
(2) http://letras.terra.com.br/naruto/119259/ (Abra um pouquinho seu coração e traga seu parceiro(a) perto de ti, seus sentimentos farão seu parceiro(a) se sentir melhor). (sic)

sábado, 7 de março de 2009

Iogurte

Penso que rotina faz parte da vida de todos. As nossas ações, reações, divisões e pensamentos são deveras instrumentos importantes dentro da nossa rotina, e, algumas coisas alteram esta, as ações, reações, divisões e pensamentos de outras pessoas.
Como de costume entrei no ônibus, lotado, pessoas esmagando-se, empurra aqui, empurra ali, puxa a sineta, um espirro, um celular tocando, um nenê chorando, o cobrador tossindo, tudo que de normal acontece em um ônibus lotado. Alguém já sentou nas cadeiras reservadas? Todos que usamos ônibus conhecemos aquelas cadeiras antes de passar a catraca, reservada para idosos, deficientes, gestantes, obesos, etc. Pois eu sento nelas, quando existe alguma sobrando, mas tenho em mente sempre, ressalto que sempre, devo deixar um deficiente, um idoso, uma pessoa que necessite sentar, não só por estar reservado, mas por educação. Estava o ônibus cheio como citei, e todas as cadeiras estavam lotadas, fiquei pela frente mesmo, não havia maneira de passar a catraca. Pois sobe para o ônibus uma senhora idosa, em torno de 70 anos e um senhor, aparentemente saudável e que não se enquadrava na categoria ‘acima de 65 anos’. A senhora com um pouco de dificuldade, viu uma pessoa levantar-se (que estava ali só porque não tinha outra necessitando) e lhe oferecer ajuda para sentar, a pegou pela mão e a ajudou a sentar, a ajeitar as coisas no chão, nada mais que a obrigação que temos, mas também uma grande gentileza. E no outro lado, onde eu estava, havia uma mulher sentada, mulher esta que nem cogitou a hipótese de levantar-se para a tal senhora se sentar. O senhor que entrou naquele momento perguntou se essa senhora necessitava daquele banco, se tinha necessidades especiais. No início não entendi o motivo da pergunta, mas, a mulher respondeu ‘vou até o bairro tal’ num tom grosseiro, mal-educado, típico de gentinha de baixa laia. O senhor ao ouvir essa resposta, puxou de seu bolso uma carteirinha, daquelas que as pessoas com certo grau de deficiência física têm. Mostrou e falou ‘eu sou deficiente físico e esse lugar está reservado para mim’. Vibrei naquele momento, a total afirmação, a defesa do direito, achei estimulante a atitude daquele senhor. A tal mulher levantou-se e falou ‘pois toma esta merda’ e bufou como um quadrúpede. Subiu-me o sangue e só não entrei no mérito da discussão para que não ocorresse uma briga. Transpus a catraca e me ative ao ferro da escada, esperando o destino final. São voltas e voltas que acabei de dar e enfastiei o leitor, mas continue, estou certo de que entenderão essas minhas voltas, delicados leitores.
Pergunto: o que o leitor concluirá disso tudo? Que a educação é importante?
De fato, a educação é importantíssima e é um legado que devemos deixar para as gerações futuras, ensiná-los a respeitar a verdade, os direitos, os deveres, etc. São estas ações tão contrárias que vivenciamos nos mostrando o quão podre muitos seres humanos se tornaram e como eles educam seus filhos e netos. As pessoas estão tão focadas no hoje, no agora, no presente, que esquecem a necessidade do ‘pensar no futuro’. O futuro não só nos aguarda como também aguarda quem amamos e respeitamos; Como então, pode existir atitudes tão baixas, tão animalescas (que me desculpem os animais), tão vis, egoístas? Será que o ser humano não percebe? Percebe. É óbvio que o ser humano percebe, ao ponto de ser hipócrita em sair por aí pregando a paz, pregando a igualdade quando só está pensando no seu próprio rabinho e enfeitando a sua fuça com frivolidades e coisas ordinárias. Alguém agora pode até levantar a bandeira que diz: ‘Calma aí, você está exagerando’, mas o benevolente leitor há de convir que só o exagero chame a atenção desses reles. Por outro lado, há pessoas maravilhosas espalhadas pelo mundo, estas não necessitam de aprovação, somente precisam de alguém para ajudar, ou para apoiar, pessoas que lutam, guerreiam pelos direitos do próximo e estão dispostas a ir até o fim por isto. É amigo leitor, a vida não é fácil, mas alguém um dia disse que ela é?
Todos esses acontecimentos me fazem questionar a necessidade que o ser humano vê no ‘ser feliz’, esse tal sentimento que todos buscam e poucos dizem ter, o mais interessante que dia deste eu li uma coluna no jornal, na qual o cronista contava que se conhecesse o cara que inventou o ‘ter uma vida feliz’, ia dar umas belas bolachas nessa pessoa, pois que raios são esses de ‘ser feliz’? Pedia que nos acostumássemos com a tristeza e que fossemos felizes dessa forma (?!). Divertido, não? Pois então, fatal leitor, não é que a felicidade pode existir? Deixo no ar dessa vez que cada um tente encontrar a sua felicidade, lembrando sempre que na felicidade, para ser completa, não existe a necessidade de pisar, nem passar por cima de ninguém, sejamos todos felizes consigo. Então vamos tomar iogurte.

(pense em Iogurte como um flavorizante)


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